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Humanização norteia estudos sobre sintomas do tratamento do câncer

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A náusea, frequente entre pessoas que estão em tratamento de câncer, é o alvo de uma pesquisa em curso realizada pelo grupo de dor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo). A intenção do estudo é aumentar a eficácia da medicação para tratar o sintoma.

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O problema atinge até 60% dos pacientes em quimioterapia. No pós-operatório, chega a 80%. Além de ser um efeito muito desagradável, a náusea faz um doente recém-operado sentir dor e vomitar, o que pode abrir a ferida e soltar os pontos, além de causar desidratação, afirma a anestesista Angela Maria Sousa, chefe do grupo de dor do Icesp.

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A pesquisa, em fase inicial, trata de polimorfismos genéticos, pequenas alterações na sequência do DNA que fazem com que as pessoas sejam diferentes entre si e reajam de maneiras distintas a um medicamento. “Procuramos essas modificações e vemos se existem polimorfismos para o metabolismo de drogas.”

A esperança dos médicos é poder no futuro administrar remédios que funcionem para todo mundo. “Hoje, temos que ir testando a medicação. Queremos descobrir se há a possibilidade de dar a droga certa, na dose certa, para a pessoa certa. É a medicina personalizada”, conclui Sousa.

A esteticista Edvanda Cordeiro da Silva, 39, que trata tumor na parede do abdome, internada no Instituto Brasileiro de Controle do Câncer –

Bruno Santos/Folhapress

O tratamento individualizado também é essencial no combate à dor e se deve a um conceito criado entre os anos 1950 e 1960 por Cicely Saunders (1918-2005): a dor total.

A inglesa, pioneira em cuidados paliativos e referência na área, fundou em 1967 o hospital St. Christopher’s, em Londres, dedicado ao controle da dor e ao tratamento humanizado de pacientes com doenças em estágio avançado.

“Toda pessoa que tem doença grave sente dor não de natureza apenas física, mas mental, emocional, social e espiritual. Se não abordarmos todas essas dimensões, o tratamento não terá sucesso”, diz Maria Goretti Maciel, diretora de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual, explicitando o conceito de dor total.

Ainda hoje, o St. Christopher’s mantém a ideologia de Saunders. “Damos ênfase ao que importa ao paciente, e não ao que está errado com ele. A sociedade precisa parar de acreditar que as pessoas só morrem quando os médicos não estão tratando delas. Morrer é questão social, não médica”, diz Rob George, diretor médico do St. Christopher’s.

A esteticista Edvanda Cordeiro da Silva, 39, teve câncer na parede do abdome e sofreu muito com náuseas e dor. Foi internada no IBCC quando já estava muito debilitada.

“Cheguei a pesar menos de 30 quilos. Já tive pânico, ansiedade e medo, mexe com o psicológico, atrapalha o tratamento. Mas tento não pensar besteira. Mantenho o otimismo, não perco a esperança, faço planos”, conta.

A humanização conduz as inovações no tratamento dos sintomas do câncer, o que despertou nos médicos também um olhar para a espiritualidade, como ferramenta capaz de ajudar os pacientes. “A compreensão da espiritualidade, que não tem nada a ver com religião, tem crescido, é algo que influencia muito na recuperação”, afirma Sousa.

De 70% a 85% dos pacientes com câncer apresentam dor. Se a doença já estiver avançada, o sintoma está presente em até 90% dos casos, diz Claudia Palmeira, uma das coordenadoras do grupo de dor do IBCC.

Ela destaca que é importante não fazer promessas vazias aos pacientes. “Podemos aliviar a dor, mas não acabar com ela. Temos procedimentos que melhoram em até 90%, mas milagre ainda não existe.”

O opioide segue como a principal substância usada no controle de dor em casos de câncer. Apesar de o paciente poder desenvolver dependência, especialistas afirmam que ainda não há nada melhor.

A droga pode ser administrada pelo médico ou por meio do PCA (patient controlled analgesia), cateter com bombas de medicamentos. Toda vez que a pessoa sente dor, aperta o botão e recebe uma dose.

Palmeira explica que são feitas programações com doses mínimas, para reduzir efeitos colaterais. “A pessoa se sente amparada, porque tem o controle. Oferecemos autonomia ao paciente.”

Fonte: Folha de S. Paulo Online

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