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Médico ameaça jornalista por reportagem sobre testes irregulares com proxalutamida

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O repórter gaúcho Pedro Nakamura, do site Matinal, do Rio Grande do Sul, virou alvo de ameaças feitas pelo médico Ricardo Ariel Zimerman, após ter revelado em uma reportagem na terça-feira (24) o uso irregular do medicamento proxalutamida em uma paciente diagnosticada com covid-19 no Hospital da Brigada Militar do Rio Grande do Sul. Cerca de 50 outros pacientes internados no hospital público em março deste ano teriam recebido a droga que não é autorizada pela Anvisa.

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A proxalutamida é considerada a nova bala de prata do presidente Jair Bolsonaro contra a covid-19, e é objeto de um estudo controverso conduzido pelo médico Flávio Cadegiani. Aliás, Cadegiani e Zimerman são parceiros e foram os criadores do método do TrateCov, o aplicativo lançado – e depois abandonado pelo Ministério da Saúde – que supostamente auxiliaria médicos a diagnosticar a covid-19 e que receitava o kit covid.

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De acordo com o jornalista, ainda na apuração da reportagem, uma mensagem sua para um fonte foi enviada à Zimerman, que teria então ido às redes sociais e iniciado os ataques. Em posts em sua conta do Instagram, o médico gaúcho faz diversas acusações e ameaças à Nakamura: “Pedro Nakamura mantem seu assédio em busca de informações que são protegidas por sigilo legal. […] Será processado por injúria.”

A partir daí, o repórter do Matinal começou a receber mensagens com ameaças e xingamentos em suas redes sociais. O site do veículo gaúcho também sofreu ataques com o objetivo de derrubar a página.

“Ele inflamou os seguidores dizendo que eu ameacei todo o corpo clínico do hospital”, conta Nakamura que diz que irá continuar a investigar o tema. “Mas eu não me sinto intimidado na medida em que eu não me vejo deixando esse assunto de lado. O nosso trabalho é importante e denunciamos algo que esse grupo de médicos estava se esforçando para esconder.

Para Filipe Speck, diretor-executivo do Matinal, ‘reportagens feitas por jornais digitais têm outra dinâmica de impacto, e embora hoje seja mais fácil para um jornal pequeno trazer à tona as disfunções do País, gerar um debate racional e produtivo virou algo extremamente difícil. Os ataques ao Matinal e ao Pedro mostram uma postura refratária, sem comprometimento com a democracia’.

Conep

Em nota, o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) confirma que não recebeu qualquer solicitação por parte de Flávio Cadegiani para a realização de estudo com a substância proxalutamida no Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre. Dessa forma, o medicamento foi utilizado, tanto por Cadegiani quanto por Zimerman, de forma irregular em testes com pacientes na capital gaúcha.

De acordo com o Conep, mesmo em pesquisas multicêntricas, “é indispensável o centro de pesquisa coordenador elencar os centros participantes, informando o pesquisador responsável em cada um e o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) que o acompanhará.”

“O Flávio Cadegiani está tentando dizer que o Ricardo Zimerman é um braço do estudo em Porto Alegre. Mas o Hospital da Brigada Militar do Rio Grande do Sul não está incluído como centro de pesquisa do estudo do uso da proxalutamida. Ele poderia ter feito uma emenda incluindo, mas não tem como reconhecer porque nunca solicitaram”, diz o coordenador do Conep, Jorge Venâncio.

Repúdio

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota condenando o assédio do médico André Zimerman contra o jornalista do Matinal.

“A tática de expor conversas com jornalistas que, de maneira responsável e observando os princípios éticos da profissão, buscam a versão de pessoas apontadas como responsáveis por fatos levantados durante a apuração de reportagens é uma forma de intimidação cada vez mais frequente no Brasil. Em lugar de prestar contas de suas ações à sociedade, tais pessoas preferem mobilizar suas audiências nas redes sociais para atacar o mensageiro”, diz trecho da manifestação da associação.

Também a Associação de Jornalismo Digital (Ajor) manifestou repúdio às ameaças sofridas por Pedro Nakamura.

“A Ajor acompanha o caso e avalia em conjunto com o Grupo Matinal diferentes medidas para proteger o profissional, a empresa jornalística e o direito de os cidadãos se informarem.”

Fonte: Congresso em Foco Online

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