Ícone do site Panorama Farmacêutico

Com drible no teto de gastos, aposta do mercado para juros encosta em 11%

A inflação recorde de setembro já tinha sido uma má notícia para quem achava que o Banco Central (BC) não precisaria subir mais os juros do que o que já estava sendo esperado.

Foram os desdobramentos da última semana, porém, que precipitaram uma nova onda de fortes revisões para cima. Eles incluíram um aumento de última hora no Auxílio Brasil, uma possível expansão do teto de gastos, uma debandada de secretários do Ministério da Economia e o dólar voltando para mais de R$ 5,60.

Desde então, diversos bancos, corretoras e casas de análises divulgaram novas projeções para a Selic, a taxa básica de juros do país. Elas indicam não só que a Selic deverá ficar mais alta, como deverá também subir mais rápido.

Por trás da nova visão está o aumento do risco às contas públicas que afrouxar o teto de gastos traz, na visão dos investidores, e, principalmente, o dólar mais alto que esse receio causa, o que tem impacto direto na inflação.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nesta semana para anunciar a nova Selic, na quarta-feira (27). A taxa está atualmente em 6,25%, e poucos discordavam que iria subir em mais 1 ponto desta vez, para 7,25%, conforme vinha sinalizando o próprio BC.

Com as reviravoltas dos últimos dias, porém, esse consenso caiu, e vários economistas já acham que a próxima alta deverá ser de 1,25 ou até 1,5 ponto – ou seja, a Selic pode chegar a 7,5% ou 7,75% já na próxima quarta-feira.

Se confirmado, será o primeiro aumento de mais de 1 ponto de uma só vez que o BC faz na taxa básica desde 2003.

Juros acima de 10%

A subida mais forte, implica, também, em uma Selic que vai acabar mais alta. Se, até aqui, a maioria dos economistas apostava que ela iria parar entre 8,5% e 9,5% até o começo do ano que vem, agora as apostas abaixo do 9% minguaram e já há até aqueles que falam da taxa passando dos 10%.

É caso do UBS BB, que projeta a alta mais agressiva nesta reunião, de 1,5 ponto, e uma Selic indo até os 10,25% no início de 2022, ante os 9,25% projetados antes, de acordo com relatório enviado a clientes na quinta-feira (22).

Na mesma linha, o banco Mizuho também aposta no aumento de 1,5 ponto na quarta-feira e em uma Selic ainda mais alta ao final, de 10,75% em março do ano que vem.

‘Perdemos a âncora fiscal, que é o teto de gastos, e o risco fiscal aumentou. Mais risco implica em mais câmbio, e mais câmbio gera mais inflação’, explica a economista-chefe da gestora de investimentos Armor Capital, Andrea Damico, que também aguarda um aumento de 1,5 ponto tanto nesta reunião do Copom, quanto na próxima, em dezembro.

‘A única reação que o Banco Central pode ter é acelerar o ritmo [de alta], e os juros poderiam chegar ao patamar em torno de 10,5% ou 11% no ano que vem’, diz ela.

A meta para a inflação no ano que vem é de 3,5%, mas as projeções dos economistas já estão falando em valores acima dos 4%.

Com o dólar agora voltando a pressionar, essas expectativas devem piorar ainda mais – e é para conseguir colocar estes 4% de volta para perto da meta de 3,5% até o fim do próximo ano que o BC vai se vendo obrigado cada vez mais a cogitar uma Selic maior.

Atualmente, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está acima dos 10% em 12 meses.

Dólar mais alto, de novo

‘Dificilmente, agora, o dólar voltará para os R$ 5,20, a não ser que alguma arrumação considerada positiva pelo mercado seja feita’, diz a economista-chefe da Panamby Capital, Tatiana Pinheiro.

‘Talvez não fique nos R$ 5,60 de agora, mas certamente será um patamar mais depreciado do que se imaginava há dois meses, e o impacto do câmbio para a inflação é enorme.’

Pinheiro ainda mantém a expectativa no aumento simples de 1 ponto na Selic na reunião do Copom desta semana, além de uma taxa final nos 9,25% no início de 2022 – mas não descarta surpresas.

‘O cenário de inflação que tínhamos já apontava para uma Selic que não ficaria abaixo de 9,25%’, disse, mencionando os níveis já altos do IPCA, as novas pressões trazidas pela retomada do consumo com a abertura da economia e também a crise hídrica e energética, que deve ainda continuar puxando a conta de luz para cima.

‘O que as novas projeções estão trazendo acima disso [9,25%] é o peso direto do que aconteceu nesta semana’, continuou Pinheiro, referindo-se a todos os desdobramentos em torno do novo Auxílio Brasil e da flexibilização do teto de gastos.

Fonte: CNN Brasil

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/economia-tem-debandada-em-meio-a-discussoes-sobre-o-teto-de-gastos/

Sair da versão mobile