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CEOs da saúde temem inviabilidade dos negócios em 10 anos

Bruno Porto, sócio da PwC Brasil e líder para o setor de saúde (Foto: Divulgação)

Embora os CEOs da saúde, que engloba os segmentos hospitalar, das seguradoras e das farmacêuticas, estejam mais otimistas em relação ao crescimento econômico global do que no ano passado, uma parcela crescente no Brasil e no mundo tem dúvidas de que suas organizações sobreviverão por mais de dez anos se mantiverem o rumo atual.

De acordo com a 27ª Global CEO Survey, pesquisa realizada com mais de 4,7 mil líderes empresariais em todo o mundo, incluindo o Brasil, 41% dos brasileiros (45% no mundo) duvidam que, na trajetória atual, suas empresas se manterão viáveis além da próxima década – um aumento em relação ao ano passado. No setor de saúde, essa tendência também está presente, na qual  42% dos CEOs da saúde acreditam que seus negócios não serão economicamente viáveis por mais de 10 anos, em comparação com 27% no ano passado.

A disrupção tecnológica, as mudanças climáticas e outras megatendências globais em aceleração continuam a forçar os CEOs a se adaptarem em todos os setores, na saúde não é diferente.  No setor de saúde no Brasil, a pesquisa revela que o desenvolvimento de novos produtos ou serviços (65%), a formação de parcerias estratégicas (55%), a adoção de novas tecnologias (52%) e o desenvolvimento interno de uma nova tecnologia (42%), entre outras iniciativas, foram as ações que tiveram mais impacto na reinvenção dos negócios.

No cenário econômico, CEOs da Saúde estão otimistas

Mas, apesar do aumento do temor com a viabilidade e a resiliência de suas empresas no longo prazo, o estudo também traz um otimismo maior entre os líderes do setor de saúde no Brasil. Do total de participantes, 61% acreditam no crescimento na geração de receitas das próprias empresas nos próximos 12 meses.

Quando perguntados sobre o contexto nos próximos três anos, este percentual sobe para 77%. É possível ver um otimismo semelhante no setor quando os executivos avaliam as perspectivas de crescimento global e do próprio país. Para 42% dos CEOs de saúde no Brasil e 44% no mundo a expectativa é de aceleração da economia global nos próximos 12 meses, enquanto 45% da média global entre todos os setores acreditam em uma desaceleração da economia.

Quando os brasileiros olham para o mercado interno, o percentual de quem acredita em uma aceleração econômica nos próximos meses sobe para 48%, enquanto a média no país para demais setores é de 36%. “A realidade da saúde pelo mundo é completamente diferente do Brasil, existe um mix que é afetado pelas especificidades de cada país, mas aqui há um aumento de receita do setor, inclusive para os próximos três anos mais otimista que o global”, avalia Bruno Porto, sócio da PwC Brasil e líder para o setor de saúde.

Mudança do setor a partir da tecnologia e da regulamentação

As mudanças tecnológicas e a regulamentação governamental são os principais fatores de mudança para a criação de valor no setor de saúde do Brasil para os próximos três anos. Considerando apenas respostas de “muito” ou “extremamente” impactantes, 68% dos CEOs do setor de saúde no Brasil indicaram que a tecnologia impactará seus negócios até 2026.

Nos últimos cinco anos, este foi um fator de mudança apontado por apenas 48% dos respondentes. Outro fator de impacto indicado pela pesquisa são as regulamentações governamentais, para 58% dos líderes de saúde no Brasil, este também será um dos fatores de transformação do setor nos próximos anos, enquanto o impacto nos últimos cinco anos foi de 45%.

“O setor de saúde é diretamente impactado por regulamentações governamentais no Brasil, por isso as respostas dos CEOs brasileiros traz esta percepção, inclusive maior que o impacto destas regulamentações quando avaliamos a média global”, avalia Porto.

Oportunidades e desafios da IA

A disrupção tecnológica e a utilização da inteligência artificial, especialmente da IA generativa no setor de saúde também é um dos pontos de atenção da 27ª Global CEO Survey. Isso porque a adoção dessa tecnologia no setor de saúde no Brasil e a adaptação da estratégia tecnológica para lidar com a inovação que ela representa está acima do registrado para o recorte global do setor.

Considerando os próximos 12 meses, as expectativas em relação à IA generativa são bastante positivas e semelhantes nos três recortes. Nos próximos três anos, espera-se que o impacto dessa tecnologia seja ainda maior.

Nos últimos 12 meses, 32% dos CEOs de saúde no Brasil mudaram a estratégia de tecnologia de suas empresas por causa da IA generativa. Um percentual acima da média global do setor, de 25%. Além disso, 29% dos respondentes brasileiros afirmam que a IA generativa já está adotada em toda a empresa, enquanto a média global para o setor é de 26%.

Para os próximos 12 meses, 65% dos respondentes da indústria de saúde no Brasil afirmam que a IA generativa melhorará a qualidade dos produtos e serviços de suas empresas e 52% acreditam que esta tecnologia aumentará a capacidade das empresas em gerar confiança com os stakeholders.

Nos próximos três anos, os desafios são ainda maiores, indicam os líderes do setor de saúde. Para 81% deles, a IA generativa exigirá que a maior parte da sua força de trabalho desenvolva novas habilidades. Além disso, 77% acreditam que esta nova tecnologia também aumentará a intensidade competitiva do setor.

Principais ameaças

Além dos fatores e megatendências de transformação do setor, a pesquisa da PwC também busca entender o que os CEOs da Saúde indicam como principais obstáculos para o setor a curto e médio prazo. Na indústria de saúde, tanto no Brasil como no mundo, o ambiente regulatório é apontado como o principal inibidor da reinvenção (no mínimo, de forma moderada) – um resultado acima da média brasileira. Em seguida, vêm as prioridades operacionais concorrentes, principal inibidor na média das indústrias brasileiras.

“Muitas restrições percebidas à reinvenção recaem diretamente na esfera de influência do CEO. Processos burocráticos, prioridades operacionais concorrentes, recursos financeiros limitados, competências da força de trabalho e recursos tecnológicos estão sujeitos a alguma intervenção dos CEOs, como também a eficiência, que é uma área de preocupação para muitos líderes”, comenta Porto.

Crescimento em outros países

Em relação aos mercados considerados mais relevantes para o crescimento, a indústria de saúde no Brasil segue a média de todas as indústrias no país: Estados Unidos e China aparecem no topo da lista. Para os líderes da indústria de saúde no mundo, o Brasil, que em 2023 dividia o quinto lugar com França e Japão, já não aparece entre os cinco principais mercados. Estados Unidos e Alemanha seguem nas duas primeiras posições.

Para os líderes brasileiros do setor, os Estados Unidos também aparecem no topo. A China divide a segunda posição com Canadá, que sequer constava entre os cinco primeiros em 2023, e México, que ocupava a quarta posição. Argentina e Colômbia, que também não apareciam entre os cinco primeiros, vêm na sequência, seguidos da Alemanha, que caiu da terceira para a quinta posição.

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