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EUA aceleram teste de psicodélico contra o estresse pós-traumático

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MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO

A FDA, agência de fármacos e alimentos dos EUA, decidiu apressar testes clínicos com metilenodioximetanfetamina (MDMA) para tratar transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). É a primeira droga psicodélica a receber sinal verde preferencial para buscar licença como remédio.

A MDMA entra –ou deveria entrar– como principal componente do ecstasy, estimulante de amplo consumo em festas e raves. Proibida, a droga vendida ilegalmente pode, contudo, conter mais anfetamina do que a própria metilenodioximetanfetamina.

A decisão da FDA contempla esforços da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (Maps, na abreviação em inglês), organização sem fins lucrativos fundada em 1986 nos EUA. Ela já angariou US$ 44 milhões para estudos sobre uso medicinal de maconha, MDMA, LSD e outras substâncias.

“Pela primeira vez a psicoterapia assistida por psicodélicos será avaliada em testes de fase 3 para possível uso sob prescrição, com a psicoterapia apoiada por MDMA (ou midomafetamina, nome genérico aprovado para a droga) para TEPT abrindo o caminho”, festeja o presidente da Maps, Rick Doblin.

“Estamos prontos para iniciar negociações com a agência de fármacos da Europa.”

A agência americana conferiu ao teste proposto pela Maps a classificação de terapia inovadora (“breakthrough therapy”), ou seja, com potencial para obter resultados melhores que os tratamentos disponíveis. Sob supervisão direta da FDA, o licenciamento deve correr mais rápido que o usual.

Em estudos preliminares para investigar efeitos colaterais e doses ideais (fase 2) com uma centena de pacientes, a MDMA obteve resultados encorajadores. Após 12 meses de acompanhamento, 68% dos participantes não se encaixavam mais nos parâmetros para diagnosticar TEPT.

“É um grande avanço, excelente notícia para quem sofre. Espero que abra caminho para o amplo uso psicoterapêutico da MDMA”, diz Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A expectativa é que a aprovação final venha em 2021.

A MDMA atua sobre os receptores serotoninérgicos do cérebro, aumentando os níveis do neurotransmissor serotonina. Reduz o medo, rebaixa defesas, melhora a comunicação, a introspecção, a empatia e a compaixão.

Ministrada na forma pura em três sessões, como propõe a Maps, com acompanhamento de uma dupla de terapeutas especialmente treinados, a droga permite ao paciente falar de eventos traumáticos sem reviver a angústia, as crises de pânico, os pesadelos e os pensamentos suicidas da vida cotidiana.

Estima-se que 7% da população dos EUA e 11% a 17% de seus veteranos de guerra sofram com TEPT. Estudo publicado em 2012 na revista “PLoS One”, com mais de 5.000 paulistanos, indicou prevalência de 1,6%, metade dos casos na forma grave.

TABU

“Para além de qualquer tendência ideológica, o fato é que os resultados preliminares indicam grandes potencialidades da MDMA para o tratamento desse problema. Caso venha a ser legalizada, seguramente abre a porta para que novos psicodélicos sejam aceitos e incorporados como tratamentos com acompanhamento terapêutico. É difícil não ficar empolgado com a notícia”, diz Beatriz Cayubi Labate, antropóloga social brasileira.

Professora visitante do Ciesas (Centro de Investigações e Estudos Superiores em Antropologia Social, do México), Labate foi uma das organizadoras do congresso Psychedelic Science 2017, que reuniu mais de 3.000 pessoas de 40 países em Oakland (Califórnia), em abril.

“Existe um grande tabu e uma estigmatização em torno dos psicodélicos, ora considerados como patologias, ora criminalizados, ora demonizados. Mas essas substâncias ocuparam e continuam ocupando lugares centrais no mundo dos povos tradicionais, como é o caso da ayahuasca no Brasil, do peyote no México e nos EUA e dos cogumelos no México”, defende a pesquisadora.

Fonte: Jornal Folha de S.Paulo

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