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Médicos aderem a óculos 3D para realizar cirurgias cerebrais

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Um pano cirúrgico azul foi posto por cima do outro. A paciente desapareceu, e apenas um triângulo de seu couro cabeludo raspado estava à vista.

“Dez segundos de silêncio na sala, por favor”, disse o Dr. David J. Langer, presidente de neurocirurgia do Hospital Lenox Hill em Manhattan, que faz parte da Northwell Health. Fez-se silêncio, até que ele disse: “Ok, vou pegar a tesoura”.

Sua paciente, Anita Roy, 66, tinha o fluxo sanguíneo do lado esquerdo do cérebro prejudicado, e Langer estava prestes a realizar uma cirurgia de desvio em artérias finas e delicadas para restaurar a circulação e prevenir um acidente vascular cerebral.

A sala de operações estava escura, e todos estavam usando óculos 3D. Lenox Hill é o primeiro hospital nos Estados Unidos a comprar um equipamento conhecido como videomicroscópio, que transforma a neurocirurgia em uma expedição imersiva e, às vezes, vertiginosa no cérebro humano.

Ampliado em um monitor de 55 polegadas, os fios do cabelo raspado no couro cabeludo de Roy foram aumentando até se parecerem com vergalhões. As tesouras e o bisturi pareciam grandes como tacos de hóquei, e apareciam na tela tão vividamente que os observadores sentiam vontade de se esquivar.

“Isto é como pousar na lua”, disse um neurocirurgião que estava de visita para assistir e aprender.

Bèatrice De Gèa/The New York Times

O equipamento produz imagens digitais tridimensionais, ampliadas e de alta resolução de campos cirúrgicos, e permite que todos na sala vejam exatamente o que o cirurgião está vendo. O videomicroscópio tem uma capacidade única de capturar “o brilho e a beleza da anatomia neurocirúrgica”, disse Langer.

Ele e outros cirurgiões que o testaram preveem que mudará a maneira como muitas operações do cérebro e da coluna são realizadas e ensinadas. “A primeira vez que usei, disse aos alunos que isso daria a eles uma compreensão da razão pela qual optei pela neurocirurgia”, disse Langer.

Mas há mais do que apenas o espantoso fator Imax. A visão compartilhada em 3D transforma a cirurgia na ferramenta de ensino ideal. Além disso, Langer e outros médicos dizem que o aparelho é menor e muito menos incômodo do que o microscópio cirúrgico padrão e proporciona uma luz melhor.

Ele pode ser facilmente movido e posicionado para mostrar fragmentos de anatomia que os cirurgiões deviam ter de torcer e erguer seus pescoços para ver. Dois cirurgiões em lados opostos da mesa podem facilmente trabalhar juntos.

O microscópio cirúrgico padrão é enorme e requer um complicado processo de cobertura com panos cirúrgicos para garantir a esterilidade. Não é assim com o novo videomicroscópio, que é coberto com apenas uma luva que, segundo Langer, pode ser colocada como um preservativo.

A neurocirurgia pode levar muitas horas, durante as quais cirurgiões operam com lentes ou microscópios de aumento geralmente olhando para baixo, ou seja, com o pescoço curvado. À medida que o tempo passa, o desconforto torna-se dor, e ao longo dos anos lesões crônicas no pescoço e nas costas podem fazer parte da carreira de alguns cirurgiões. O novo dispositivo permite que eles trabalhem olhando para a tela 3D à frente, usando a imagem como guia para as mãos.

“Não acho que haja dúvidas de que isso será valioso”, disse Langer, mas acrescentou: “Para os mais conservadores e aqueles que não estão dispostos a tentar coisas novas, talvez eles não consigam superar a corcunda e testar esse processo”.

Bèatrice De Gèa/The New York Times

O aparelho da Lenox Hill é chamado de Orbeye, fabricado pela Somed –empresa da Olympus e Sony– e comercializado pela Olympus. Langer recebeu pela consultoria à empresa.

Uma série de outros centros médicos nos Estados Unidos também testou o Orbeye. O Dr. Charles L. Branch, chefe de neurocirurgia no Centro Médico Batista Wake Forest, em Winston-Salem, Carolina do Norte, disse que seu primeiro paciente a usá-lo foi um pimentão vermelho.

“Fiz um buraco e tirei sementes do centro. Queria ter certeza de que era possível ver por uma abertura tubular. Funcionou muito bem.”

Ele rapidamente mudou para humanos e usou o equipamento em cerca de 20 cirurgias de coluna vertebral, todas minimamente invasivas e realizadas através de um tubo.

“No primeiro caso, quase senti como se estivesse enjoado em um carro”, disse ele. Mas foi uma sensação transitória, e ele se adaptou rapidamente.

“É muito legal. É como estar no Imax. Com ele, não apenas o cirurgião, mas todo mundo na sala pode ver o que está acontecendo. Em vez de ter que me curvar sobre o microscópio e esticar o pescoço ou as costas, posso ficar em pé confortavelmente, olhar para a tela grande na minha frente e trabalhar com as mãos”, disse Branch.

Ele descreveu a câmera como “uma lata de refrigerante em uma vara sobre meu ombro”, fácil de mover, de ajustar e de inclinar para as posições que não são possíveis com um microscópio.

Branch disse que há 10 neurocirurgiões em seu departamento. “Todos os que o usaram viram algum benefício potencial, mas alguns preferiram não utilizá-lo em todos os casos.”

Ele contou que a empresa emprestou um Orbeye ao hospital para que os cirurgiões o experimentassem, e que esperava que o hospital comprasse alguns dos aparelhos; mais do que um, porque muitas cirurgias são feitas lá. Branch afirmou que não tinha vínculos financeiros com a empresa.

“Eu não acho que seja só uma novidade passageira. Acredito que será ampla e rapidamente adotada.”

Mark Miller, porta-voz da Olympus, disse que o preço da Orbeye seria semelhante ao dos microscópios cirúrgicos padrão, que variam de US$ 200 mil (cerca de R$ 629 mil) a US$ 1 milhão ( R$ 3,1 mi) . O sistema que a Lenox Hill comprou custou cerca de US$ 400 mil (R$ 1,2 mi), disse Langer. Outras empresas também estão tentando entrar no mercado.

“Acho que vamos ver três ou quatro produtos competitivos aparecerem. Isso vai baratear a tecnologia”, disse Branch.

Bob S. Carter, chefe de neurocirurgia do Hospital Geral de Massachusetts, disse que usar o Orbeye era como ter “olhos de Super-Homem”, mas acrescentou que seu hospital também estava avaliando outros aparelhos e ainda não decidiu o que comprar. A tecnologia, segundo ele, é “o caminho do futuro”.

Roy, assistente administrativa aposentada que vive no Bronx, observou os primeiros sintomas preocupantes em 2015: episódios de fraqueza na mão direita e problemas para falar. Exames em um hospital local descartaram um acidente vascular cerebral. Mas os episódios ocasionais continuaram, e em julho de 2017, ao se recuperar de uma cirurgia cardíaca no Lenox Hill, ela teve uma convulsão.

Uma bateria de testes descobriu que ela tinha uma doença cerebrovascular oclusiva crônica, conhecida como doença moyamoya, uma condição rara identificada pela primeira vez no Japão. O nome significa “sopro de fumaça”, relativo aos raios-X dos pacientes, que mostram uma nuvem de vasos sanguíneos frágeis que brotam no cérebro onde os vasos normais são bloqueados.

Provavelmente existem várias causas, que ainda não são bem compreendidas. Muitos pacientes são crianças. A condição pode progredir e levar a múltiplos AVCs, declínio mental e, em adultos, morte por hemorragia.

Bèatrice De Gèa/The New York Times

Roy não teve dúvidas: com a esperança de evitar um grande acidente vascular cerebral que poderia paralisá-la ou matá-la, optou pela cirurgia.

Sua operação, em 15 de dezembro, foi a primeira do tipo na qual Langer realizou com o Orbeye, embora ele e seus colegas já o tivessem usado em outras cirurgias. Esse tipo de desvio é uma das operações neurocirúrgicas mais difíceis, e requer a junção de artérias que têm apenas cerca de um milímetro de diâmetro. Alguns colegas dizem que Langer é um dos poucos cirurgiões do mundo com habilidade e experiência para realizá-la bem.

Um vaso no couro cabeludo de Roy –que Langer chamou de “artéria Michael Jordan”, porque pode ser vista pulsando em sua têmpora– seria redirecionado para alimentar uma artéria mais profunda, cujo suprimento de sangue havia sido cortado.

A extremidade cortada de um ramo da artéria do couro cabeludo seria costurada em uma abertura na lateral do vaso mais profundo. Outro ramo da artéria do couro cabeludo seria simplesmente colocado sobre o cérebro de Roy, com a expectativa de que os ramos crescessem no tecido nervoso, porque células privadas de oxigênio secretam substâncias que podem estimular o crescimento dos vasos sanguíneos.

O procedimento começou com cirurgiões assistentes colocando uma sonda de ultrassom na têmpora de Roy para detectar o pulso da artéria do couro cabeludo e, em seguida, marcar o caminho do vaso com tinta roxa para que Langer soubesse exatamente onde cortar. Então ele começaria o processo meticuloso de libertar os dois ramos da artéria de seus tecidos circundantes.

Quando a artéria do couro cabeludo ficou livre, os cirurgiões pegaram uma broca e uma serra para o crânio de Roy, removendo um disco de osso com cerca de três centímetros de diâmetro. Ampliado 15 vezes no monitor, seu cérebro, repleto de vasos sanguíneos vermelhos, brilhou na luz e pulsou com cada batimento cardíaco.

Foram necessários cerca de 10 pontos para unir a artéria do couro cabeludo à artéria no cérebro, usando uma agulha curva do tamanho de um cílio e um fio fino mal visível a olho nu.

“Os dois primeiros pontos são os mais difíceis. Eles definem tudo. Estou costurando verticalmente, mas não tenho problemas para ver. Está bem ampliado”, disse Langer.

Um deslize poderia fechar facilmente os vasos frágeis e escorregadios em vez de juntá-los. Cada movimento era claramente visível para todos na sala.

Quando a costura estava feita, Langer usou uma sonda de ultrassom para verificar o som rítmico que significaria que o sangue estava fluindo através do canal recém-criado.

Inicialmente, o fluxo era fraco, e outro neurocirurgião, olhando o monitor, sugeriu dissecar um pouco mais para afrouxar a artéria receptora. Langer seguiu seu conselho. Funcionou.

A visão clara da tela 3D torna esse tipo de palpite possível.

“Tenho que estar aberto a isso. Há muitos que são egocêntricos e não querem ouvir ninguém.”

O próximo passo foi colocar o outro ramo da artéria do couro cabeludo diretamente no cérebro de Roy. Logo, os cirurgiões prendiam o disco do crânio –que foi entalhado para permitir que a artéria reencaminhada passasse– de volta ao lugar com pequenas placas de fixação.

Às quatro horas, seis horas depois do início da cirurgia, Roy, sem os panos azuis no rosto, piscava no brilho da sala de operações e movia os braços e as pernas. Um anestesista disse a ela que a cirurgia havia terminado e que tinha corrido bem. Roy conseguiu dar um sorriso sonolento.

Três dias depois, de roupão e meias vermelhas, ela estava sentada na cama, conversando com o marido durante o almoço. Era difícil acreditar que passara recentemente por uma cirurgia no cérebro.

“Eu me sinto bem”, disse ela.

Sem a operação, para pacientes como Roy, estima-se que o risco de um AVC seja de 20% a 50% ou mesmo maior dentro de cinco anos, disse Langer. Após uma cirurgia bem-sucedida, o risco cai para uma porcentagem pequena ao ano ou menos.

Roy, que teria alta naquele dia, estava mais do que pronta para sair do hospital. “Preciso de um pouco de ar”, disse. Ela estava ansiosa para caminhar pela cidade com seu marido e pegar um ônibus expresso para o Bronx.

“Tenho sorte”, disse ela.

Existem dois tipos de AVC. VERDADE: há o isquêmico, mais comum (cerca de 80% dos casos) e provocado pela falta de sangue em determinada área do cérebro, decorrente da obstrução de uma artéria; e o hemorrágico (20%), causado pelo rompimento de um vaso intracraniano que, como o próprio nome indica, promove uma hemorragia cerebral. “Para diferenciar um tipo do outro, é fundamental fazer um exame detalhado do cérebro, seja por tomografia ou ressonância magnética”, informa o neurologista Leandro Teles. Existe outra condição, chamada de Ataque Isquêmico Transitório, que aparece quando há interrupção temporária de fluxo sanguíneo, gerando sinais iguais aos do AVC que se revertem espontaneamente em curto período de tempo. Tal ataque, no entanto, deve ser visto como um aviso de que algo está errado, para que o derrame de fato não ocorra

Em todos os casos de derrame, são necessários procedimentos cirúrgicos. MITO: uma minoria se beneficia de cirurgia. O AVC geralmente demanda condução clínica com medicamentos. “Se houver um sangramento muito grande, pode ser necessária uma drenagem cirúrgica”, explica o neurologista Leandro Teles

A pessoa que chega com suspeita de AVC pode ser atendida antes de outros pacientes. VERDADE: “O derrame é uma emergência médica. O paciente deve ser adequadamente socorrido e conduzido a um hospital referência. Lá, tem que ser priorizado e atendido com urgência. Após a avaliação inicial, terá que fazer uma tomografia para identificar o tipo de AVC e iniciar o tratamento específico. No caso do isquêmico, há procedimentos possíveis para desobstrução da artéria que devem ser realizados até quatro horas e meia após o início dos sintomas. Por tudo isso, o socorro rápido é fundamental”, diz o neurologista Leandro Teles. “Existem até protocolos para tratamento nas primeiras horas do AVC que podem reverter o mal completamente”, completa o neurocirurgião Paulo Porto de Melo

O AVC deixa sequelas. PARCIALMENTE VERDADE: “Nem todos os AVCs provocam isso”, sustenta o neurocirurgião Paulo Porto de Melo. Em primeiro lugar, devemos considerar como sequela qualquer deficit neurológico que se mantém por um período superior a seis meses. O derrame leva a uma lesão no cérebro, sendo que a sequela dependerá diretamente do local em que o distúrbio ocorreu. Por exemplo: um paciente que teve um AVC no lado esquerdo, em cima da área que movimenta a mão, pode perder o movimento da mão direita (a função motora é cruzada). Mas, antes de seis meses, é possível ocorrer recuperação total ou parcial da disfunção, pois acontece de outras regiões compensarem o problema gerado. “Após o Acidente Vascular Cerebral, as consequências mais comuns são: dificuldade de movimentar um ou mais membros (geralmente de um lado do corpo), entraves de comunicação (expressão ou compreensão), engasgos, problemas de coordenação motora, sensibilidade reduzida em determinado local, visão dupla e complicação para enxergar. E tudo isso, vale insistir, dependendo do lugar lesado e da sua função. Existem zonas cerebrais sem uma atividade crítica: se ocorrer um AVC nela, este pode até passar despercebido ou promover sintomas transitórios ou muitos sutis. Em compensação, há territórios em que uma pequena lesão terá resultado catastrófico pela densidade de estruturas nobres naquele espaço”, conclui o neurologista Leandro Teles

O problema acomete mais as pessoas idosas. VERDADE: o AVC é mais comum na população acima dos 65 anos. Mas não exclusivamente: cerca de 10% dos casos incluem indivíduos abaixo dos 55 anos, e 4%, abaixo dos 45 anos. “Como podemos ver, não é um número desprezível em relação ao público jovem, que também está sujeito ao transtorno por malformações congênitas nos vasos sanguíneos cerebrais, problemas de coagulação, doenças do coração e consumo de substâncias como fumo e drogas”, diz o médico Leandro Teles

Fatores emocionais podem levar ao derrame cerebral. INCONCLUSIVO: deprimidos, ansiosos ou muito estressados têm mais hipertensão, diabetes, colesterol alto e obesidade, com chance de sofrer um AVC ou um infarto. “Os fatores emocionais podem elevar o cortisol e a adrenalina, alterando uma série de dinâmicas no organismo que predispõe a doenças cardíacas, arritmias e picos pressóricos, por exemplo. A relação é indireta mas deve ser levada em conta. É altamente recomendável o controle do sistema nervoso, o sono adequado e a adoção de atividades sociais, de relaxamento e de lazer”, recomenda o médico do Hospital Oswaldo Cruz, Leandro Teles. O colaborador do Departamento de Neurocirurgia da Universidade de Saint Louis (EUA), Paulo Porto de Melo, por sua vez, defende que “não há estudo científico comprovando tal associação”

Quem tem doença crônica, como hipertensão e diabetes, é mais propenso. VERDADE: tais enfermidades estão associadas à aterosclerose, doença crônica dos vasos que leva ao acúmulo de placas na parede interna, podendo obstruir a passagem do sangue. A hipertensão mal controlada também fragiliza os vasos cerebrais e predispõe ao rompimento do mesmo, levando ao AVC hemorrágico. “Tanto a hipertensão quanto o diabetes devem ser muito bem controlados, assim como o colesterol alto, a obesidade, o sedentarismo, a má alimentação e as doenças cardíacas”, recomenda o especialista em neurologia Leandro Teles

Estresse e esforço físico extremo podem provocar a disfunção. VERDADE: alguns estudos apontaram que pessoas estressadas apresentam maior risco de AVC em comparação às que não se encontram nesta condição. “Isso, no entanto, somente acontece em casos bem específicos. Exemplo: o estresse crônico elevaria o cortisol no sangue, agravaria hipertensão e diabetes e complicaria o controle do colesterol. A atividade física extenuante, por sua vez, levaria a arritmias em pacientes predispostos, fazendo subir a pressão, que facilita o AVC hemorrágico, e provocando a ruptura de aneurismas em quem tem malformações nas artérias”, salienta o neurologista Leandro Teles. Além do controle do estresse, ele sugere que a prática de modalidades esportivas fortes seja monitorada por profissionais habilitados e individualizada ao limite de cada um. “A ginástica moderada, por outro lado, feita de forma regrada, promove uma estabilização dos níveis de pressão e, consequentemente, melhor performance do sistema cardiovascular, reduzindo os riscos de derrame”, complementa o neurocirurgião Paulo Porto de Melo

É difícil perceber que o AVC está ocorrendo. MITO: os sintomas surgem repentinamente e, uma vez sabendo quais são, dá para identificar o perigo iminente. Os principais sinais são: enfraquecimento, adormecimento ou paralisação de braço ou perna de um lado do corpo; perda de força na face, o que pode causar desvio da boca para um lado (ela fica torta); alteração da visão, com turvação ou perda especialmente de um olho, episódio de visão dupla ou sensação de “sombra” sobre a linha do que se enxerga; dificuldade de falar ou entender o que os outros estão dizendo; dor de cabeça súbita, forte e persistente; perda da capacidade de engolir; e tontura, desequilíbrio, falta de coordenação ao andar ou mesmo queda

Estar atento aos sinais ajuda a minimizar o quadro. VERDADE: a percepção precoce dos sintomas e a tomada rápida de conduta levam a um prognóstico melhor. “A condução do paciente a um hospital de grande porte facilita o manejo e favorece a tentativa de desobstrução da artéria antes de a lesão se tornar irreversível”, diz o neurologista formado pela USP, Leandro Teles. Vale destacar que a grande maioria dos AVCs isquêmicos não se inicia com um deficit neurológico significativo. “O quadro evoluirá progressivamente ao longo das primeiras horas, mas, se o atendimento for acelerado, diversas medidas serão tomadas para frear o avanço”, insiste o neurocirurgião formado pela Unifesp, Paulo Porto de Melo. Quando uma área do cérebro fica privada de sangue (como no AVC isquêmico), ela para de funcionar mas demora um certo tempo para que os neurônios morram. A ação sem demora propicia um ambiente favorável para o retorno do fluxo de sangue e pode salvar uma região ainda viável. “Dizemos que, no AVC, tempo é cérebro, salienta Teles. No caso do isquêmico, a ligeireza previne a lesão permanente da área cerebral afetada e diminui as chances de sequelas e morte; no hemorrágico, igualmente afasta a ameaça de lesões permanentes e diminui a mortalidade e a ocorrência de novas hemorragias

Diversos fatores podem causar o problema. VERDADE: no AVC isquêmico, os fatores de risco mais importantes são idade avançada, história familiar, diabetes, tabagismo, hipertensão arterial, colesterol alto, sedentarismo, obesidade e males cardíacos (como arritmias, coração fraco e problemas nas válvulas). Já o AVC hemorrágico, destaca o neurologista Leandro Teles, surge por hipertensão mal controlada, aneurismas cerebrais e dificuldades de coagulação, “sendo mais comum em homens com idade acima de 50 anos”. Entre fatores raros para este último tipo de derrame, estão tendência genética à trombose, uso de anticoncepcional associado ao tabagismo ou à enxaqueca com aura (tipo que, além dos sintomas normais da cefaleia, apresenta outros relacionados ao sistema nervoso central, como distúrbios visuais), endocardite (infecção no coração) e uso de drogas

Pílula anticoncepcional aumenta o risco de derrame entre as mulheres. VERDADE: alguns estudos atribuem um pequeno aumento no perigo de AVC em mulheres que usam pílula anticoncepcional e apresentam doenças genéticas que favorecem a coagulação (trombofilias), fumam ou têm enxaqueca com sintomas neurológicos (aura). Por isso, diz o neurologista Leandro Teles, é recomendado evitar o tabagismo concomitante ao uso de anticoncepcionais ou reposição hormonal, assim como anticoncepcionais em mulheres com este tipo de cefaleia. “É importante frisar que o anticoncepcional isoladamente não aumenta o risco, assim como a reposição hormonal feita em casos selecionados. O problema é a conjunção de fatores como genética, cigarro, anticoncepcionais, enxaqueca e reposição hormonal, por exemplo”. O neurocirurgião Paulo Porto de Melo conclui observando que pílulas de alta dosagem aumentam a ameaça de AVC isquêmico

A predisposição genética é um indício de ocorrência do AVC. VERDADE: a história familiar de derrame aumenta o perigo de um parente próximo apresentar um evento. Por isso, é fundamental que quem teve pessoas próximas vitimadas comecem desde cedo a controlar a alimentação, praticar atividade física, realizar check up periódico e monitorar doenças clínicas, sendo acompanhado preventivamente com mais cuidado

Até o simples ato de assoar o nariz pode levar ao derrame. VERDADE: segundo artigo publicado na Revista Stroke: Journal of the American Heart Association, assoar o nariz pode ser também a causa para um AVC nas pessoas que têm um aneurisma cerebral e não sabem. “O fato pode ocorrer, raramente, em portadores de aneurismas ou microaneurismas cerebrais de nascimento ou adquiridos por hipertensão grave”, diz Leandro Teles, explicando que o ato eleva a pressão arterial e aumenta o estresse na parede do vaso. “Não é que assoar cause o derrame, mas pode ser o gatilho para desencadear uma situação patológica crítica. Outro hábito que merece atenção é espirrar com o nariz tapado: convém evitar, pois promove uma elevação pressórica prejudicial em quem tem predisposição intensa a sangramento cerebral”

Medicações para controlar o colesterol diminuem o risco de derrame cerebral. VERDADE: ao reduzir o colesterol, elas também baixam as placas de gordura encontradas nas paredes dos vasos, que são um importante detonador de AVC por dificultar o fluxo na artéria ou lançar pequenos pedaços de placa e obstruir vasos menores dentro do cérebro. “Por isso, quando o paciente tem colesterol alto, ou mesmo colesterol normal com grandes placas de ateroma, tal remédio é usado”, explica o neurologista Leandro Teles

O consumo de café potencializa o risco. MITO: uso moderado de café não aumenta essa chance. No entanto, o abuso da cafeína pode elevar os níveis pressóricos e desencadear ansiedade. O recomendado é consumir com moderação: duas a três xícaras pequenas ao dia. “Em alguns estudos, a cafeína mostrou até efeito protetor de AVC. De qualquer forma, a dica é sempre não exagerar”, enfatiza o neurologista Leandro Teles

Após repousar, a pessoa que teve AVC pode retomar sua rotina. VERDADE: depois do episódio, é preciso repouso, tratamento e investigação da causa. Uma vez que o paciente se recupere e esteja protegido de novos eventos, deve aos poucos reiniciar suas atividades rotineiras. Evidentemente, ressalta o neurologista Leandro Teles, isso dependerá do grau de sequela, que é variável de caso para caso. “Há quem apresente uma evolução excelente, enquanto outros necessitarão de adaptações. De qualquer forma, a reabilitação sempre terá como foco o retorno da funcionalidade, mais próxima possível do normal”

Praticar exercícios físicos e manter o peso em dia são atitudes que nos protegem das doenças do coração. VERDADE: atividade física regular, associada ao hábito de não fumar e a uma dieta inteligente, é capaz de reduzir pela metade o risco de derrame cerebral. “Práticas regulares, principalmente aeróbicas, são ótimas para a saúde como um todo, reduzindo a ansiedade, melhorando o sono e protegendo contra diabetes, hipertensão e distúrbios do colesterol. A obesidade também é um fator de perigo vascular, principalmente o acúmulo de gordura intra-abdominal (obesidade visceral). É fundamental, portanto, manter o peso ideal: Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 20 e 25, calculado pelo peso dividido pela altura ao quadrado”, informa o neurologista Leandro Teles. Exemplo: uma pessoa com 1,75 m e 65 kg: 1,75 x 1,75 = 3,0625; 65 : 3,0625 = 21,2244, que é o IMC

Não há como prevenir o derrame cerebral. MITO: vários fatores são um gatilho para o problema. Então, cuidar da saúde é determinante para afastar o risco. Controlar hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto e doenças do coração, por exemplo, é meio caminho andado nesse sentido, defende o neurocirurgião Paulo Porto de Melo. Vale, ainda, fazer atividade física regular, evitando o sedentarismo, não fumar e não beber exageradamente. “Alguns pacientes se beneficiarão, ainda, de medicamentos específicos para afinar o sangue e garantir uma proteção maior contra isquemias”, completa o neurologista Leandro Teles

Uma dose de álcool por dia é eficaz para diminuir a incidência do distúrbio. MITO: conforme diz o neurocirurgião Paulo Porto de Melo, não há estudo científico com nível de evidência alto que sustente tal afirmação. “A recomendação de consumo regular é restrita ao vinho tinto (por causa do resveratrol, capaz de controlar os níveis de colesterol) e para pacientes selecionados, que não apresentem restrições ao consumo de álcool como risco de abuso, doenças associadas e uso de medicamentos hepatotóxicos. Tal recomendação é feita de forma individual e não para toda a população”, destaca o neurologista Leandro Teles

Comer frutas e verduras todos os dias reduz o perigo da doença. VERDADE: conforme observa o neurocirurgião Paulo Porto de Melo, alimentação saudável, por reduzir os níveis de colesterol e melhorar a pressão arterial, minimiza a ocorrência de distúrbios vasculares e AVC. A Associação Americana do Coração recomenda a ingestão de cinco porções de frutas e verduras por dia para beneficiar a saúde dos vasos, com redução de perigo de infarto e derrame.

Fonte: BOL Notícias

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