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Com crise mundial e coronavírus, Planalto teme risco de nova recessão

As notícias de que há risco de a economia desandar e o receio de que manifestações do próximo domingo sejam esvaziadas levaram o presidente Jair Bolsonaro a, mais uma vez, defender os atos programados para 15 de março. As falas do presidente, de que está com “uma faca no pescoço”, e do general Augusto Heleno, de que há uma “resistência muito grande ao Brasil estar dando certo” e de que há uma “rede de corrupção”, foram vistas por analistas como uma “vacina” diante do que está por vir ––  um cenário em que a economia mundial pode caminhar para uma recessão devido aos impactos do novo coronavírus levando o Brasil junto e, consequentemente, derrubando os preços dos ativos.
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As declarações foram feitas em Boa Vista, numa escala do voo presidencial em Roraima, antes de seguir para os Estados Unidos, onde Bolsonaro cumpre intensa agenda. O presidente defendeu os atos, dizendo que não são contra o Congresso e nem contra o Judiciário, mas, sim, pró-Brasil. Acrescentou que quem tem medo de rua não serve para ser político. Criticou “pessoas” que não pensam no Brasil, só nelas. Entretanto, não deu nomes. A fala fez aumentar a tensão entre os poderes, porque, nas redes sociais, muitos apoiadores se referem ao movimento de 15 de março como algo contra o Legislativo e contra o Judiciário.
Os congressistas, porém, não pensam em colocar mais combustível no tanque da crise política, uma vez que os problemas reais que o país enfrenta no campo econômico são mais urgentes. O desemprego continua elevado e o Produto Interno Bruto (PIB) cresce muito pouco. Com o aumento dos casos de coronavírus no Brasil, muitos líderes consideram que seria razoável o presidente da República, em vez de chamar manifestações, convocar os outros dois poderes ao diálogo, a fim de proteger a população e a economia. Analistas estrangeiros têm dito que o mundo caminha para uma recessão e o Brasil pode repetir o desastre do governo de Dilma Roussef. UMa recessão seria dramática para os interesses do governo.
Nesse cenário adverso, a resposta do Congresso será discutir os temas mais relevantes. “O Congresso vai reagir com trabalho, cuidar de uma agenda que tem cada vez mais a cara do parlamento, porque o governo tem se omitido. Não enviou a proposta de reforma tributária e nem a administrativa”, diz o líder do DEM, Efraim Filho (PB). Esta semana, a comissão da reforma tributária começa a trabalhar e o plenário do Congresso votará os PLNs, projetos de lei sobre Orçamento, que foram enviados pelo Poder Executivo como fruto do acordo com o governo para manutenção do veto parcial ao Orçamento Impositivo.

Reações

A expectativa é de que reações políticas contra o governo virão apenas depois de 15 de março. Os congressistas querem esperar para ver o tamanho da manifestação e como a economia e os investidores se comportam. Até aqui, o chamamento aos atos de rua ao longo de 2019 gerou mais instabilidade por colocar gasolina no reservatório da crise econômica. O PIB do ano passado cresceu 1,1%, taxa menor do que a de 2018 e de 2017, ambas de 1,3%.
O prometido investimento não veio em larga escala, como previa o governo assim que assumiu. Ao contrário, está deixando o Brasil. O encontro entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, neste final de semana, é visto com esperança para tentar segurar os números e animar o mercado por aqui. Mas, entre os investidores, há a certeza de que a calmaria da política seria a saída para evitar dias piores. Até aqui, esse céu de brigadeiro não veio.
As estimativas de crescimento da economia neste ano continuam sendo revisadas para baixo e alguns analistas já começam a falar em retração do PIB do primeiro trimestre. O maior banco privado do país, o Itaú Unibanco, por exemplo, reduziu de 2,2% para 1,8% a expectativa de crescimento da economia em 2019 e elevou as apostas para novos cortes na taxa de juros básica, a Selic, para 3,75% até o fim do ano, como forma de o Banco Central dar mais estímulo à economia.
Interlocutores do presidente do BC, Roberto Campos Neto, contam que têm notado uma inquietação nada habitual nele, que está encurralado entre o dilema da necessidade de cortar juros e de intervir no mercado para conter a forte alta do dólar. O real tem apanhando e acumulado forte desvalorização neste ano  diante do dólar, que está cada vez mais perto de R$ 5, cotação proibitiva até para patroa poder continuar indo à Disney –– conforme ironizam economistas sobre as palavras de Paulo Guedes.

No entanto, analistas estrangeiros têm feito projeções piores do que as do Itaú para o Brasil, com alta de 1,3% neste ano, como é o caso da britânica Capital Economics, que já prevê uma desaceleração da China, onde o foco do coronavírus começou, de 5% para 2%. Se essa projeção se confirmar, será um baque e tanto na economia global. A expectativa é de que, nesta semana, as novas projeções já falam sobre uma recessão.

 

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Fonte: Correio Braziliense
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