Documentos revelam que Itamaraty se mobilizou na compra de cloroquina
A CPI da Covid vai pedir ao Itamaraty cópias de documentos que mostram que o governo se mobilizou para comprar cloroquina, apesar dos alertas dos cientistas sobre a ineficácia do tratamento contra Covid.
As informações foram publicadas pelo Jornal Folha de S.Paulo. Segundo a reportagem, telegramas mostram que o então ministro Ernesto Araújo queria garantir fornecimento de cloroquina mesmo após alerta. A TV Globo também teve acesso a telegramas internos do Itamaraty.
No dia 16 de abril de 2020, por exemplo, o ministério enviou um telegrama à embaixada do Brasil em Nova Délhi, na Índia, em busca de contato com autoridades indianas. Desde março de 2020, o presidente Jair Bolsonaro já vinha defendendo o uso do medicamento.
‘Muito agradeceria à Vossa Excelência informar às autoridades indianas de que o Ministério da Saúde pretende adquirir o lote oferecido pelo governo indiano, de 5 milhões de tablets de hidroxicloroquina (hcq).’
No dia seguinte, em novo telegrama à embaixada, o Itamaraty disse que o Ministério da Saúde tinha interesse na compra e que já tinha até pedido ajuda à Organização Pan-Americana da Saúde e fala em “urgência”.
Os documentos também deixam claro que, mesmo após a Organização Mundial da Saúde interromper os testes com cloroquina por razões de segurança, e de várias entidades médicas do Brasil alertarem para os riscos de efeitos colaterais, o Itamaraty seguiu consultando empresas e acionando o corpo diplomático no exterior.
Segundo a Folha, um telegrama do dia 4 de abril de 2020 relata que o presidente Bolsonaro teria dito, em conversa telefônica com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que o Brasil havia tido ‘resultados animadores’
Integrantes da CPI da Covid já avisaram que Ernesto Araújo, além de falar sobre atuação na compra de vacina contra a Covid, terá que responder sobre os telegramas no depoimento marcado para a próxima semana. Um dos focos da CPI é, justamente, o esforço do governo em apoiar um medicamento que, segundo a ciência, não funciona para a Covid e ainda traz riscos para a saúde dos pacientes.
O PT já apresentou requerimento para que o Itamaraty envie à CPI da Covid cópia de telegramas ou outras comunicações formais.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros, do MDB, disse que vai investigar o caso: ‘a cloroquina é um tema muito importante para investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito e nós precisamos saber definitivamente de quem foi a ordem ou quem a transformou em política pública, em detrimento da imunização da população brasileira, que era o único caminho para administrar essa crise sanitária.’
Senadores governistas defenderam o ex-chanceler.
Nesta semana, além da cloroquina, a CPI também vai tratar da compra e distribuição das vacinas contra a Covid. Nesta terça (11), os senadores vão ouvir o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Antônio Barra Torres. A Anvisa, ligada ao governo federal, é quem aprova o uso das vacinas no Brasil.
Nós procuramos o Palácio do Planalto para comentar a denúncia de mobilização do governo para compra de cloroquina, mas a assessoria encaminhou o questionamento ao Ministério das Relações Exteriores. O Itamaraty disse que atua em coordenação com outras órgãos do governo brasileiro. E que, desde o início da pandemia, manteve contato com autoridades, laboratórios e empresas de outros países.
Fonte:G1