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Brasil vivencia overdose da cultura do remédio?

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Por Miguel Dias Pinheiro, advogado (foto)   É curioso o fato de que em cada esquina de Teresina uma farmácia, uma drogaria. Às vezes, confrontantes. E muitas delas uma loja atrás ou ao lado da outra. Um fenômeno que ocorre não somente na capital do Piauí, mas no Brasil inteiro. Vivencia-se uma ?overdose? da ?cultura do remédio?. O melhor negócio para enfrentar qualquer crise.

Hoje, temos no País quatro vezes mais estabelecimentos farmacêuticos do que o recomendado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que essa relação seja de uma farmácia ou drogaria para cada 8 mil habitantes. Em Porto Alegre, por exemplo, tem um estabelecimento para cada 2,1 mil habitantes. Um número anormal. E veja que Porto Alegre ocupa a oitava colocação no ranking das capitais brasileiras!

No universo de Teresina, a situação também é muito séria. O engenheiro Augusto Basílio ? segundo publicou no Facebook ? fez uma proposição a uma professora de arquitetura e urbanismo para que, juntos, fizessem um estudo de distribuição espacial das farmácias na nossa capital. ?Acredito que poderíamos identificar áreas que estejam descoberta e este estudo poder identificar e melhorar a comercialização dos produtos farmacêuticos em nossa capital. Não notei interesse. Por esta e outras é que afirmo o distanciamento das universidades para a realidade de nosso Estado? ? declarou.

A preocupação do engenheiro Augusto Basílio tem certa razão de ser. Afinal, leis de zoneamento urbano é que devem estabelecer distâncias mínimas entre lojas, contribuindo para se evitar a alta concentração de farmácias e drogarias que acabam estimulando a automedicação.

Porém, recentemente, houve uma tentativa de incluir essa exigência em uma legislação federal. Não surtiu efeito. Não chegou sequer a ser discutida amplamente com a sociedade. A Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) argumentou na época que a medida agride princípios constitucionais como da “livre iniciativa, da livre concorrência e do livre exercício de qualquer atividade econômica”.

Segundo pesquisas, o Brasil está entre os maiores consumidores mundiais de medicamentos. O segmento farmacêutico vem experimentando mudanças no país há algumas décadas e são determinadas por um mercado em constante evolução tecnológica e com fortes tendências de crescimento.

O certo é que, como diz o presidente do CRF-RS, Maurício Sahüler Nin, ?há um excesso de farmácias. E a proporção, quando se compara com a população, é muito acima do que seria necessário para fomentar o uso racional de medicamentos. Uma das justificativas é a de que é relativamente fácil abrir uma farmácia no Brasil, bastando atender a algumas questões sanitárias e comerciais”.

Porém, com desvantagens, que é o descontrole da concorrência, que pode gerar condutas danosas à população, estimulando o uso irracional, através da venda ?casada? de produtos, ou a chamada ?empurroterapia? de medicamentos, como diz Maurício Nin, além da banalização do uso do medicamento, que não é isento de riscos.

Pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o médico Flavio Danni Fuchs, autor do livro Farmacologia Clínica e Terapêutica, afirma que o ser humano é movido pelo “instinto de cura”. Em busca de alívio, lota as farmácias, que são vistas como uma espécie de “paraíso”, onde há solução para quase tudo: ? As pessoas são suscetíveis a imaginar que os remédios são mais eficazes do que realmente são. Muitas coisas têm uma resposta independentemente do tratamento. É o famoso efeito placebo. Por isso, costumo dizer para meus pacientes: não faça nem da doença nem do remédio o centro da sua vida.

Na avaliação da psicóloga Helivalda Pedroza Bastos, a dependência de pílulas foi gerada, ao longo dos anos, a partir de ações deliberadas dos laboratórios para disseminar a “cultura do remédio”. A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) diz que as pessoas passaram a confiar mais nos comprimidos do que na própria resiliência. Uma das consequências seria o uso abusivo de medicamentos, como a Ritalina, utilizada no tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sobretudo em crianças e adolescentes. Em 10 anos, o consumo do medicamento saltou 775% no país.

Uma loucura!

Portanto, a ?cultura do remédio? do povo brasileiro independe de estudo espacial ou geodésico, como queiram. Apesar da valiosa contribuição. O mercado foi que identificou isso plenamente e impôs suas regras. Daí a disseminação, os investimentos para alimentar cada vez mais esse fenômeno da ?overdose? de farmácias e drogarias, que para o psicanalista Mário Corso é ?sinal de tempos ?hipocondríacos e narcísicos”.

Fonte: Jornal de Luzilandia

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