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Aos 94 anos, farmacêutico é um dos mais antigos em atividade no País

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Aos 94 anos, ‘Seo’ Walter, exemplo de dedicação e amor à profissão, está à frente da Farmácia Brasília, na Ponta da Praia, desde 1957.

Pentes de todas as cores e formas se destacam entre os produtos oferecidos

Vidros – hoje vazios – relembram a pequena indústria farmacêutica de onde saíram milhares de medicamentos, pomadas e até supositórios, lembra ‘seo’ Walter. Foto: Nando Santos

Foto: Nando Santos
Ao lado das balanças onde realizou milhares de medicamentos, ‘seo’ Walter é um dos profissionais mais antigos em atividade no Brasil. Foto: Nando Santos

Quando o farmacêutico Walter Henrique nasceu, em 10 de dezembro de 1925, o presidente do Brasil era Arthur da Silva Bernardes, que hoje empresta o nome da refinaria da Petrobras em Cubatão.

Na Espanha, neste mesmo dia, ocorria a 8ª aparição de N. Sra de Fátima à irmã Lúcia.

Quase um século depois, o garoto na pequena Potirendaba, no interior paulista, cidade vizinha a São José do Rio Preto, virou uma referência para muitos que o procuram (e o procuraram) ao longo das décadas na sua tradicional farmácia Brasília, na Ponta da Praia.

Ela foi inaugurada em 1957, na Rua Egídio Martins, 234, antes mesmo da Capital Federal, inaugurada três anos depois pelo então presidente Juscelino Kubitschek.

Ainda que a visão não seja a mesma de outrora, assim como a audição, a lucidez do ‘seo’ Walter, como é carinhosamente chamado pelos clientes, impressiona.

Afinal, por suas mãos, passaram milhares de pessoas, seja para pedir medicamentos, fazer curativos, comprar produtos no seu estabelecimento e até tomar injeções – algo comum no passado, hoje mais restrito diante de tantas proibições.

“Agora não pode nada”, reclama.

Para Santos

Ainda menor, resolveu sair da sua cidade natal rumo a Santos (entre 1940/1941, diz, confirmando a boa memória).

Era a Segunda Guerra Mundial, mas o jovem garoto resolveu se arriscar rumo ao litoral, próximo ao porto – porta de entrada de imigrantes que fugiam da guerra na Europa.

Vislumbrava que aqui terá campo para atuar. E crescer.

Aos poucos, foi aprendendo o universo das fórmulas, balanças e sais que compunham os medicamentos manufaturados.

Chegou a ter duas farmácias antes de inaugurar a atual, que se tornou uma referência para os moradores da Ponta da Praia e imediações.

Hoje, visitar o local é o mesmo que voltar ao passado, com seus azulejos brancos e móveis de madeiras perfeitos feitos com embuia e canela.

“Os marceneiros falaram que eles iriam durar o resto da vida”, lembra.

“Olha como elas estão intactas”, enfatiza, sorrindo.

Tanto o marceneiro, como os filhos dele que fizeram a obra já morreram, lembra o velho farmacêutico.

Mas ele continua firme e forte, assim como as nobres madeiras.

No alto da farmácia, entre as palavras que dão nome ao estabelecimento, um relógio de madeira informa a hora, que parece não passar no local.

Afinal, para que a pressa?

Isso porque, para ‘seo’ Walter, sempre há tempo para prosear.

Seja com clientes que perguntam-lhe sobre algum produto, seja para pedir algum medicamento.

Ou para aplicar injeção ou fazer um curativo.

Ou simplesmente ver se aquele chocolate a mais contribuiu para a alterar o peso na balança – agora eletrônica. (até pouco tempo, o modelo era aquele antigo, com ponteiro mecânico).

Relíquias

Diferente das grandes redes – “que acabaram com as farmácias”, reclama – na Brasília  os clientes não se deparam com o ‘shopping de remédios e produtos de beleza’ comuns nas drogarias de redes.

(Vale um lembrete: a origem do nome foi uma sugestão do seu antigo ‘guarda-livros’ Álvaro Fontes, que sugeriu a Walter que homenageasse a futura capital do País, entregue em abril de 1960)

Cortadores de unhas, pentes de plásticos, pomadas, talco Granado, enfim… produtos que dificilmente alguém se depararia em uma drogaria de rede, pela menos na entrada do estabelecimento.

“Fiquei dois meses doente e a farmácia sentiu um pouco. Mas estou de volta”, diz, que divide os trabalhos com um funcionários (já foram três) e um neto.

Afinal, com sua conversa e riso fácil, relembra as relíquias, curiosidades e equipamentos históricos, como balanças de precisão e vidros (vazios) de componentes.

“Aqui eu fiz muito xarope para tosse, talco, pomadas, cápsulas e até supositórios”, lembra ‘seo’ Walter.

Entreposto de pesca

Os tempos, porém, são outros.

“O fim do entreposto de pesca (local de embarque e desembarque de peixes) arruinou a Ponta da Praia”, enfatiza.

Ele lembra o tempo que os pescadores passavam na sua farmácia para comprar o ‘extratinho’ – uma espécie de perfume, com fragrância parecida ao Leite de Rosas – para fazer a diferença junto às moças que trabalhavam na Boca de Santos, na região do Paquetá.

“Bons tempos aqueles”, recorda.

Chegava a atender entre 150 a 200 clientes por dia, número que caiu para mais da metade nos tempos atuais.

Foi assim que ele conseguiu manter a família e seus quatro filhos – dois já falecidos.

Viúvo, faz da farmácia sua namorada. Namoro que dura 62 anos.

Tanto que pode ser visto das 8 às 19 horas, sempre de segunda a sábado.

Aos domingos, descansa, “pois ninguém é de ferro”.

Assim,  fica assistindo TV e, quando possível, alguma partida do Santos FC, seu time do coração.

Chegou a morar no andar superior da farmácia, mas depois de tantas madrugadas que era obrigado a acordar para atender clientes que traziam familiares e crianças, acabou mudando-se, ainda que no mesmo bairro.

“Atendi muitas vezes durante a madrugada aplicando injeções em crianças e adultos”, relembra.

Para poucos

Apesar do tanto tempo de trabalho, ele nem se importa ao ser informado que é um dos farmacêuticos – ou oficial de farmácia, como eram os profissionais que atuavam na área antes da regulamentação da profissão – mais antigos em atividade do País.

O Conselho Regional de Farmácia não bate o martelo que ‘seo’ Walter é o mais antigo.

Mas certamente está nesta seleta lista.

Um orgulho para poucos.

Afinal, sua farmácia é a 57ª mais antiga (seu registro é número 57).

Mas, isso pouco importa.

Afinal, para ‘seo’ Walter o mais importante é estar com as portas abertas para atender os pacientes que buscam apoio.

Ou simplesmente atenção e cuidados para combater uma gripe ou uma febre.

Ou qualquer outra doença que ele pode ajudar a minimizar as dores.

Ou para quem quiser, apenas para prosear e conhecer as relíquias históricas que ele ainda guarda naquele antigo imóvel da Ponta da Praia, em Santos, no litoral paulista.

Fonte: Boqnews

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