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Documento confirma falta de medicação para sedar estudante que morreu de Covid-19

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Mateus Felippe de Souza, estudante de Direito da Unisul, não tinha histórico de doenças graves ou comorbidades, mas no dia 15 de julho morreu, após 23 dias de internação no Hospital Florianópolis, unidade de referência para o tratamento de pacientes com o novo coronavírus na região da Capital. A morte do estudante foi declarada às 9h46min do dia 15 de julho, mas antes do quadro de saúde do paciente se tornar gravíssimo, médicos e enfermeiros alertaram no seu prontuário que faltavam na unidade pública de saúde bloqueadores neuromusculares, classificados pela sigla médica BNM.

O uso destes medicamentos poderiam ter feito com que a sedação do jovem fosse realizada sem que ele ficasse desconfortável no respirador e em sincronia com a máquina usada para recuperação de pacientes em estado grave da doença.

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O prontuário do paciente confirma também o uso em pelo menos 20 vezes de morfina para sedar o estudante internado, droga não recomendada por médicos e especialistas em anestesia desde o começo da pandemia. A droga foi usada no primeiro dia da intubação e de entrada do estudante na UTI no dia 22 de junho.

Entre outras anotações do documento estão relatos da falta de BNM no hospital, fato negado até agora pelo Hospital Florianópolis. Destacamos o registro do dia 5 de julho, conforme atesta o documento abaixo:

Nele está anotado que o paciente estava “em assincronia franca com o VM (ventilador mecânico)”. “Foi necessário realizar bloqueio neuromuscular e aumento da sedação para acoplá-lo…Por volta das 6h realizado 4mg de pancurônio, finalmente ficando confortável no ventilador. .

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O registro pode indicar que por falta dos BNMs ou em quantidade suficiente, o hospital não estava usada o volume necessário deste tipo de medicamento, caso do pancurônio administrado ao estudante neste dia.

Os BMNs foram usados em combinação com outros sedativos, incluindo a morfina, que pode provocar efeitos negativos em pacientes com Covid-19.

Quando foi questionado há três meses, o hospital já admitia que além dos bloqueadores recomendados, houve também aplicação de sedativos, mas sem informar se tinha sido ou não usada a morfina.

Como a reportagem do ND+ mostrou em setembro, a família informa que foi questionada se Mateus usava drogas ou álcool, pois a sedação administrada no rapaz não estava surtindo efeito, o que remete ao termo “ventilação difícil”, descrita pela unidade de saúde em resposta ao promotor de Justiça que investiga do caso após a publicação da matéria.

Outra anotação que demonstra a gravidade da situação pela falta da medicação. É uma recomendação de transferência de Mateus registrada três dias depois, em 8 de julho, como revela o documento abaixo.

“Converso com médico da rotina sobre piora gradativa de paciente e necessidade de bloqueador neuromuscular. “, informa o prontuário. NIR é a sigla para Núcleo Interno de Regulação (NIR), unidade dos hospital públicos que administram a transferência de pacientes.

Os documentos em sequência não mostram por que Mateus não foi transferido como sugeriu o médico de plantão na UTI.

Novamente questionado pela reportagem, o Instituto Maria Schmitt (IMAS), que administra o hospital desde 2018, informou que não faria novas declarações sobre o caso, pois já repassou todas as informações para a Promotoria de Justiça da Capital que investiga o caso.

O promotor que atua no caso confirmou ao ND+ que sua apuração iniciada em 10 de setembro já comprovou a falta dos BNMs no hospital. “Existe a possibilidade de ajuizar uma ação civil pública contra o IMAS no início do ano que vem e aguardo informações requisitadas hoje (15/12) para instruir a inicial. E é muito provável que devo encaminhará o inquérito civil para o colega com atuação criminal”, afirma Luciano Trierweiller Naschenweng.

Os novos documentos pedidos pelo promotor e enviados ao IMAS nesta terça-feira (15) com prazo de cinco dias para o envio das respostas são os seguintes: relatório do acervo dos medicamentos necessários para intubação de pacientes (analgésicos, bloqueadores neuromusculares e sedativos) desde janeiro deste ano e “cópia das solicitações dos referidos medicamentos a outras unidades hospitalares ou à Secretaria do Estado da Saúde, quando da insuficiência”.

O ND+ também questionou a Secretaria de Saúde sobre o caso, mas não recebeu retornou sobre o pedido de informações até o fechamento desta reportagem. O espaço ainda está aberto para os esclarecimentos.

Como mostramos em setembro, toda a apuração do ND+ começou a partir da ata de uma reunião oficial. O caso foi exposto pela primeira vez no dia 24 de julho, durante encontro institucional entre procurador-geral de Justiça, Fernando da Silva Comin, promotores que atuam diretamente no enfrentamento da pandemia e o secretário de Saúde do Estado, André Motta Ribeiro.

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2020/12/18/oportunidade-para-cosmeticos-e-suplementos-no-marketplace-do-alibaba/ 

No encontro, o promotor Luciano Trierweiller Naschenweng questionou o secretário sobre a morte de Mateus que, segundo consta na ata da reunião, “recebeu morfina por falta dos medicamentos apropriados e acabou falecendo”.

Os documentos inseridos nesta reportagem foram repassados ao ND+ pelo advogado que cuida do caso como representante da família do estudante. Um perita na área médica foi acionada pelos familiares para analisar o prontuário, que foi conseguido somente após uma ação na Justiça.

Fonte: ND Online

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