Selic – O Comitê de Política Monetária (Copom) começa a definir os primeiros passos de 2020. Com decisão sobre a Selic programada para o começo da noite desta quarta-feira (5), a expectativa é de mais um corte. Para o mercado, a redução da taxa básica de juros de 4,5% para 4,25% é dada como quase certa.
Pedro Paulo Silvério, economista-chefe da Nova Futura, acredita que os efeitos do coronavírus sobre a economia possam estimular o Copom a baixar a Selic mais uma vez. Como o Brasil tem uma ligação muito forte com a China, o surgimento do coronavírus vai impactar, efetivamente, as estimativas de crescimento para este ano, disse. Para Silvério, a taxa de juros pode cair para até 4% neste ano.
Mas, mais importante que o corte é a comunicação do Banco Central sobre os próximos passos, afirmou Camilo Cavalcanti Jr., superintendente de investimentos da Infinity Asset. Segundo Cavalcanti, a sinalização de novos cortes pode elevar as taxas de juros de longo prazo, já que isso poderia ter efeitos sobre a inflação. Hoje a expectativa de inflação está bem ancorada, mas se subir, vai precisar elevar os juros, e se elevar, vai ser muito rápido.
Embora acredite que o corte de juros já esteja bastante precificado no valor das ações, Cavalcanti ainda vê algum espaço para os papéis se valorizarem nos próximos dias. Caso o Copom opte por manter a taxa de 4,5%, pode tirar um pouco do ímpeto de curto prazo, comenta.
CEO do Constância Investimentos, Cassiano Leme ressalta que, de imediato, a redução da Selic tem impacto na avaliação das empresas, já que a taxa é utilizada para avaliar ativos no longo prazo. Na prática, a queda dos juros barateia os empréstimos e favorece companhias mais endividadas. Isso traz consequências positivas porque induz as empresas a investirem, disse.
Um dos primeiros setores a reagirem ao corte de juros é o varejo. De acordo com o economista Silvério, isso ocorre porque a taxa de juros mais baixa tende a aumentar o nível de emprego e consequentemente, a renda das famílias, estimulando o consumo. A redução da Selic também induz os bancos a aumentarem a oferta de crédito e as pessoas passam a ter dinheiro para comprar bens duráveis, como eletrodomésticos.
O crédito mais fácil também pode impactar positivamente a construção civil, uma vez que tanto a compra dos terrenos como a dos imóveis costumam ser financiadas . O setor imobiliário depende muito dessas taxas de longo prazo e com ela mais barata a margem de lucro fica maior. Por isso, as ações do setor podem subir rápido, em caso de corte de juros, comentou Cavalcanti.
No ano passado, quando a Selic saiu de 6,5% para 4,5%, as construtoras passaram por forte valorização na Bolsa. Em 2019, o índice IMOB, composto por 17 empresas do setor listadas na B3, subiu 70% mais do que o dobro da valorização do Ibovespa, que teve alta de 31,5%.
A maior oferta de crédito também pode ser benéfica para os bancos. A tendência é que, com isso, eles consigam compensar a perda de receita com o float (empréstimo do dinheiro depositado por correntistas), afirma Silvério.
Por outro lado, na visão de Camilo Cavalcanti, as seguradoras podem ser mais prejudicadas com a queda da Selic. Normalmente, elas aplicam o dinheiro do seguro em investimentos mais conservadores, como títulos públicos. Então, cada vez que tem corte de juros, tira um pouco do ganho na margem, disse.
Já a menor rentabilidade dos títulos tende a favorecer a B3, já que a procura por alternativas de investimentos em renda variável aumenta. Desde 2018, já teve uma migração muito grande e isso deve continuar acontecendo. Mas a redução de 0,25 p.p. sozinha não tem efeito tão grande. Não é indo para 4,25% que vai acelerar o processo, avalia Cavalcanti
Segundo Cassiano Leme, a queda dos juros também não deve ter tantos efeitos sobre as empresas de commodities. Elas podem ser beneficiadas na parte da dívida. Mas, no caso da Vale, por exemplo, o principal produto depende do mercado internacional. Então a taxa Selic não impacta na demanda e nem no preço, afirma.
Fonte: Exame