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Lipedema nas pernas: o que é, causas, sintomas e tratamento

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Pernas e quadril muito grossos em relação ao resto do corpo e presença de dor e hematomas nessas áreas podem ser sinal de uma doença chamada lipedema, e não, como se costuma achar, o resultado de retenção de líquidos, obesidade ou varizes. Nesses casos, é preciso consultar cirurgião vascular para realizar o diagnóstico correto. Lipedema, afinal, é uma doença vascular crônica e genética desencadeada por eventos hormonais, como puberdade, gestação e menopausa, que causa acúmulo excessivo de gordura e inchaço principalmente nos membros inferiores, mas algumas vezes nos braços, sem acometer pés e mãos. O problema é bastante frequente entre as mulheres, porém pouco conhecido e diagnosticado e muitas vezes tratada como obesidade, varizes ou linfedema, caracterizado pelo acúmulo do líquido linfático, a linfa, em tecidos do corpo. Contudo, a doença, cujo sintoma mais marcante é a falta de proporção do corpo, requer tratamento específico.

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Lipedema costuma ser confundido com quadros de obesidade, varize e linfedema, mas seu enfrentamento requer tratamento específico — Foto: iStock

Como esse é um problema pouco conhecido, inclusive entre a comunidade médica, mulheres com essa condição passam a conviver com ela sem buscar ajuda, até porque entendem ser uma característica feminina em sua família. Muitas vezes investem em medidas como dietas e atividades físicas, que podem ter algum efeito. No entanto, é preciso buscar orientação especializada. Lipedema tem tratamento, que envolve cuidados com a alimentação, prática de exercícios físicos, especialmente os na água, como natação e hidroginástica, drenagem linfática e, dependendo do quadro, cirurgia de lipoaspiração. Não há cura para essa doença, apenas controle. Porém, se a mulher recebe o diagnóstico e segue o tratamento indicado pelo médico, pode melhorar muito o seu quadro, evitar que o problema se agrave e ter melhor qualidade de vida.

Principais sintoma do lipedema

 

Lipedema é uma doença genética e crônica caracterizada especialmente pelo acúmulo e distribuição desproporcional de gordura — Foto: Divulgação/Cirurgião vascular Alexandre Amato

É importante saber que os sintomas persistirão se não houver tratamento. Fora que podem se agravar, causando limitação de movimentos e dificuldades para caminhar ou, quando a doença compromete completamente o sistema linfático, resultar em um quadro de linfedema. Por isso, ao notar os sintomas, é preciso consultar um cirurgião vascular, especialista indicado para diagnosticar e prescrever tratamento para a doença, que requer abordagem multidisciplinar, envolvendo ainda endocrinologista, profissional de Educação Física, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo.

  • Acúmulo de gordura, inchaço e falta de proporção, especialmente das pernas e quadril, embora também possa afetar os braços, em relação ao resto do corpo;
  • Dificuldade para reduzir as medidas das áreas do corpo afetadas. A mulher adere a programas de emagrecimento, inclusive, porém não nota a diminuição do volume dos membros acometidos pelo lipedema;
  • Presença de hematomas, celulites e nódulos;
  • Dores nos locais em que há acúmulo desproporcional de gordura;
  • Dificuldade de locomoção em casos mais graves.

 

Fator causador:

 

  • Genética.

 

Fator desencadeador:

 

  • Variações hormonais, como puberdade, gestação e menopausa.

 

Membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) e diretor da SBACV regional de São Paulo, Alexandre Amato comenta que o lipedema é uma doença vascular que começa pelo comprometimento do sistema linfático, geralmente após eventos hormonais, causando formação e deposição de gordura de forma desproporcional. Presidente da Associação Brasileira de Lipedema, o cirurgião vascular explica que não se trata de uma gordura normal, mas de um tipo com maior facilidade para inflamação, tanto que a mulher com lipedema sofre ainda com dores e hematomas, além do inchaço. De acordo com Amato, estima-se que 11% das mulheres tenham lipedema, sendo que mais de 60% dos casos a paciente encontrará alguém na família que também tem essa doença. Nos demais, o surgimento do lipedema pode estar associado a mutações genéticas. Apesar de ser um problema muito comum e possível de ser tratado, poupando o sofrimento das pacientes de conviver com os sintomas, muitas vezes a doença não é diagnosticada.

– Essa é uma doença com sintomas inflamatórios. Só que ela é cíclica. Há momentos com sintomas e outros momentos em que não há tantos. A primeira queixa das pacientes é a dificuldade para perder peso nas pernas e presença de hematomas e celulite. Elas relatam que retêm líquidos, sentem como se as pernas fossem troncos e que há bolinhas embaixo da pele. A principal característica da doença é a desproporção. A mulher sente como se tivesse dois corpos, o de cima e o de baixo. Existe, por exemplo, a obesidade ginecoide, que afeta mais os glúteos, mas não traz todos esses sintomas, como o lipedema – detalha o cirurgião vascular, acrescentando que essa é uma doença que não aparece de uma hora para a outra, mas evolui lenta e progressivamente.

A endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP) Paula Waki ressalta deve-se fazer diferenciação entre lipedema, linfedema e obesidade no diagnóstico, mas que uma mesma paciente pode sofrer com dois ou os três problemas. O importante, para Waki, é considerar todos os quadros possíveis para tratar o problema corretamente.

– A distribuição da gordura é bilateral e simétrica nessa doença. Se for uniteral, que acontece nos casos de linfedema, não será lipedema. A doença acomete muito os membros inferiores. Embora afete pernas e até braços, que ficam maiores, não existe inchaço nos pés ou nas mãos. A mulher também apresenta nódulos que são dolorosos mesmo sem apalpação. Chama atenção ainda que elas podem estar acima do peso mas com uma distribuição muito desigual. Essas pacientes não respondem a medidas para perda de peso. Elas podem perder gordura normal, mas onde existe o lipedema esses inchaços e as dores serão persistentes – explana a endocrinologista, completando que o lipedema, dado o seu conhecido fator hormonal e associação a marcos como puberdade, gestação e menopausa, é mais prevalente entre mulheres e, nas raras vezes em que afeta homens, há alguma condição associada, como problemas no fígado ou hipogonadismo, marcado pela insuficiência na produção de testosterona.

Exercícios físicos contra o lipedema

 

Mesmo sem diagnóstico, mulheres acabam buscando alternativas para lidar com os sintomas e descobrem exercícios aquáticos, aliados contra o lipedema — Foto: Unsplash

Segundo Amato, pacientes costumam relatar que pernas e quadril muito grossos em relação ao corpo é uma composição corporal comum às mulheres de sua família. Dessa maneira, acabam adiando ou mesmo não buscando o diagnóstico, inclusive por não saberem que esses sinais são sintomas de uma doença específica. Todavia, o presidente da Associação Brasileira de Lipedema comenta que, na tentativa de melhorar o aspecto dos membros afetados, é comum que elas, sem um diagnóstico, coincidentemente descubram atividades que terão efeitos positivos contra o lipedema.

– Cada uma encontra um caminho. Muitas vezes, elas escolhem exatamente o exercício aquático, que faz bem nos casos de lipedema, ou fazem uma dieta que dá certo. Só que ela não fará todo o tratamento de uma vez só e terá uma melhora parcial – explica o cirurgião vascular.

As atividades físicas na água são grandes aliadas no tratamento da doença por não terem impacto e também pela pressão exercida pela água, que ajuda no retorno linfático e venoso. Exercícios físicos como yoga e pilates também podem ajudar pacientes com lipedema, devido ao aprendizado em relação à respiração. Ao respirarem melhor, elas favorecem o retorno linfático.

 

– A volta da linfa da perna para a circulação é feita pela respiração. Atividades como yoga e até o teatro são algumas maneiras de aprender a respirar adequadamente, o que nada mais é do que inspirar e expirar profundamente – completa Amato.

Tratamento

 

Dieta é importante em casos de lipedema, sendo necessário reduzir consumo de alimentos ricos em gordura, sódio e açúcar ao tratar a doença — Foto: Istock

Medidas para tratamento do lipedema:

  • Dieta balanceada e segmentada para considerar as particularidades da mulher. No entanto, no que diz respeito à alimentação, tudo começa com a inclusão de alimentos anti-inflamatórios no plano;
  • Exercícios físicos de baixo impacto, especialmente atividades aquáticas, além de yoga e pilates. Ademais dos benefícios para a melhora do retorno venoso e linfático, as atividades na água podem ser mais fáceis de executar pelas mulheres com lipedema;
  • Drenagem linfática;
  • Uso de meias de compressão;
  • Lipoaspiração realizada por médico habilitado, como cirurgião vascular.

 

Hábitos aliados contra o lipedema:

  • Não fumar;
  • Controlar o peso;
  • Praticar exercícios aquáticos;
  • Cuidar da alimentação. Nesse contexto, é importante:
  1. Evitar o consumo de sódio, açúcar e gordura;
  2. Reduzir a ingestão de alimentos industrializados e ultraprocessados, incluindo embutidos e bebidas açucaradas, como sucos prontos e refrigerantes;
  3. Priorizar o consumo de frutas, legumes e verduras;
  4. Aumentar o aporte de fibras;
  5. Comer carne vermelha de forma moderada;
  6. Reduzir o consumo de álcool;
  7. Hidratar-se adequadamente. É preciso ingerir ao menos dois litros de água diariamente.

 

Diagnóstico

 

De acordo com o médico, não há um exame que seja capaz de indicar precisamente que a mulher tem lipedema. Em casos mais avançados, o diagnóstico é mais evidente. Já quando o lipedema está no início, Amato explica que, por meio de anamnese, exames físicos e outros que corroborem o diagnóstico clínico, como ultrassom, tomografia e ressonância, o cirurgião vascular será capaz de detectar o problema. Dependendo do estágio, o enfrentamento da doença pode envolver drenagem linfática e até cirurgia. Porém, independentemente do quadro, requer a prática de exercícios e cuidados com a dieta, dado que o problema pode ser agravado, por exemplo, com o consumo de alimentos ricos em sódio e açúcar, como embutidos e ultraprocessados.

– Quem está no estágio inicial consegue controlar só com tratamento clínico. No estágio avançado, a paciente se beneficiará pouco da cirurgia. Quem se beneficia da cirurgia está nesse meio. Mas todas as pacientes se favorecem do tratamento clínico – assegura Amato, completando que, quando há casos de lipedema na família a mulher ainda sem sintomas pode consultar-se com cirurgião vascular para conhecer hábitos de vida saudáveis para o sistema vascular e que podem ajudar a evitar a progressão e os sintomas da doença.

Amato comenta que à mulher com essa doença pode ser indicado ainda drenagem linfática. Todavia, segundo o cirurgião vascular, o padrão-ouro contra a doença é a lipoaspiração, realizada por profissional habilitado para efetuar o procedimento nas pernas. Acontece de as pacientes encontrarem cirurgiões plásticos que realizam essa cirurgia nas pernas e sem saber que a causa do acúmulo de gordura nessa parte do corpo é lipedema. Com isso, não seguem com um tratamento após a lipo. O médico explica que a mulher se sentirá bem por um período de um a dois anos, mas o inchaço e demais sintomas retornarão, já que não houve o diagnóstico e tratamento clínico que essa doença demanda.

– O lipedema voltará aos pouquinhos, porque ela não aprendeu a lidar com a doença de forma clínica. Apesar de a lipoaspiração ser o tratamento padrão-ouro, tem um momento certo: quando a paciente tem consciência da doença. Antes de fazer a cirurgia, a mulher precisa aprender a lidar com o lipedema – alerta Amato.

Em relação à alimentação, a endocrinologista explica que não há uma dieta específica para tratamento do lipedema. As práticas recomendadas por Waki se assemelham àquelas indicadas para qualquer pessoa que tenha uma doença crônica ou busque uma alimentação saudável, como aumentar consumo de frutas, legumes e verduras e reduzir ingestão de alimentos industrializados, por exemplo.

– Se é uma paciente com IMC [Índice de Massa Corporal] superior a 30 kg/m², o tratamento endocrinológico será pensado como um tratamento para a obesidade. Sabemos que tanto a paciente com lipedema quanto aquela que precisa perder peso deve consumir a maior quantidade de frutas e verduras possível, aumentar o aporte de fibra na dieta, reduzir ultraprocessados, bebidas açucaradas e álcool e ter boa hidratação – completa Waki, acrescentando que o endocrinologista também tem o papel de evitar que a paciente com lipedema ganhe peso posteriormente.

Acolhimento da paciente

 

Amato analisa que o aspecto psicológico do lipedema é muito relevante. Como muitas vezes essas mulheres recebem o diagnóstico de obesidade, embora cheguem a perder peso, continuam com a desproporção no corpo e sofrem física e emocionalmente. Por isso, essas pacientes precisam de muito acolhimento.

– Quando elas descobrem que têm lipedema, se emocionam, porque damos um nome para algo que perseguiram a vida toda. Com o diagnóstico, mudamos a jornada delas, que muitas vezes estavam na jornada da obesidade, e não do lipedema. Na corrida contra a obesidade, ela não ganha contra o lipedema. O diagnóstico dá uma esperança, uma perspectiva de vida que elas nunca tiveram – conta o cirurgião vascular.

Waki comenta que, ainda que a doença não tenha cura, não quer dizer que a mulher com lipedema estará sentenciada a não ter qualidade de vida. Pelo contrário, com o devido apoio médico ela consegue controlar a doença. Afinal, terá as orientações para, por exemplo, escolher uma atividade física confortável para ela e se alimentar melhor, além de conhecer suas possibilidades em relação à cirurgia. Como no enfrentamento de outras doenças crônicas, a endocrinologista afirma que o foco é melhorar a qualidade de vida e diminuir o sofrimento da paciente.

– Uma queixa de dor deve ser sempre valorizada por pessoas leigas e profissionais de saúde. Se a mulher não consegue perder peso, não custa olhar para saber por exemplo se a distribuição de gordura dela é anormal. Ela passa a considerar que o problema é responsabilidade dela e desiste de levar a queixa a outro médico. Essa mulher se sente muito desamparada até chegar ao profissional que entende do assunto. Mas, se existe desconforto e sofrimento, é preciso procurar ajuda especializada. Ninguém precisa conviver com isso sozinho – conclui Waki.

Fonte: G1


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