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Covid-19 avança no interior nordestino

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Uma reunião coordenada pelo Ministério Público Eleitoral na pequena São Raimundo Nonato (525 km de Teresina), na região Sudeste do Piauí, quase fronteira com a Bahia, representa um microcosmo de um drama atual vivido pela população brasileira. A cidade enfrenta um colapso na rede hospitalar e os casos de mortes e novos contaminados pela Covid-19 avançam de forma preocupante. Foi necessária a intervenção da Justiça que após ouvir os principais responsáveis pela área da saúde no município decidiu paralisar todos os eventos públicos relacionados com as eleições municipais.

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Covid-19 avança no interior nordestino e Piauí protagoniza conflito nacional entre combater a doença ou manter as campanhas eleitorais (Foto:Divulgação)

O problema está em pauta pelo país afora. No Brasil inteiro, mas no Nordeste em especial, mesmo com o crescimento das ferramentas virtuais e midiáticas, as eleições pressupõem o contato diário muito próximo com os eleitores nas feiras, mercados, comércio, bairros, povoados, e esses movimentos sempre geram aglomerações. Dessa forma, juntos, pandemia e campanha eleitoral contribuem para um aumento exponencial dos casos. Mas não só isso. A falta de ação institucional como barreiras epidemiológicas ou decretos públicos, federais, estaduais e municipais, deixam o quadro fervilhando de contaminações.

Ontem mesmo, sexta-feira (6), contrariando decisão do Ministério Público Eleitoral, e enquanto a notícia de que o prefeito da vizinha São Braz do Piauí, Nilton Pereira (MDB), tinha falecido vítima da Covid circulava amedrontando ainda mais os sertanejos, em São Raimundo Nonato ainda era possível observar grupos de correligionários da atual prefeita, Carmelita de Castro Silva, 52 anos, Progressistas, que tenta a reeleição, ostentando bandeiras, distribuindo panfletos em grupos causando aglomerações no centro. O caso gerou revolta e levou o candidato da oposição, Juliano Arão (PSOL), a publicar um áudio indignado contra a gestora.

Sem restrições, como é o caso do município de São Raimundo Nonato, por isso ele representa o microcosmo de um Brasil descontrolado, o comércio, os bares, as festas e todos os “eventos” ou segmentos que geram aglomerações e podem desencadear novas contaminações estão “liberados”. O fluxo na cidade é incrível. Apesar de grande parte dos moradores na zona urbana utilizarem máscaras, o movimento não para. Tudo isso já cria um quadro assustador, mas a situação fica periclitante quando gestores tentam a reeleição e, para isso, passam por cima da segurança da saúde da população, obrigação constitucional, moral e ética.

A ata da reunião coordenada pelo Ministério Público Eleitoral em São Raimundo Nonato traz dados dramáticos. O secretário municipal de Saúde, Jussival de Macêdo Silva Júnior, relata um quadro “gravíssimo” com 170 novos casos e 6 mortes em menos de três semanas, entre os dias 16 de outubro e 4 de novembro, causando um aumento de 38% no número de óbitos. Júnior ainda informou que na cidade “todos os leitos de UTI encontram-se ocupados há semanas”. Mauricio Castro, coordenador da UPA, confirmou os dados informando que os últimos 45 dias foram de grande dificuldade para os profissionais da saúde.

Nesse período a média de atendimento de pacientes com suspeitas de Covid no município pulou de 9 para 29, totalizando mais de 600 pessoas. O Coordenador da 12* Regional de Saúde do Estado do Piauí, João Eudes, informou que nos últimos dias chegaram novos equipamentos e médicos, inclusive, médicos intensivistas, pré-requisito para o funcionamento de uma UTI. Eudes confirmou o colapso no sistema afirmando que “a UPA está sempre lotada, e que muitas pessoas estão sendo transferidas para capital”. Eudes acaba de dar entrada na UPA-Covid em São Raimundo Nonato com suspeitas da doença.

A crise esquentou tanto que a irmã da prefeita de São Raimundo Nonato, deputada federal Margarete Coelho (PP), que nasceu na região de São Raimundo Nonato, gravou depoimento divulgado nas suas redes sociais lamentando as mortes e anunciando o envio de novos equipamentos para a UTI-Covid da cidade, mas sobretudo uma equipe de médicos especialistas que vão coordenar os atendimentos na unidade que também atende pacientes de vários municípios da microrregião, uma população superior aos 100 mil habitantes.

Preço politico

Desde o início da pandemia a gestão da saúde no município de São Raimundo Nonato foi omissa em várias questões que certamente contribuem para esse estado de coisas hoje. A prefeita Carmelita Castro, em seu primeiro mandato à frente do município, e que agora tenta à reeleição, desde sempre, fato comprovado publicamente em várias ocasiões, demonstrou inexperiência na gestão administrativa. E isso não é um fato de todo negativo, afinal ela nunca exerceu nenhum cargo público antes, ao contrário, é oriunda da iniciativa privada, mas quando se trata de saúde pública a omissão se transforma em crime.

Até hoje, 10 meses após o início dos primeiros casos de Covid-19 na cidade de São Raimundo Nonato, nenhuma barreira epidemiológica ou mesmo sanitária, foi instalada nos principais acessos ao município, e são muitos, ligando diversas rodovias. Carmelita e sua equipe argumentaram que os gastos seriam demasiadamente altos e sem eficácia comprovada. Foram e são criticados até hoje. Além de um erro de gestão, a inoperância contribuiu para a chegada dos casos de Covid em São Raimundo. Fato.

Nesses últimos quase 4 anos os erros são incontáveis, coisas absurdas que vão da distribuição de máscaras de péssima qualidade até sonegação de remédios e testes para população. Um fato sintomático mostra o rumo da saúde em São Raimundo Nonato. Alguns anos atrás uma pesquisadora com doutorado, formada pela USP e aposentada pelo Butantã, especialista em epidemiologia, Rute Andrade, veio morar na cidade piauiense.

Preocupada com as ações errôneas e omissas da Secretaria Municipal de Saúde no combate ao Covid-19 e convidada pela rádio FM Cultura, passou a gravar depoimentos para esclarecer a população. Descontente com as participações criticas da pesquisadora na emissora de rádio, a equipe da prefeita ameaçou processá-la, como forma de inibir as suas colocações técnicas, totalmente apartidárias. Ao invés de buscar uma parceria e orientação especializada, o caminho foi o inverso, amedrontar mais uma “forasteira”, como geralmente são tratados os profissionais que migram de suas cidades de origem para o interior brasileiro.

Carmelita Castro tenta agora à reeleição. Conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do governador do PT Wellington Dias, do senador e do autodenominado “filho 05” do presidente, Ciro Nogueira, réu no STF pela Lava-Jato, líder do fisiológico Centrão e presidente nacional do Progressistas, do senador Marcelo Castro (MDB), ex-ministro de Dilma Roussef, do seu marido deputado estadual Hélio Isaias, atual secretário estadual dos Transportes, e das suas irmãs, representantes da oligarquia dos Castro: Sádia Castro, secretária estadual do Meio Ambiente, Nailer Castro, secretária municipal de Administração, e da deputada federal Margarete Coelho.

Mesmo assim, com tanto poder, apoio, coligações, acordos, estruturas, mas sobretudo com a capacidade de unir Jair Bolsonaro, um governador do PT, um senador e presidente do Progressistas, um senador do MDB e tantos outros desafetos e inimigos, a prefeita de São Raimundo Nonato não conseguiu resolver coisas básicas no seu município, como por exemplo a questão da saúde. O depoimento dos seus próprios assessores ao Ministério Público Eleitoral comprova isso. São Raimundo Nonato vive dias de caos na saúde pública.

Fonte: Portal Az

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