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Emissão de dinheiro dispara e a inflação não se move

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“O mundo gira e a Lusitânia roda”, diz um famoso texto publicitário produzido, evidentemente, em terras lusitanas para animar os negócios de uma transportadora centenária. Em outro contexto, a sentença costumava ser repetida pela professora Maria da Conceição Tavares, a economista portuguesa que adotou o Brasil como seu país e tornou-se desde sempre crítica contundente do “austericídio fiscal”, encarnado nos últimos e tenebrosos anos como única possibilidade de sucesso por uma economia que se arrasta desde a recessão de 2014/2016.

As crises costumam romper tabus e desmentir certezas até então consideradas absolutas. Pode não parecer, mas costuma acontecer por aqui. Não que isso afete a retórica dos mercados e de seu ministro preferido. Portanto, se você é daqueles que acreditam que as emissões de moeda podem levar a uma explosão dos preços e, numa sequência “inevitável”, a uma fuga de investidores (que já estão saindo, mas por outros motivos) e à necessidade de retomar a política de juros altos, saiba que as emissões já dispararam. Mais: vinham crescendo num ritmo acima da inflação mesmo antes da crise sanitária provocada pelo Sars-CoV-2, antes explodir nos últimos meses. Nem por isso sobreveio o “caos inflacionário” antecipado pelos arautos do austericídio.

Os dados estão nos relatórios (ou “notas para a imprensa”) emitidos regularmente pelo Banco Central (BC), assim como nas pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para aferir o comportamento dos preços que formam o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A base monetária, quer dizer, grosso modo, o saldo do total de dinheiro emitido pelo BC experimentou um salto de 37,75% entre o final de março e julho deste ano, subindo de R$ 307,560 bilhões para R$ 423,675 bilhões – uma elevação, portanto, de quase R$ 116,114 bilhões no período, algo como 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pelo BC para os 12 meses encerrados em julho deste ano. Ainda na comparação com o PIB, o saldo das emissões de moeda avançou de 4,19% em março para 5,90% em julho.

Muito abaixo da meta

IPCA mensal chegou a cair de 0,25% em fevereiro para 0,07% em março, despencando na primeira quinzena de maio (IPCA-15) para -0,59%. Voltou a subir nos meses seguintes, puxado pelas altas nos preços dos alimentos, da energia e dos combustíveis, atingindo 0,36% em julho, para recuar novamente até 0,23% nos 30 dias encerrados na segunda semana de agosto. A inflação acumulada em 12 meses, que bateu em 4,21% até a quinzena inicial de fevereiro, recua desde então, atingindo 2,28% ao final da segunda semana de agosto. Para comparar, a meta definida pelo BC para a inflação de todo este ano está na casa de 4,0% (com tolerância de 2,5% a 5,5% nos limites inferior e superior da meta central). A inflação encontra-se, portanto, até abaixo daquele limite inferior(2,5%) e, sendo assim, parece haver espaço suficiente para elevar as emissões de moeda, já que a equipe econômica escolheu, desde o final dos anos 1990, uma política de metas para a inflação e esta, presumivelmente, deve ser obedecida – ou então substituída por algo diferente que não uma política de metas para a inflação. Soa evidente e redundante, mas parece haver uma incapacidade generalizada para captar a obviedade nos dias que correm.

Balanço

· Para algumas correntes do pensamento econômico brasileiro, o avanço persistente das emissões de moeda, mesmo em um momento de crise humanitária e diante da necessidade de prover meios de sobrevivência (literalmente) a milhões de famílias, deveria ser considerada uma ameaça gravíssima à estabilidade dos preços diante do histórico inflacionário do País. Em síntese, esses “pensadores” olham para o retrovisor para projetar o futuro, num mundo sacudido pela pior crise sanitária desde o começo do século passado, como se a economia e as relações econômicas fossem retomar ao que antes se considerava como “normal”.

· Parece óbvio que uma política econômica negligente tenderia de fato a causar desequilíbrios em toda a economia. Mas não é nem disso que se trata. Repetindo: um período de grave emergência exige políticas igualmente emergenciais e transitórias, até que a crise possa ser debelada. Todas as economias ao redor do mundo sairão da crise com déficits gigantescos e altamente endividadas. O Brasil, neste caso, não será exceção.

· Adicionalmente, o País caminha para o quarto ano consecutivo com a inflação senão abaixo, muito próxima do centro da meta. E pode ter o quinto ano seguido de taxas inflacionárias inferiores à meta, a se considerar a aposta dos mercados capturada pelo relatório Focus, que antecipa uma inflação em torno de 3,0% para 2021 frente à meta de de 3,75% fixada para o próximo ano. Isso deveria dizer alguma coisa aos formuladores da política econômica.

· Apesar do forte crescimento a partir de março deste ano, a base monetária no Brasil mantém-se num nível internacionalmente reduzido. Nos Estados Unidos, em julho deste ano, o saldo das emissões de moeda havia alcançado qualquer coisa ao redor de US$ 4,70 trilhões, quase três vezes o tamanho de toda a economia brasileira e algo em torno de 24,0% do PIB daquele país. Proporcionalmente ao Brasil, pode-se considerar que os EUA emitem quatro vezes mais moeda. Sim, trata-se de uma economia desenvolvida e estabilizada. Mas os grandes números servem para conferir aos dados brasileiros alguma referência e demonstrar que não estão fora de proporção.

· Numa anotação final, o aumento de 37,75% na base monetária brasileira entre março e julho deste ano correspondeu a um acréscimo de R$ 116,114 bilhões no volume de dinheiro em circulação. O rombo do Tesouro exigiu emissões de R$ 487,708 bilhões, parcialmente compensadas pela venda de títulos federais (o que enxugou R$ 327,014 bilhões do mercado). As operações no setor externo (compra e venda de dólares) permitiram ainda a retirada adicional de R$ 13,608 bilhões.

· Mas o socorro do BC aos bancos com problemas de liquidez (ou seja, com falta de recursos para liquidar compromissos) levou à emissão de R$ 35,799 bilhões, o que contribuiu com 30,8% para o aumento da base monetária. Claramente, não foram apenas o auxílio emergencial e o aumento nos recursos para a saúde que levaram ao crescimento das emissões de moeda.

Fonte: O Hoje

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