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Brasil teve 26 mil casos de pólio de 68 a 89, e não registra casos há 30 anos

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O Ministério da Saude emitiu alerta nesta terça (3) para a baixa vacinação contra a paralisia infantil: 312 cidades não vacinaram nem metade das crianças menores de 1 ano em 2017 . Embora não haja casos atuais de poliomielite, a preocupação do ministério se justifica por ao menos três motivos:

Foram 26.827 casos de paralisia infantil entre 1968 e 1989 — quando o último caso foi registrado na Paraíba. Há um pico em 1975, com 3.596 casos. Outro ano com muitos registros foi 1979, com 2.564 infecções. O Ministério da Saúde registra os números como casos — mas, para a historiadora Dilene Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) , o dado provavelmente indica as sequelas deixadas pela doença.

“O dado era registrado quando havia sequela, como a paralisia. E, para cada registro de sequela da pólio pelo menos outras 99 infecções haviam acontecido” — Dilene Nascimento (Casa Oswaldo Cruz).

“Até a primeira metade da década de 1980, a poliomielite apresentou alta incidência no Brasil, contribuindo, de forma significativa, para a elevada prevalência anual de sequelas físicas, observada naquele período” — Ministério da Saúde.

Casos da poliomielite no Brasil (1968-1989)

Último registro aconteceu em 1989, na Paraíba. Nesse ano, o Brasil registrou 35 casos

Fonte: Ministério da Saúde/GT_PFA/Pólio/COVER/SVS/MS

O maior número de casos era registrado no Nordeste e no Sudeste — seguindo também a proporção da população nesses estados. Desde 1989, quando foi registrado o último caso, o Brasil levou mais 5 anos para estabilizar a circulação do vírus: finalmente, o certificado de eliminação ocorreu em 1994. Ele foi emitido para toda a região das Américas pela Organização Mundial da Saúde.

Agora, o governo está tentando aumentar as taxas de cobertura vacinais para que a poliomielite não tenha o mesmo destino do sarampo, que voltou a circular após a eliminação. Uma combinação de casos importados da Venezuela e de brasileiros não-imunizados está contribuindo para um surto no Norte do Brasil.

Para a historiadora da Fiocruz, a poliomielite está atrelada fortemente à cultura de vacinação no Brasil e ao seu desenvolvimento. A erradicação da doença — e suas temidas sequelas — podem ter abalado a organização da vacinação por aqui.

“Quando chegou a vacina da poliomielite por aqui, toda a mãe queria vacinar. Todo mundo ia atrás da vacina. A imagem da paralisia era muito forte” — Dilene Nascimento, historiadora.

Casos de poliomielite no Brasil por região (1968-1989)

Fonte: Ministério da Saúde/GT_PFA/Pólio/COVER/SVS

Primeiros registros são do Egito antigo; primeiros sintomas parecem com gripe

A poliomielite é causada por um vírus e historiadores estimam que os primeiros registros tenham surgido no Antigo Egito, durante a 18ª dinastia (1580-1350 AC). A principal via de transmissão é oral-fecal e, por isso, más condições sanitárias também estão associadas a um maior número de infectados.

O vírus da pólio vive no intestino. A maior parte das infecções são subclínicas e não apresentam sintomas. O quadro é similar ao da gripe com febre e dor de garganta, mas há náuseas, vômitos, constipação e dores abdominais.

Só 1% dos infectados vão desenvolver a forma paralítica da doença, que pode causar sequelas permanentes e insuficiência respiratórias. Segundo a Fiocruz, a paralisia ataca os membros inferiores muitas vezes de forma assimétrica, com apenas um dos membros sendo afetado.

A paralisia começa a ser percebida com perda de força nos membros atingidos e perda dos reflexos.

A pólio no Brasil e a superação da doença

No Brasil, os primeiros casos foram identificados em artigo publicado por Fernandes Figueira em 1911, informa Dilene Nascimento, historiadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). “A partir da década de 1930, começaram a surgir epidemias importantes em vários estados do Brasil”.

A vacina chegou na década de 1950 — e a ideia nacional de uma campanha foi em 1971, explica Dilene. “As campanhas de vacinação antes disso eram esparsas, com cada estado com sua experiência”.

Dilene explica que a assistência à crianças era precária e que não havia a ideia de vacinação disponível em postos de saúde.

“Não havia essa ideia de postos de saúde no Brasil. Não tinha SUS, não tinha vacina disponível o ano inteiro, não tinha nem campanha nacional”.

“O controle da poliomielite foi uma vitória do setor saúde. Em 1979, o doutor Waldyr Arcoverde levou médicos sanitaristas e muita gente com experiência em controle de vacinação e doenças infecciosas para o Ministério da Saúde. O Brasil venceu a doença com experiência e gente disposta”, relata a historiadora.

Na época, mais de um tipo de vacina era aplicado no mundo. O Brasil chegou a ter dois tipos de vacina até que optou pela vacina oral, desenvolvida pelo pesquisador Albert Sabin, e que tinha a recomendação da Organização Mundial de Saúde e da Associação Médica Americana.

Foi apenas a partir de 1971 que uma campanha nacional foi colocada em ação. Até este ano, as campanhas de vacinação contra a pólio sofriam com problemas de distribuição e eram com frequência descontinuadas.

Dilene explica que foram realizados dias nacionais de vacinação, com a indicação de vacinar todas as crianças menores de 5 anos de idade, a partir dos anos 1980.

“Com esses dias nacionais de vacinação, a cada foram diminuindo os casos de poliomielite. A vacinação era feita em todo o lugar. Escola, igreja, associações…”

O controle da poliomielite, indica a historiadora, ajudou a estruturar todo o plano de imunizações do país. “A gente tinha a experiência da varíola, mas a pólio trouxe vacinas em postos de saúde e campanhas nacionais”, explica Dilene.

Em 1973, na esteira da campanha contra a poliomelite, foi lançado o Programa Nacional de Imunização (PNI), que incorporou o controle da poliomielite e introduziu a multivacinação, incluindo principalmente a vacina do sarampo como estratégia de campanhas.

Fonte: G1

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