“Uma empresa que procura transformar indivíduos em equipas, integrar o talento com a tecnologia e promover uma atitude positiva em relação à mudança”. A descrição é de Gonçalo Luís, Innovation Manager no Hospital da Luz Learning Health, que ao Link To Leaders falou do percurso de cinco anos deste projeto “que quase nasceu como uma start-up, embora incluída num grande grupo”.
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Desde que começou a dar os primeiros passos em 2015, que o Hospital da Luz Learning Health se posicionou como um early adopter e um potenciador de inovação. Tem feito da tecnologia e da inovação ao serviço dos cuidados de saúde, o fator de diferenciação no seu setor de atividade, procurando criar um ecossistema de inovação aberta e de partilha de conhecimento, como frisou Gonçalo Gonçalo Luís, responsável de Inovação do Hospital da Luz Learning Health.
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Integrados numa das principais redes nacionais de hospitais privados e com acionistas internacionais, o Hospital da Luz Learning Health colabora ativamente com vários parceiros a nível mundial, desde as principais universidades e institutos de investigação nacionais e internacionais, a sociedades científicas, indústria farmacêutica ou start-ups.
Em entrevista ao Link To Leaders, Gonçalo Gonçalo Luís falou do percurso do projeto, de como a pandemia obrigou a reorganizar processos de trabalho, e ainda dos planos futuros. Destacou ainda a importância da health tech como motor de inovação bem como a atenção que dão ao trabalho desenvolvido pelas start-ups nacionais, nas quais, aliás, têm vindo a investir nos últimos anos.
O Hospital da Luz Learning Health dedica-se à formação profissional, investigação e inovação na área da saúde. Como surgiu este projeto?
O Grupo Luz Saúde, desde a sua criação em 2000, sempre procurou alcançar os melhores resultados de saúde na perspetiva dos doentes através de um diagnóstico e tratamento rápido e eficaz, pela prática de uma medicina de excelência. Para isso, desde o início da sua atividade posicionou-se no setor da saúde como sendo um dos primeiros a adotar alta tecnologia, inovadora e diferenciadora na prestação de cuidados de saúde. Em 2015, numa perspetiva de se posicionar não só como um early adopter de inovação, mas também como um potenciador de inovação, nasceu o Hospital da Luz Learning Health. Uma empresa que procura transformar indivíduos em equipas, integrar o talento com a tecnologia e promover uma atitude positiva em relação à mudança.
Alguma destas vertentes assume especial prioridade nos dias de hoje?
A formação, investigação e inovação caminham lado a lado e, inevitavelmente, estão dependentes entre si. Estes são os nossos pilares de atuação que se encontram assentes num Centro de Simulação localizado no Hospital da Luz Lisboa. Todas estas vertentes são importantes e necessárias para conseguirmos pôr em prática a nossa missão. Não consideramos prioritário algum destes pilares individualmente, mas sim o desafio de conseguirmos interligar todos entre si. Apenas assim acreditamos que conseguiremos marcar a diferença e preparar os profissionais de saúde para o futuro da medicina.
“(…) conseguimos financiamento para um grande projeto (…) que pretende desenvolver soluções de Inteligência Artificial para suporte à decisão médica em doentes com comorbidades.”
Quais foram até agora as maiores conquistas nas vossas três áreas de aposta?
Nos últimos cinco anos temos feito o nosso caminho e já conseguimos várias conquistas das quais nos orgulhamos muito. A primeira, e que serviu também de motor de arranque para este projeto, foi o financiamento de um PT2020 para a construção do Centro de Simulação num incentivo que ultrapassou 1 milhão de euros. O centro neste momento já se encontra funcional e totalmente equipado com mais de 125 simuladores.
Outra grande conquista que destaco foi o primeiro investimento da Luz Saúde na UpHill, uma start-up que neste momento é um dos nossos maiores parceiros em todas as nossas áreas de atuação.
Mais recentemente, já no ano de 2020, conseguimos financiamento para um grande projeto em parceria com várias instituições portuguesas e estrangeiras de referência, que pretende desenvolver soluções de Inteligência Artificial para suporte à decisão médica em doentes com comorbidades. Entre outros projetos para os quais conseguimos também financiamento externo.
Qual pode ser o contributo do Hospital da Luz Learning Health para colocar a inovação portuguesa em saúde no panorama internacional?
A nossa visão assenta num modelo de partilha de conhecimento e trabalho em rede com diversos parceiros. Estamos integrados numa das maiores redes de hospitais privados do país e com acionistas internacionais. Colaboramos ativamente com vários parceiros a nível mundial capazes de referenciar o Hospital da Luz Learning Health como potenciador de inovação, desde as melhores universidades e institutos de investigação nacionais e internacionais, sociedades científicas, indústria farmacêutica ou start-ups. O Grupo Luz Saúde é parceiro com a Universidade Católica e Universidade de Maastricht num curso de medicina muito prático e com treino simulado desde o 1.º ano, onde o nosso centro de simulação terá um papel muito importante na formação dos futuros médicos. O nosso conceito é altamente diferenciador, capaz de despertar o interesse em qualquer parte do mundo.
“Neste espaço [Innovation Lab] não há limites e as paredes são invisíveis, não há certo e errado, boas e más ideias ou opiniões válidas e inválidas”.
E qual o papel do vosso Innovation Lab neste processo?
O Innovation Lab foi um conceito que surgiu com o intuito de ser um espaço onde podemos explorar novos conceitos e ideias, incubar novos produtos, testar novas soluções e por fim, mas não menos importante, atrair e reter talento. Neste espaço não há limites e as paredes são invisíveis, não há certo e errado, boas e más ideias ou opiniões válidas e inválidas. Em inovação existe brainstorming, design thinking e problem solving e é isso que queremos recriar neste ambiente. Muitas vezes temos decisões para tomar e vamos para este espaço discutir ideias, partilhar opiniões. É assim que acreditamos que se trabalha em equipa e que conseguiremos chegar aos melhores resultados. Queremos envolver mais colaboradores da Luz Saúde, parceiros, clientes, para criarmos um ecossistema de inovação onde se possa trazer valor para o setor da saúde e para os que dele fazem parte.
O Hospital da Luz Learning Health trabalha com diversos parceiros, desde a indústria farmacêutica a universidades, sociedades científicas, empresas de formação…. Quais as sinergias mais relevantes destas parcerias?
Como organização acreditamos que não podemos fazer o nosso percurso sozinhos. Por isso temos, ao longo dos anos, criado várias parcerias que nos permitem potenciar o melhor de nós e dos nossos parceiros. Procuramos criar um ecossistema de inovação aberta, de partilha de conhecimento, que permita elevar a qualidade dos resultados. Que permita que cada um de nós aprenda e cresça enquanto indivíduo em particular ou inserido numa organização. Este é o caminho que queremos seguir para conseguirmos atingir a excelência que procuramos em tudo o que fazemos. É um desafio muito grande e que eleva em muito a nossa responsabilidade. Criar estas ligações permite-nos tirar o melhor partido em todos os projetos que realizamos pela relação que estabelecemos com os nossos parceiros.
“Já participámos em seis programas de aceleração, analisámos mais de 120 start-ups e fizemos sete estudos piloto”.
Mantêm uma relação de proximidade com o universo de start-ups. Quais foram até agora os vossos principais investimentos neste setor?
Já participámos em seis programas de aceleração, analisámos mais de 120 start-ups e fizemos sete estudos piloto. Neste momento, alguns dos estudos pilotos que estamos a realizar passarão possivelmente a ser integrados na nossa estrutura. Este é um processo bastante complexo e que envolve muitos recursos da nossa rede. Para além de alguns elementos do Hospital da Luz Learning Health temos sempre colaboradores da Luz Saúde, das áreas de negociação, operações ou clínicas, a avaliar connosco as start-ups.
O primeiro contacto das start-ups é tipicamente feito por nós em que fazemos uma avaliação tecnológica da solução, mas a análise em termos de negócio de um produto/serviço novo é realizada pela equipa de Novos Negócios da Luz Saúde. O investimento em start-ups implica que a solução que apresentam seja altamente estratégica para o grupo, diferenciadora e disruptiva. Foi o que aconteceu com a UpHill, a primeira start-up em que a Luz Saúde investiu e que mantém uma relação muito próxima connosco em todas as nossas áreas de atuação.
O Luz Learning Health também participa em programas de aceleração como o Protechting. O que procuram neste tipo de colaboração?
O sector da saúde está em constante evolução e as mudanças ocorrem em ritmos muito elevados. As parcerias em programas de aceleração ajudam-nos a perceber as tendências futuras no setor. Para onde estão a caminhar os jovens empreendedores? Quais as soluções que estão a desenvolver? Quais são os novos unicórnios?
Fazemos o nosso trabalho de casa e procuramos estar sempre atualizados e na linha da frente, mas nem sempre nos é possível acompanhar estas evoluções ao ritmo que elas acontecem. Estes programas ajudam-nos a perceber quais são as tendências e, mais uma vez a alavancar sinergias, entre todas as partes. Nós enquanto organização inserida numa rede de hospitais, facilitamos a testagem de soluções e os estudos pilotos. Por outro lado, as aceleradoras têm know how para ajudar as start-ups nas mais diversas vertentes incluídas num processo de criação de uma start-up. Isto facilitará não só o trabalho de scouting e gestão de start-ups, que estas entidades fazem tão bem, mas também para nós próprios sermos cada vez mais criteriosos na nossa análise.
“É importante trazer estas start-ups junto dos profissionais, envolver na tomada de decisão e, inevitavelmente, concluírem que caminharão, de braços dados, com estas tecnologias na construção do futuro da medicina”.
Na sua opinião, qual o papel que as start-ups, com destaque para as healthtech, podem desempenhar na criação de novos conceitos e soluções em saúde, na evolução da medicina?
O papel das start-ups é cada vez mais importante. Segundo o que temos investigado, das start-ups que temos avaliado e para onde apontam as tendências, as healthtech têm vindo a ser (e serão) um grande motor de inovação no setor da saúde. Estas soluções são normalmente geradoras de grandes quantidades de dados com informação clínica proveniente, por exemplo, dos Electronic Health Records (EHR) ou dos Personal Health Records (PER). A extração e tratamento destes dados podem ser potenciadoras de várias soluções e evolução na medicina no sentido em que nos devolve informação importante nos campos do diagnóstico precoce através de algoritmos de Machine Learning, por exemplo.
No entanto, este é um caminho que ainda estamos a começar a percorrer. As barreiras que encontramos têm sido algumas, quer no que diz respeito à complexidade dos dados que são extraídos, bem como a aceitação e o envolvimento dos profissionais de saúde nestas temáticas. É importante trazer estas start-ups junto dos profissionais, envolver na tomada de decisão e, inevitavelmente, concluírem que caminharão, de braços dados, com estas tecnologias na construção do futuro da medicina.
Como se enquadra aqui o Prémio Luz Inovação?
O Prémio Luz Inovação permitiu que todos os colaboradores identificassem problemas e criassem soluções. O objetivo primordial era que toda a nossa rede entrasse connosco no espírito de inovação que queremos trazer para o Grupo Luz Saúde. Como já referi, não podemos fazê-lo sozinhos, cada um de nós individualmente ao contribuir com alguma ideia vai fazer com que o global seja muito melhor. Com o Prémio Luz Inovação conseguiu-se isso mesmo, novas ideias alinhadas em projetos estratégicos da Luz Saúde de forma a promover ainda mais a evolução de uma medicina de excelência. Não podíamos estar mais satisfeitos, a recetividade foi incrível, com cerca de 500 ideias submetidas logo na 1.ª edição. Foi o meu primeiro grande projeto na Luz Saúde e no qual sinto um orgulho enorme por ter feito parte.
“Nos momentos iniciais da pandemia tivemos de gerir situações que fugiam ao que estávamos habituados porque surgiram de forma inesperada”.
Enquanto Innovation Manager quais são os seus maiores desafios nos dias de hoje, numa altura em que pandemia domina a agenda e em que a saúde, com a inevitável procura de soluções e de constante inovação, é a preocupação dominante dos portugueses?
Os desafios foram e continuam a ser muitos. Nos momentos iniciais da pandemia tivemos de gerir situações que fugiam ao que estávamos habituados porque surgiram de forma inesperada. Tivemos de ser rápidos, trazer soluções para cima da mesa que eram pouco ou nada utilizadas, mas que se tornaram essenciais nessa altura. Foi necessário reorganizar equipas e até hospitais, adaptar metodologias de trabalho, estabelecer novas prioridades. Começaram a surgir muitas soluções, umas mais promissoras do que outras, algumas mais práticas que outras, mas tínhamos de ser pragmáticos, rápidos na decisão e convictos do que era melhor para ajudar os profissionais de saúde. Hoje em dia, o desafio não diminui. Com a pandemia a dominar a agenda, a inovação na medicina ficou muito centrada nesse tema. Soluções que estavam a ser desenvolvidas para determinada patologia passaram a ser adaptáveis e a ter o foco na Covid-19. Neste momento é crucial retomar a procura de soluções para as restantes patologias. É necessário encontrar um equilíbrio.
“É necessário termos organizações e equipas preparadas para colocar soluções no terreno de um dia para o outro e capazes de agir rápida e pragmaticamente”.
Atualmente, os temas saúde e inovação vivem de mãos dadas. Que tendências antevê para esta relação?
A tendência será as coisas continuarem a acontecer muito rapidamente. É o que temos vindo a observar ao longo dos anos, e que este ano em particular se intensificou. O que é hoje, amanhã pode não ser, e acho que todos ficámos mais sensíveis a isso depois do ano de 2020. É necessário termos organizações e equipas preparadas para colocar soluções no terreno de um dia para o outro e capazes de agir rápida e pragmaticamente. Estas soluções têm de ir ao encontro do que os doentes precisam. O doente tem de estar sempre no centro e envolvido em profissionais de saúde ágeis e capazes de agir com rapidez e em equipa, suportados em tecnologias inovadoras que lhes permitam fornecer o melhor diagnóstico e tratamento, assim como, assegurar a melhor monitorização e gestão da sua própria doença.
Que concretizações gostaria de ver o Hospital da Luz Learning Health alcançar?
De imediato gostaria que todos os que temos feito parte deste percurso consigamos olhar para trás e estar orgulhosos do que construímos. Sabemos que temos em mãos um projeto bastante ambicioso, com muitos desafios que nos têm dado muita luta e vontade de querer sempre ir mais além. Nós quase nascemos como uma start-up, embora incluída num grande grupo como a Luz Saúde, e é muito gratificante ver o nosso crescimento e as conquistas alcançadas ao longo dos últimos anos. No futuro, gostaria que nos vissem como uma referência internacional em formação avançada, investigação e inovação no sector da saúde. Uma organização capaz de criar e partilhar conhecimento, capaz de fazer diferente, de disseminar a sua visão por todos os profissionais de saúde, e acima de tudo, criar valor para os doentes.
Fonte: Link to Leaders