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Infecção em quem já foi imunizado contra a covid-19 não indica ineficácia da vacina

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A infecção pela covid-19 por pessoas que já foram imunizadas com duas doses ou dose única, como aconteceu com a apresentadora Ana Maria Braga, que testou positivo nesta segunda-feira, 5, não demonstra ineficácia da vacina. Especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que o principal benefício dos imunizantes é evitar que a covid-19 evolua para quadros graves, mas reforçam que mesmo quem já foi vacinado pode ser infectado e transmitir a doença – sobretudo em locais em que a taxa de transmissão segue alta.

‘Vacina não é como um medicamento, é um bem coletivo. Ela tem uma proteção que é individual, mas tem também a proteção coletiva, que é muito importante’, diz a médica epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin, Denise Garrett. Ela destaca que não existe nenhuma vacina 100% eficaz e que, por conta disso, é fundamental acompanhar a chamada taxa de breakthrough, que se refere às infecções que ocorrem mesmo em quem já recebeu a imunização completa.

Por que a infecção por quem já tomou a vacina contra covid-19 não significa que o imunizante é ineficaz?

Para Denise Garrett, é importante frisar que, ainda com as infecções, todas as vacinas contra a covid-19 que estão sendo aplicadas no Brasil têm a capacidade de prevenir contra evolução da doença para quadros graves e óbitos. Ao mesmo tempo, a epidemiologista diz que até as vacinas mais eficazes também têm taxas de breakthrough, que acabam variando de acordo com o espalhamento do vírus e com a transmissibilidade de novas cepas.

‘Eu posso tomar duas doses da vacina, gerar anticorpos e pegar a covid-19 ainda assim. Mas, na maioria das vezes, se já estou imunizado, leva para quadros leves’, diz o médico infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Julival Ribeiro. ‘O grande benefício de todas as vacinas existentes no mundo hoje é evitar que pessoas vacinadas adquiram casos graves das doenças.’

Essas infecções, segundo os especialistas, são ainda mais frequentes quando há o avanço de cepas altamente transmissíveis, como é o caso da variante Delta, e em contextos em que a cobertura vacinal ainda não é alta. A cidade de São Paulo confirmou nesta segunda-feira, 5, o primeiro caso da variante Delta. No País, duas mortes foram causadas pelo vírus dessa cepa.

Sim. Como exemplo disso, Denise Garrett cita a explicação dada pela microbiologista Natalia Pasternak que, quando depôs à CPI da Covid, explicou que, por melhor que seja o goleiro de um time, se muitas bolas forem chutadas a gol, as chances dele sofrer um gol acabam sendo maiores.

Em meio a isso, as taxas de breakthrough acabam subindo no Brasil por uma série de razões, como relaxamento das medidas de proteção e o superespalhamento do vírus.

‘Se eu tenho uma vacina com uma proteção, digamos, de 50%, mas a circulação viral e as chances de se contaminar são muito baixas, as taxas de breakthrough são muito pequenas. Com a mesma vacina e em um ambiente com muita circulação viral, principalmente no caso de variantes que têm uma transmissão maior, o cenário muda’, aponta Garrett.

‘Pelo relaxamento no País inteiro, minha preocupação é vir uma terceira onda com a variante Delta. Então, tem que se manter as medidas de proteção para evitar que isso aconteça’, complementa Julival Ribeiro.

Um estudo recente publicado no The New England Journal of Medicine aponta que, em relação a pacientes não vacinados, a probabilidade de transmissão domiciliar foi cerca de 40 a 50% menor entre pacientes de covid que se vacinaram com a segunda dose da Pfizer ou da AstraZeneca ao menos 21 dias antes de testar positivo.

Garrett destaca que o risco de transmissão não é completamente eliminado, mas a diminuição das chances não deixa de ser animadora. Para a Coronavac, embora já haja dados de eficácia em relação a casos graves e óbitos, ainda faltam informações necessárias para a estratégia de vacinação, como, por exemplo, taxas de breakthrough, aponta a epidemiologista.

Nesse sentido, a médica pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, reforça que o que acaba fazendo a diferença é a cobertura vacinal, que ainda não está tão perto de se concretizar no Brasil.

‘Infelizmente, a gente está muito longe de conseguir uma vacinação adequada (de cerca de 60% da população com a segunda dose) para ter um resultado melhor, com a efetividade diminuindo também as formas leves da doença entre os já vacinados. Apenas 13% do nosso pública-alvo recebeu duas doses da vacina’, destaca.

A médica explica ainda que nenhuma vacina contra a covid-19 é esterilizante, nome dado aos imunizantes que evitam totalmente as infecções, e alerta para a importância de a população não escolher vacinas neste momento.

Isabella Ballalai reforça, por experiência própria, que o ato de ser vacinado gera uma emoção muito grande, o que é positivo. Mas ainda assim não dá para negligenciar os chamados cuidados não farmacológicos. ‘A circulação do vírus é muito grande entre nós. Quanto menos controlada a pandemia, mais a gente tem que tomar cuidados, mesmo que alguns já estejam vacinados’, diz a médica.

Todos os especialistas ouvidos pelo Estadão salientam que a adoção de medidas, como o uso de máscaras adequadas e o distanciamento social, são fundamentais para evitar o espalhamento do vírus enquanto ainda não há cobertura vacinal e a transmissão está em alta no Brasil.

Não. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) inclusive já publicou um documento sobre isso. ‘Não existe até o momento definição da quantidade mínima de anticorpos neutralizantes necessária para conferir proteção imunológica contra a infecção pelo SARS-Cov-2. Dessa forma, esses produtos não devem ser utilizados para determinar proteção vacinal’, diz nota técnica da Agência.

Isabella Ballalai acredita que esses testes vêm sendo feitos por uma ansiedade da população que, ao tomar a vacina, deseja ter uma comprovação de que o imunizante fez efeito. Porém, ressalta que os testes para diagnóstico de anticorpos não têm essa finalidade e podem acabar mais confundindo do que auxiliando. O recomendado, em vez disso, é confiar na eficácia das vacinas contra covid-19, que estão sendo aplicadas pois tiveram os testes aprovados pela Anvisa.

‘A gente ainda não tem para a covid-19 uma coisa chamada correlato de proteção, que é a quantidade de anticorpos que você precisa ter para ser considerado imune. Nenhuma pesquisa tem esse número. Um indivíduo vacinado produz anticorpos, mas não se sabe o quanto é necessário’, justifica Ballalai. A médica explica ainda que a única vacina para a qual é indicado fazer testes para saber se a pessoa ficou protegida é a de hepatite B, já que a doença tem o correlato de proteção.

A recomendação de não fazer testes para mensurar anticorpos, reforça o médico Julival Ribeiro, é corroborada ainda por dois renomados órgãos dos Estados Unidos: a agência reguladora (FDA, na sigla em inglês) e o Centro de Controle de Doenças (CDC, também na sigla em inglês).

Fonte: Jornal de Piracicaba

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