Fique por dentro dos principais FATOS e TENDÊNCIAS que movimentam o setor

Excesso de estímulos luminosos atrapalha a produção de melatonina

Acompanhe as principais notícias do dia no nosso canal do Whatsapp

 

Você chega à noite em casa, depois de um dia cansativo, e só pensa em dormir. Antes, para não perder o costume, dá aquela ligadinha na TV ou no laptop. Depois, deita na cama e espia o celular — também para não fugir do hábito de conferir a vida dos amigos pelo Instagram. Passam-se algumas horas, e o sono, como num passe de mágica, sumiu. O que aconteceu com todo aquele cansaço?

Saiba que todos os estímulos eletrônicos da noite interferiram pesadamente na produção de melatonina, hormônio secretado por uma estrutura de três centímetros localizada no nosso cérebro, a chamada glândula pineal, que tem como função principal regular nosso relógio biológico. Ela também sinaliza para o corpo que é hora de virar a chave, desacelerar o metabolismo, começar o processo de reparação celular, enfim, dormir.

— A melatonina interage com os receptores das células e provoca vários efeitos. No sistema nervoso central, ela desativa a vigília e induz ao sono — explica José Cipolla Neto, médico e professor de fisiologia da USP. — No sistema cardiovascular, provova hipotensão; no metabólico, dá o passo necessário para que os nutrientes armazenados se transformem em energia.

Acontece que a melatonina só é produzida durante a noite, no escuro. Antes do advento da luz elétrica, o corpo começava a produção quando o sol se punha. Hoje, a tecnologia prolongou o que, fisiologicamente falando, nosso organismo entende por dia: somos estimulados pela luz da TV, de celulares, de computadores e de tablets, o que compromete a secreção da melatonina e interfere no nosso relógio biológico.

— Você está dormindo e ouviu um sinal no celular, não aguenta e vai lá ver. Nessa hora, já reduz a produção de melatonina. Se ficou meia hora olhando para a tela, a secreção vai quase a zero. Estamos fazendo isso indiscriminadamente — adverte Maristela Poletini, professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais.

Um dos efeitos de trazer o dia para a hora da noite é, claro, uma piora na quantidade e na qualidade do sono. Nem toda insônia está ligada à produção inadequada de melatonina, mas muitas vezes ela pode estar relacionada, sim. Por isso, pessoas como a gerente comercial Milla Ribeiro, de 33 anos, tem o costume de comprar comprimidos de melatonina no exterior para dormir melhor. Em países como os Estados Unidos, por exemplo, o hormônio é vendido em toda e qualquer farmácia, sem necessidade de receita médica.

— Tenho muita insônia e comecei a tomá-la para melhorar a qualidade do sono. Uma vez, comentei sobre isso com uma amiga, que me deu um frasco de presente. Evito, mas, quando vejo que não tenho sono, tomo — diz Milla, adepta do combo celular-TV até altas horas.

Aqui no Brasil, a amiga de Milla não conseguiria comprar tal “presente” com facilidade, já que a Anvisa ainda não deu registro para nenhum medicamento que contenha a substância por não considerar satisfatórios os estudos clínicos que demonstram eficácia e segurança no consumo. No entanto, uma empresa conseguiu uma liminar na Justiça para importar o hormônio, o que faz com que farmácias de manipulação tenham autorização para colocá-lo em medicamentos. A Anvisa também esclarece que pacientes, munidos de receita, podem trazer melatonina na bagagem sem maiores dores de cabeça.

Segundo Cipolla Neto, a postura rígida do órgão sanitário se dá pelo fato de que, nos anos 1970, começou um boom de venda da substância, e a agência achou melhor proibí-la para evitar excessos.

— O mercado dos Estados Unidos encara a melatonina como um suplemento, por isso ela é vendida em qualquer lugar, sem controle do FDA (Food and Drug Administration, a versão americana da Anvisa). As pessoas interpretam como se pudessem tomá-la a seu bel prazer, mas ela é um hormônio e tem que ser suplementada quando necessário — diz Cipolla Neto, que conduz uma série de experimentos com melatonina no laboratório da USP.

Estímulos luminosos à noite atrapalham a produção de melatonina – Shutterstock

A substância, no entanto, é liberada sem restrições para formulações cosméticas, que a usam por seu caráter antioxidante.

— A estrutura química da molécula, em termos antioxidantes, é melhor até do que a da vitamina C. A questão é se, de fato, as fórmulas são bem feitas — explica Maristela.

Sem moderação, portanto, só na pele. Para dormir, que tal desligar o celular?

BONS SONHOS

A hora da melatonina

Em condições ideais, ou seja, sem muita interferência da emissão de luz, a glândula pineal começa a secretar melatonina por volta das 20h. A produção atinge seu ápice em torno das 2h da manhã. Tente, portanto, reduzir ao máximo os estímulos luminosos perto do momento de dormir.

A influência do azul

Os comprimentos luminosos de onda azul entram pela nossa retina e fazem o corpo entender que é “dia”. Computadores, TV, celulares e tablets emitem essa luz e confundem nosso organismo. Para diminuir a confusão, há aplicativos como o “f.lux”, que diminuem a emissão desse feixe e ajudam o relógio biológico. Alguns celulares possuem a opção “night shift” que tem função semelhante. Portanto, mantenha-a ativada.

Fonte: O Globo

Notícias mais lidas

Notícias Relacionadas

plugins premium WordPress