O presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista a um canal no YouTube que ameaçou mandar transferir um médico militar que resistiu a receitar hidroxicloroquina para ele quando o chefe de Estado estava com sintomas de Covid-19.
Em julho de 2020, Bolsonaro anunciou que estava infectado pelo novo coronavírus (vídeo abaixo). Segundo afirmou na ocasião, ele tomou hidroxicloroquina, remédio que defende como tratamento para a Covid-19, embora cientificamente esteja comprovada a ineficácia do medicamento para essa finalidade.
Bolsonaro deu a informação sobre a ameaça de transferência do médico em uma conversa com apoiadores, exibida em um canal no YouTube. Embora tenha sido transmitida nesta terça-feira, a conversa do presidente com os integrantes do canal foi gravada em 24 de maio, segundo a agenda oficial.
“Eu mesmo quando senti o problema, né, chamei o médico. Falei: ‘Ó, tô com os sintomas’. Estava brocha. Daí ele falou: ‘Tá com todos os sintomas’ [entrevistador diz então que Bolsonaro é imbrochável]. Pois é, estava meio brocha. E ele falou para mim: ‘Tá com sintomas, vamos fazer o teste'”, declarou.
Em seguida, segundo o presidente, ele pediu que fosse receitada cloroquina, mas o médico resistiu.
“Falei: ‘Me traz aquele remédio’. ‘Não, não, não’. ‘Médico militar, eu sou capitão’. ‘Não, não, não’. Eu falei: ‘Traz o remédio porque o exame… só vai sair o resultado amanhã, pode ser tarde demais’. ‘Ah, mas protocolos nossos’. Falei: ‘Traz o remédio ou te transfiro para a fronteira agora, democraticamente’. Pronto. Tomei, e no dia seguinte estava bom. Pô, cara, se esperar mais um tempo, já era”, disse Bolsonaro.
Na época em que teve Covid-19, o presidente afirmou que chegou a ter febre de 38 graus. Relatou também que sentiu mal-estar e cansaço.
Durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso da hidroxicloroquina e outros medicamentos para tratamento para Covid-19, contrariando estudos científicos que demonstravam a ineficácia destas substâncias contra o novo coronavírus.
Bolsonaro também atacou a vacinação contra a doença, inclusive a vacinação infantil. Ele repetia que a vacina não tem eficácia – o que é falso.
Bolsonaro chegou a questionar a honestidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por ter aprovado a vacinação infantil contra Covid e chamou quem defende a imunização de “tarados por vacinas”.
O YouTube removeu vídeos do canal do presidente por violação da regra que proíbe a recomendação de cloroquina e ivermectina contra Covid, uma vez que esses medicamentos não têm eficácia contra a doença.
Pelo menos 10 desses vídeos continham menções à cloroquina, apontou o levantamento da empresa de análise de dados Novelo Data. A remoção dos vídeos sobre esse tema começou após uma atualização da política de uso do YouTube.
Ao acessar os links do YouTube, é exibida a mensagem: “Este vídeo foi removido por violar as diretrizes da comunidade do YouTube”.
Fonte: G1.Globo