O Brasil tem ao todo 2.100 Santas Casas. Desse total, apenas 10% tem situação financeira equilibrada. A maioria (90%) está endividada. O dado é da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB). A dívida total chega a R$ 22 bilhões. “Muitas só não fecharam por causa de festas, campanhas e vaquinhas para arrecadar recursos”, conta o presidente da entidade, Edson Rogatti. De acordo com ele, um estudo da assessoria econômica da Câmara dos Deputados mostra que a União custeia 60% das despesas de cada um desses hospitais, quando mais de 90% dos atendimentos são para pacientes que não podem pagar ou não têm convênio médico particular.
A situação, segundo Rogatti, resulta do congelamento da tabela SUS, que deixou de ser corrigida pelos governos anteriores. “Dia desses fui mexer numa papelada e vi que recebemos hoje o mesmo valor de 2008.” Segundo ele, o setor está discutindo com o governo uma nova fórmula de financiamento dos hospitais filantrópicos e Santas Casas, e não mais a partir a tabela SUS. Na última quinta-feira (4), o governo de Geraldo Alckmin anunciou repasses da ordem de R$ 5,9 milhões em convênios, a maioria deles para Santas Casas. Na avaliação de Rogatti, que preside a Santa Casa de Palmital e também a federação paulista do setor, a transferência de recursos é um incentivo a mais, mas está longe de resolver.
Para Rogatti, a situação no estado de São Paulo é “um poquinho” melhor do que no resto do país. Um programa destina percentuais que vão de 10% a 70% sobre o valor repassado pelo SUS, conforme a complexidade do atendimento prestado. Ou seja: se uma Santa Casa que presta atendimento em alta complexidade, como cirurgias de grande porte, por exemplo, recebe R$ 100 do SUS, o estado complementa em 70%. O problema financeiro das Santas Casas, entretanto, também está associado a questões administrativas. No final de 2014, o Ministério Público de São Paulo chegou a defender o “impeachment” dos gestores da Santa Casa de São Paulo. Em julho daquele ano, o serviço de emergência foi fechado.
Efeitos da chikungunya comprometem até a vida afetiva dos pacientes
O leve trepidar da cadeira de rodas na curta travessia da Rua Teófilo Otoni, entre o Pronto-Socorro de Governador Valadares e o Centro de Atendimento em Arboviroses, é suficiente para infligir intenso sofrimento ao artista Diones Cláudio Kleiter, de 37 anos. Nesse curto espaço de tempo, o homem se contorce em espasmos , que dão a impressão de ser aquela uma cadeira de tortura. Até a fisionomia dele muda a cada metro rodado. A expressão de Diones é o retrato da dor que pode afligir por até dois anos os doentes crônicos da febre chikungunya, um mal que se espalhou em Governador Valadares como em nenhum outro lugar de Minas. Basta vê-los para compreender por que a febre foi batizada com o termo que significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia, onde a doença surgiu na década de 1950.
Dos 13.342 registros contabilizados pela Secretaria de Estado da Saúde, 8.976 estão na cidade do Leste de Minas. A incidência é de um caso para cada grupo de 3.334,57 habitantes – Valadares tem cerca de 278 mil –, o que torna difícil encontrar um valadarense que não conheça alguém que sofreu com a doença, sendo afastado do trabalho, da família e de seus afazeres. “Comecei a sentir a dor há 4 meses. Desta vez já tem três dias que sinto dores musculares e nas cartilagens. Minhas juntas parecem ser de gelatina. As cartilagens parecem que vão se descolar dos ossos. Meu pé parece um saco de ossos, não tem firmeza. Me dá uma tremedeira sem fim, uma dor no fundo dos olhos, de cabeça e febre alta”, conta Diones.
O artista é um dos pacientes que lotam o centro, montado pela prefeitura para dar assistência qualificada aos doentes da fase aguda da doença. Contudo, as recaídas são tão devastadoras que muitos pacientes crônicos voltam até de ambulância. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, a fase aguda pode durar algumas semanas, enquanto a crônica se estende de seis meses a dois anos. Entre os sintomas mais comuns estão a febre alta, acompanhada de artrite, vômito, diarreia, comprometimento das articulações e até da coluna vertebral. “Tenho quatro parafusos no tornozelo. A dor de ter quebrado o tornozelo e de ter os parafusos é muito menor do que a da chikungunya”, afirma Diones. Como ele, vários pacientes chegam ao centro se contorcendo em dores. Alguns não aguentam nem sequer o toque dos enfermeiros, sendo o processo de deitar nos leitos ou macas um suplício. Lá, os pacientes são hidratados e medidados para conter a dor e a inflamação das articulações. A prefeitura afirma que o grande número de casos da febre chikungunya em Governador Valadares se deve a falhas nas ações de controle aos vetores da doença em anos passados. A doença é transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus e o controle é o mesmo feito para a dengue, com foco na erradicação de criatórios do inseto. A proliferação se dá em locais de água limpa e parada. Um dos mais afetados é a ilha fluvial do Rio Doce, um local que sustenta muitos empoçamentos de água nas pedras das margens e também no lixo que é descartado de forma clandestina.
Percorrendo as margens do Rio Doce, a reportagem encontrou vários pontos de empoçamento de água próximos a áreas habitadas e em todos havia larvas que aparentavam ser do Aedes aegypti. “Aqui na ilha é um inferno de mosquitos. Eles são ferozes”, considera Diones, que é morador daquela localidade. Deitado no leito do centro depois de muito sofrimento, o artista desabafou, emocionado. “Por causa dessas dores não consigo fazer nada. Não consigo ir ao banheiro sozinho, não posso nem tomar banho. Já estou há três dias sem tomar banho, me sentindo sujo, fedido. E eu não sou sozinho não, mas só de encostar em mim já dói. Tenho uma esposa e se ela encosta em mim dói tudo. É complicado demais amar uma pessoa e não poder encostar nela”. De acordo com a Prefeitura de Governador Valadares, o município potencializou as ações da Atenção Básica, por meio das equipes de Saúde da Família; criou o Centro de Atendimento em Arboviroses, para facilitar ao máximo o acesso aos usuários 15 horas por dia, disponibilizando atendimento médico, de enfermagem e farmacêutico aos pacientes. Foi aberto ainda um serviço de Reabilitação Multiprofissional em Arbovirose, desenvolvido especialmente para pacientes de febre chikungunya e zika vírus. “Ações de controle vetorial estão sendo intensificadas em toda a cidade, especialmente nos bairros onde a infestação é mais alta. São utilizados o fumacê e ações de mobilização social como a “Operação Caça ao Mosquito”, que reúne cerca de 200 servidores para eliminar possíveis criadouros e para conscientização da população”, informou a prefeitura.
O que é?
É uma doença infecciosa febril, causada pelo vírus chikungunya (CHIKV)
O que significa Chikungunya?
Significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia. Refere-se à aparência curvada dos pacientes, entre 1952 e 1953
>> A doença pode comprometer todas as articulações, sejam pequenas ou grandes, podendo acometer a coluna vertebral também. É importante destacar que as articulações previamente danificadas têm maior chance de dano viral
Transmissão
Pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus
Duração
A fase aguda dura de alguns dias a algumas semanas. O problema é a fase crônica, que começa na sexta semana, com sintomas que envolvem músculos e articulações como artrite. Os sintomas podem durar seis meses, um ano, dois ou mais
Tratamento
O tratamento da fase aguda é feito com controle dos sintomas. A partir da fase crônica há três alternativas gerais: anti-inflamatórios não hormonais (AINH), corticoides ou metotrexato (medicamento utilizado no tratamento de artrites reumatoides)
Prevenção
Combater o mosquito Aedes aegypti. Usar repelentes e roupas compridas. Um detalhe de excepcional importância, que é esquecido com frequência, é passar repelente em quem está doente para que não contamine mais mosquitos.
Gosta de fazer trilha? Saiba os cuidados para evitar doenças
A água límpida e fresca convidava a um banho e nenhum dos 32 ciclistas mineiros que estavam numa excursão pela Chapada Diamantina desconfiaram de que o Poção, em Lençóis, estivesse contaminado pelo Shistosoma mansoni, parasita que causa a esquistossomose. A notícia da contaminação meses após a visita e a interdição do ponto turístico no último dia 5 deixaram em alerta quem gosta de caminhadas ao ar livre e praticantes do ecoturismo. Segundo especialistas, não há motivos para que o Poção deixe de ser visitado. Mas quem gosta de estar em contato com a natureza e em locais com mata e rios, por exemplo, tem que saber como se prevenir de parasitas comuns dessas áreas, como alerta o professor de Biologia Parasitária Artur Dias Lima. Segundo ele, no interior da Bahia se destacam algumas doenças que são mais comuns e podem se manifestar de maneira mais grave: esquistossomose, febre amarela e leishmaniose. “As pessoas, em geral, não conhecem esses vetores. O ideal seria que conhecessem e, ao serem picadas ou ao entrarem contato com eles, procurarem um médico”, explica.
Apesar de o alarme para a doença só ter sido despertado com a contaminação dos mineiros, a esquistossomose é comum nessa região devido à falta de saneamento básico nas cidades ribeirinhas. Ainda segundo Lima, a Bahia, Minas Gerais e Pernambuco concentram a maior parte dos casos da doença no país. Já que existe o risco, o que fazer? Segundo o pesquisador Mitermayer Galvão, se não há informações sobre o esgotamento sanitário na região, o ideal é evitar o banho. “Se você vai em um local que tem água doce e não tem informação, é melhor não entrar na água. É preciso você mapear antes de ter contato”.
Interditado
O Poção, em Lençóis continua isolado até que a investigação seja concluída. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), representantes da Vigilância Epidemiológica continuam investigando os casos e não há previsão de quando os resultados serão divulgados. Para o professor Artur Dias Lima, a vigilância epidemiológica local deveria indicar os locais onde há risco de contaminação. “É importante que a vigilância sanitária mapeie esses lugares e ela própria chame a atenção das pessoas por meio de placas”, pontua. Vale do Jiquiriçá, Vale do Almada e Chapada Diamantina são algumas das regiões que tem histórico da doença. Por isso, os especialistas recomendam que o turista busque se informar em quais cidades há risco real de se contrair a doença.
Insetos
Mas o caramujo não é vilão sozinho. Insetos também podem transmitir doenças. Febre amarela e leishmaniose são transmitidas por picadas de mosquitos. “Nesses ambientes é importante fazer uso de repelente, de uma vestimenta que diminua a picada de inseto, nas matas tem certos vetores de doenças que não conhecemos”.
Nas trilhas, por exemplo, existem áreas de matas e florestas que podem ter insetos contaminados com o protozoário leishmania. A doença afeta a mucosa do indivíduo, que às vezes pode ficar desfigurada. “No caso de trilhas em áreas de matas e florestas, pode haver o inseto flebotomíneo, que através da picada pode transmitir a doença ao homem. Essa doença traz feridas na pele e pode também afetar a mucosa do indivíduo, às vezes desfigurantes”. Os mosquitos também transmitem doenças como a febre amarela, que teve um surto recente em cidades baianas. Ela é transmitida pelo Aedes aegypti e pode levar à morte. No entanto, cidades do oeste têm a recomendação de vacinação permanente, devido ao risco de transmissão da doença. Por causa do surto, o Ministério da Saúde reforçou as doses de vacinação na Bahia na rede pública. Em Salvador, 111 unidades de referência espalhados pela cidade estão fazendo a vacinação.
Recomendações
Coordenador de planejamento e estruturação da Visitação e do Ecoturismo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Paulo Faria recomenda que ao se planejar uma viagem se pesquise sobre as doenças com mais incidência na localidade. “É importante entender, planejar e avaliar quais são as doenças com ocorrência no local. Para cada uma há um cuidado específico”. Doenças transmitidas por mosquitos, por exemplo, Faria diz é preciso pesquisar os horários de atividade deles e ressalta a importância de se manter em trilhas existentes nos locais, que são projetadas para garantir a segurança dos visitantes.
Viajantes contam com serviço da Ufba
No Brasil, a medicina do viajante é uma especialidade ainda pouco conhecida, mas que auxilia na prevenção de doenças para as pessoas que vão viajar dentro e fora do país. Em Salvador, quem precisar se consultar antes de uma viagem pode ir ao Ambulatório dos Viajantes do Hospital das Clínicas, no Canela, às quintas-feiras. O atendimento só é realizado mediante agendamento. “O viajante muitas vezes se preocupa com a passagem, hotel, se está chovendo, mas raramente se preocupa com as doenças do local que vai, qualquer que seja a viagem, e isso é fundamental de saber”, alerta a infectologista e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Jacy Andrade.
O planejamento para uma viagem deve contar ainda com um levantamento prévio da rede de saúde. Jacy também lembra a importância de saber a rede de atendimento, quais locais é possível receber atendimento em caso de acidente ou picada de algum animal peçonhento, como cobras, por exemplo. “Se vai fazer trilha, o indivíduo deve ter conhecimento em caso de acidente, onde procurar, onde ir”, diz. Para a professora, os cuidados de prevenção são essenciais para evitar contágio, mas também é necessário ficar atento caso apareçam sintomas após alguma viagem, independente da duração do passeio. “O viajante precisa estar atento e quando desenvolve algum sintoma deve informar sobre a viagem para que o médico possa associar a alguma doença”, explica a médica. Os cuidados com o ecoturismo também devem ser mantidos fora da Bahia, já que cada região do país lida com vetores diferentes. Quem visita a região amazônica deve se prevenir contra a malária, onde há incidência da doença. Além disso, os especialistas também alertam para o risco de animais peçonhentos, como aranhas, cobras, escorpiões, que possuem veneno. Para se prevenir, podem usar calçados e roupas grossas que impeçam o contato direto com a pele. Caso haja picada de algum desses animais, o visitante deve procurar imediatamente um médico para receber atendimento.
Fonte: Municípios Baianos