O governo federal informou, nesta segunda-feira, que a farmacêutica norte-americana Pfizer vai entregar ao Brasil 14 milhões de doses da sua vacina contra covid-19 até junho deste ano. O presidente Jair Bolsonaro se reuniu com o presidente da Pfizer, Albert Bourla, nesta segunda-feira, por videoconferência, e pediu a antecipação de lotes do imunizante, que foi desenvolvido em parceria com empresa de biotecnologia alemã BioNtech.
Após o encontro, o assessor especial do Ministério da Saúde, Airton Soligo, explicou que o contrato com a farmacêutica previa a entrega 99 milhões de doses este ano, sendo 2 milhões em maio, 7 milhões em junho e o restante no segundo semestre. Segundo ele, a Pfizer se comprometeu a antecipar 5 milhões de doses, a serem entregues entre maio e junho – totalizando 14 milhões de doses no primeiro semestre.
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Além disso, a entrega de cerca de 60 milhões de doses da vacina estava concentrada no último trimestre do ano, mas, de acordo com Soligo, também haverá um esforço para antecipar esses lotes para o terceiro trimestre. A vacina da Pfizer teve seu registro definitivo aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no mês passado.
O presidente Jair Bolsonaro também vai se reunir com representante da Janssen (braço da empresa Johnson & Johnson) para tratar da aquisição de 30 milhões de doses de vacina contra covid-19.
De acordo com Soligo, estados e municípios já receberam 20 milhões de doses para vacinação da população contra a doença que já matou mais de 265,4 mil pessoas no país.
São vacinas aprovadas no Brasil para uso emergencial: a CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, e a vacina Covishield, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade de Oxford e o laboratório inglês AstraZeneca.
Até o final de março, segundo o assessor, mais 31,8 milhões de doses estarão disponíveis: 25 milhões da Coronavac e 6,8 milhões da Covishield. No caso da vacina AstraZeneca/Oxford serão 3,8 milhões produzidas pela Fiocruz e 3 milhões produzidas na Coreia do Sul e entregues pela iniciativa Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em abril, a previsão é de mais 42 milhões de doses de vacinas, sem contar os imunizantes Covaxin e Sputnik V que também estão sendo negociados pelo governo federal.
‘A partir de agora, o Brasil, nos próximos 60 dias, aplicará 1 milhão de doses [diárias] e, a partir de maio, passa a ser no mínimo de 1,5 milhão de doses por dia’, disse Soligo em entrevista à imprensa após a reunião no Palácio do Planalto. ‘A Fiocruz já está produzindo 400 mil doses por dia formará um lote grande; o Butantan, 660 mil doses por dia. Ou seja, o Brasil apostou certo quando apostou na AstraZeneca e no próprio Butantan’, completou.
Uma nova substância pode melhorar o tratamento de cânceres persistentes. Pesquisadores da Martin Luther University Halle-Wittenberg (MLU) e da University of Greifswald desenvolveram um novo inibidor que faz as células tumorais resistentes aos medicamentos responderem novamente à quimioterapia.
A nova substância bloqueia uma proteína nas células cancerosas que normalmente transporta os medicamentos contra o câncer de volta para fora das células. Os resultados foram publicados na revista científica Molecules.
Além da radioterapia, os agentes citotóxicos, também conhecidos como quimioterapia, são freqüentemente usados para tratar o câncer. Eles evitam que as células se dividam e, portanto, as células cancerosas são incapazes de se multiplicar sem controle.
Os agentes citotóxicos continuam a ser uma forma de tratamento muito importante porque têm um efeito geral, ou seja, atuam em diferentes tipos de câncer ‘. No entanto, alguns tumores são resistentes à quimioterapia. Eles possuem certas proteínas que transportam as drogas de volta para fora da célula cancerosa.
O grupo de pesquisa de Hilgeroth desenvolveu agora uma nova classe de substâncias que inibe uma dessas proteínas de transporte: a proteína 4 resistente a múltiplas drogas (MRP4). Ele desempenha um papel particular na leucemia, segundo o professor Christoph Ritter do Instituto de Farmácia da Universidade de Greifswald. A proteína transporta mensageiros químicos que parecem contribuir para o desenvolvimento desse tipo de câncer.
As novas substâncias podem ter dois efeitos positivos simultaneamente: prevenir o transporte de mensageiros promotores do câncer e garantir que a quimioterapia comece a funcionar novamente. No entanto, se forem bem-sucedidos em outros testes, eles só serão administrados em pacientes com tumores contendo a proteína de transporte MRP4.
Um pré-rastreamento que usa marcadores para identificar o tipo e as características de um câncer específico já faz parte do tratamento padrão. São usados medicamentos adaptados ao tipo e às características do câncer. Um inibidor diferente seria então usado em uma proteína de transporte diferente.
A eficácia deve agora ser confirmada em outros ensaios pré-clínicos. Os pesquisadores tentarão estabelecer o quão bem as drogas desenvolvidas recentemente inibem especificamente o MRP4, a fim de reduzir os efeitos colaterais. Se as substâncias forem um sucesso, vários anos de ensaios clínicos se seguirão para confirmar sua eficácia em pacientes.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ter recebido nesta segunda-feira (8) um pedido de reunião com os responsáveis pela vacina Covaxin, da empresa indiana Bharat Biotech. No Brasil, ela é representada pela Precisa Medicamentos,.
Segundo a agência, houve solicitação para a “reunião de submissão prévia”, que é um encontro técnico que deve ser feito antes do pedido de uso emergencial de vacinas. “Ainda não houve pedido de uso emergencial da Covaxin no Brasil e por isso não há prazo em andamento para a análise desta vacina”, informou a Anvisa.
A reunião será on-line e está agendada para terça-feira (9) às 15h.
“A reunião de submissão prévia serve para que a equipe técnica da Anvisa possa avaliar se já há dados suficientes para que o laboratório faço o pedido de uso emergencial.” – Anvisa
“A reunião de submissão prévia serve para que a equipe técnica da Anvisa possa avaliar se já há dados suficientes para que o laboratório faço o pedido de uso emergencial.” – Anvisa
Em divulgação preliminar, a Bharat Biotech informou que o imunizante é 80,6% eficaz na prevenção de casos sintomáticos da doença. Vinte e cinco mil indianos participaram dos testes.
A Índia já aprovou o uso da Covaxin desde janeiro. No Brasil, o governo fechou um contrato de mais de R$ 1,6 bilhão para receber 20 milhões de doses. A previsão é que elas sejam entregues no primeiro semestre.
A Covaxin é baseada em vírus inativados. Essa técnica utiliza vírus que foram expostos em laboratório a calor e a produtos químicos para não serem capazes de se reproduzir. Ela é administrada em duas doses e pode ser armazenada entre 2ºC e 8ºC.
Até o momento, a Anvisa autorizou o uso emergencial de duas vacinas, a CoronaVac, desenvolvida pela China em parceria com o Instituto Butantan, e a da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Além disso, ela liberou o registro definitivo da vacina da Pfizer.
Enquanto a pandemia Covid-19 sufocava empresas, de companhias aéreas a empresas de turismo, a Nykaa, varejista online de produtos de beleza, seguiu se saindo bem. Uma multidão de compradores, presos em casa devido às restrições impostas pela pandemia, seguiram acessando suas prateleiras virtuais, comprando de tudo, de skincare a batons. Graças ao aumento nas vendas, a Nykaa espera registrar um crescimento de 40% na receita no ano que termina em março de 2021, ante US$ 247 milhões em março de 2020.
A varejista de cosméticos, que conta com a empresa de gestão de ativos de Boston Fidelity Management e a firma de private equity TPG Growth Capital entre seus investidores, está se preparando para um IPO neste ano, que deve avaliar a empresa em cerca de US$ 3 bilhões. Mas, mesmo antes que isso aconteça, a última rodada de financiamento da Nykaa, que deve ser encerrada no final deste mês, provavelmente colocará sua fundadora, Falguni Nayar, na posição de bilionária, tornando-a a segunda mulher mais rica da Índia depois da bilionária Kiran Mazumdar Shaw.
Falguni, que possui pouco mais de 50% em participações na varejista de beleza, não quis comentar sobre seu patrimônio líquido nem sobre os aportes.
O mercado indiano de beleza e cuidados pessoais deve crescer para US$ 23 bilhões em 2023, de US$ 13 bilhões em 2018, de acordo com a consultoria Technopak, que afirma que o setor será impulsionado pelo aumento da renda dos jovens indianos.
‘A Nykaa se tornou sinônimo de produtos de beleza’, diz Saloni Nangia, presidente da Technopak. ‘A empresa identificou a tendência certa porque nunca tivemos um segmento de beleza consolidado na Índia antes. Sempre houve muitos formatos, mas eram todos de pequena escala.’
Falguni começou a Nykaa aos 49 anos, depois de deixar seu emprego como head do braço de investment banking do Kotak Mahindra em 2012. Com US$ 2 milhões como capital das economias da família, ela pensou que era hora de começar uma versão indiana da Sephora, a cadeia internacional de cosméticos.
Começando como um varejista on-ine, a Nykaa – nome derivado da palavra em sânscrito ‘nayaka’, que significa alguém que está no centro das atenções – mais tarde se expandiu para lojas físicas. A empresa agora tem 70 lojas em 34 cidades e seu site e aplicativo atraem 60 milhões de visitantes mensais.
Nykaa revolucionou o mercado de beleza da Índia ao vender marcas de luxo como Clinique e Bobbi Brown online. Ao adquirir produtos diretamente de distribuidores autorizados, a Nykaa construiu uma reputação de qualidade e autenticidade em um mercado repleto de cosméticos piratas. O modelo online permitiu a Falguni criar um corredor infinito de produtos de todo o mundo. Nykaa oferece atualmente mais de 700 mil produtos.
Falguni evitou dar descontos e usou estratégias de marketing, como posts em blogs de beleza de influenciadores sobre novos produtos e tendências. Percebendo que os clientes gostam de tocar, sentir e experimentar os cosméticos antes de comprá-los, ela deu uma brecha real ao virtual, abrindo a primeira loja física da Nykaa, em Delhi, em 2015.
A empresa, que se tornou um unicórnio no ano passado, até agora levantou um total de US$ 70 milhões em financiamentos primários de grandes investidores, incluindo o bilionário de bens de consumo Harsh Mariwala e o bilionário de commodities Harindarpal ‘Harry’ Banga.
‘Foi notável ver Falguni fazer uma transição perfeita de um dos principais bancos de investimentos da Índia para um empreendimento fenomenal no segmento de beleza, moda e tecnologia’, disse Angad Banga, filho de Harry Banga, cujo family-office em Hong Kong detém uma participação de 10% na Nykaa. (Angad trabalhava na KKR com o marido de Falguni, Sanjay Nayar, que dirige a unidade da Índia na empresa de private equity americana.)
A jornada empreendedora de Falguni, porém, está longe de ser tranquila. Ela enfrentou uma grande curva de aprendizado ao navegar pelos mundos de beleza, tecnologia e varejo. Três diretores de tecnologia pediram demissão nos primeiros quatro anos. Apesar de ser uma veterana do setor bancário, a arrecadação de fundos foi um desafio no início – muito longe da circunstância atual em que ela é cortejada por bancos de investimento que querem listar seu negócio na bolsa.
Hoje, ela também enfrenta uma série de concorrentes, como a cadeia de lojas de departamentos Shoppers Stop, controlada pelo bilionário Chandru Raheja, e a Amazon, que construiu uma presença online formidável na Índia. Mas Falguni, cuja família sempre apoiou seu empreendimento de beleza, tem seus dois gêmeos de 30 anos trabalhando com ela. Son Anchit dirige o negócio online e sua filha Adwaita, que era a diretora de operações da Nykaa, é CEO de sua varejista de roupas em rápida ascensão, Nykaa Fashion.
Para adicionar mais buzz ao negócio, a Nykaa formou uma joint-venture com a atriz de Bollywood Katrina Kaif chamada Kay Beauty, em 2019, para oferecer uma nova linha de cosméticos. Nangia, da Technopak, prevê que o florescente negócio de beleza da Índia não irá desaparecer tão cedo.
‘A aceleração digital proporcionada pela Covid-19 veio para ficar’, diz ela. ‘Todos os produtos de beleza e empresas de bem-estar serão beneficiados.’ Falguni terá de se acostumar a estar sob os holofotes.
A empresa chinesa CanSino Biologicals, responsável pelo desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19, manifestou interesse junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em trazer sua vacina para o Brasil.
A declaração foi dada pela empresa em uma reunião com a agência reguladora nesta segunda-feira (8). O encontro contou com a participação da equipe técnica de medicamentos da agência e dos representantes do laboratório no Brasil e na China.
Durante a reunião, a agência apresentou o quadro de normas e requisitos técnicos para pedidos de registro ou de uso emergencial de vacinas no Brasil.
Os técnicos esclareceram ainda que, para avaliar uma vacina, é necessário que a agência tenha acesso a todos os dados brutos e disponíveis sobre o produto no momento da análise.
“A empresa manifestou interesse em trazer a vacina para o Brasil, mas a forma como isso ocorrerá é uma decisão ainda a ser definida pelo laboratório”, disse em nota a Anvisa.
Atualmente, as vacinas contra Covid no Brasil podem ser autorizadas por meio do registro ou do uso emergencial. Nos dois casos a avaliação pode ser feita com dados de estudos clínicos feitos no país ou com dados trazidos de estudo em outros países.
A CanSino Biologics anunciou, no dia 24 de fevereiro, que sua vacina contra a Covid-19 tem eficácia superior a 65% contra todos os casos sintomáticos da doença.
O Brasil registrou 1.114 novas mortes pela Covid-19 em 24 horas e manteve, pelo décimo dia seguido, recorde de média móvel de óbitos, com 1.540. O recorde anterior era de 1.497.
Dessa forma, o país completa 47 dias com média móvel acima de 1.000. O número de casos nas últimas 24 horas foi de 36.923.
O total de mortes no país chegou a 266.614 e o de casos, 11.055.480 desde o início da pandemia.
O Brasil enfrenta o pior momento da pandemia, com situações críticas em todas as regiões do país e até mesmo colapsos em algumas áreas. Os níveis de ocupação de UTIs estão acima de 90% em diversas capitais.
Os dados do país, coletados até as 20h, são fruto de colaboração entre Folha de S.Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 para reunir e divulgar os números relativos à pandemia do novo coronavírus. As informações são coletadas diariamente com as secretarias de Saúde estaduais.
O consórcio também atualizou as informações repassadas sobre a vacinação contra a Covid-19 por 17 estados e o Distrito Federal.
Já foram aplicados no total 11.346.776 doses de vacina (da primeira dose e da segunda dose), de acordo com as informações disponibilizadas pelas secretarias de Saúde.
No total, 4,01% do total recebeu a primeira dose e 1,35% a segunda, segundo dados do consórcio de imprensa.
Nas últimas 24 horas, 277.109 pessoas tomaram a primeira dose da vacina e 130.700, a segunda.
As vacinas disponíveis no Brasil são a Coronavac, do Butantan e da farmacêutica Sinovac, e a Covishield, imunizante da Fiocruz desenvolvido pela parceria entre a Universidade de Oxford e a AstraZeneca. A vacina da Pfizer tem o registro definitivo da Anvisa, mas ainda não está disponível no país.
A iniciativa do consórcio de veículos de imprensa ocorre em resposta às atitudes do governo Jair Bolsonaro (sem partido), que ameaçou sonegar dados, atrasou boletins sobre a doença e tirou informações do ar, com a interrupção da divulgação dos totais de casos e mortes. Além disso, o governo divulgou dados conflitantes.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) espera produzir um milhão de doses da vacina contra a covid-19 por dia até o final de março. A estimativa foi divulgada nesta segunda-feira (8), durante a visita técnica do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, quando foi anunciado o início da produção em larga escala.
Durante o encontro, representantes da Fiocruz previram a entrega de 3,8 milhões de doses para o mês de março. A produção dos lotes de pré-validação e validação foram finalizadas no último domingo (7), com testes de consistência e estabilidade dentro dos parâmetros desejados. Esses lotes poderão ser incorporados ao Programa Nacional de Imunização (PNI), mediante aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com o início da operação dessa primeira linha nesta segunda-feira, a Fiocruz iniciará o escalonamento gradual da produção.
‘A primeira linha em funcionamento hoje está produzindo cerca de 300 mil doses por dia. Ainda esta semana, caso a produção ocorra dentro do previsto, uma segunda linha de produção deverá entrar em operação para aumentar a capacidade produtiva. A expectativa é chegar, até o final de março, com as duas linhas em funcionamento, com uma produção de cerca de um milhão de doses por dia’, informou a Fiocruz em nota publicada em sua página na internet.
Anvisa
Nesta segunda-feira também foram enviados à Anvisa os documentos restantes para a obtenção do registro definitivo da vacina. A expectativa é de que o registro possa ser concedido ainda esta semana.
‘A Fiocruz se mantém ativa na busca por alternativas para o fornecimento de vacinas ao PNI. Até o momento, já foram fornecidas quatro milhões de doses produzidas pelo Instituto Serum e preparadas para distribuição pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), das 12 milhões de doses já acordadas com a AstraZeneca. Além disso, a Fiocruz irá também apoiar tecnicamente o recebimento das vacinas da iniciativa do Covax Facility, o que poderá representar cerca de 2,9 milhões de doses de vacinas prontas ainda em março’, informou a Fiocruz.
Segundo a fundação, cada lote de vacinas precisa passar por testes de controle de qualidade, que verificam a estabilidade e a esterilidade. Esses testes levam de 15 a 20 dias. Desta forma, as vacinas que serão produzidas esta semana serão liberadas em até 20 dias, a depender da conclusão dos testes.
Até 31 de março, só poderão ser consideradas aptas para entrega ao PNI a produção realizada, no mínimo, 15 dias antes. As demais doses produzidas em março só serão entregues no mês seguinte. Em abril, já vai haver um fluxo contínuo de produção e entregas semanais das doses produzidas duas semanas antes.
Vitamina C, vitamina D, extrato de própolis e ivermectina. Essa é a lista de medicamentos que os farmacêuticos de Salvador se acostumaram a ouvir na pandemia do novo coronavírus e que, com o aumento do número de casos positivos e o pré-colapso nos sistemas público e privado de saúde, tem sido solicitada ainda mais vezes no balcão das farmácias espalhadas ao redor da cidade.
O grupo de medicamentos que, além de não ter comprovação científica de eficácia contra a covid-19, dispensa a necessidade de receituário na compra, virou o queridinho dos cidadãos que têm a expectativa de diminuir a possibilidade de ser infectado com tratamento precoce, mais uma hipótese descartada por autoridades médicas como a Organização Mundial da Saúde (OMS), que já reafirmou que a única forma de se precaver para o vírus é a prevenção, com a utilização de máscaras, lavagem constante das mãos e o distanciamento social.
No entanto, justamente por não precisarem de receitas para adquirir esses medicamentos e pelo fato desses artigos serem conhecidos pelo fortalecimento da imunidade no caso das vitaminas e do própolis e combatentes de vermes no caso da ivermectina, soteropolitanos têm ido às farmácias em busca deste grupo de remédios. Sem arriscar uma porcentagem de crescimento, farmacêuticos e gerentes ouvidos pelo CORREIO afirmaram que, nas últimas semanas, é clara a existência de uma demanda ainda maior pelo grupo, que já havia superado, em procura, remédios para dor e febre – antes líderes em buscas na farmácia – e que, com o aumento massivo de casos, chegam a estar em falta no estoque de alguns estabelecimentos.
Pedidos sem fim
Jaime Neves é farmacêutico da Ultra Econômica, localizada no bairro de Brotas afirma, e afirma que os polivitamínicos, o própolis e a ivermectina nunca foram tão procurados nas últimas semanas. Segundo ele, mesmo tendo efeitos desmentidos pelas autoridades em saúde, os remédios acompanham os números de casos positivos. Quanto mais gente contaminada, mais esse grupo de remédios é solicitado.
“A gente percebeu que, por conta desses boatos e fake news, a procura por vitamínicos e extrato de própolis cresceu muito por estarem relacionados com o sistema imunológico. Ivermectina e cloroquina seguiram o mesmo caminho. Nas últimas semanas, houve um novo disparo na procura por esses remédios. Eles nunca deixaram de ser procurados, mas agora estão saindo como nunca”, relata.
O farmacêutico afirmou que não consegue mensurar o tamanho da crescente na procura por esses remédios, mas diz que é seguro dizer que nenhum dos outros medicamentos conseguem superá-los em vendas: “Eu não consigo dizer qual é a taxa de crescimento na saída deles aqui, não posso precisar porque teria que analisar em um gráfico para ser mais exato. Porém, é fácil dizer que eles são os mais vendidos, com uma diferença grande”, diz.
Outro que não se arrisca para pôr em números o crescimento da procura é Uelinton Ferreira, gerente da da farmácia Super Ideal, localizada em Nazaré. Mas ele garante que o grupo é, de fato, o mais procurado pelos clientes. “O que a gente tinha percebido é que esses remédios estavam sendo bem procurados, mas de uma maneira que é comum à pandemia. Agora, a demanda por eles cresceu bastante ultimamente. Os remédios como as vitaminas, que são receitados por alguns médicos para aumentar a imunidade contra a covid-19, saem muito. Estes estão no mesmo patamar da procura por antigripais e também da ivermectina”, garante.
Compras não param
Se seguir o ritmo do número de novos casos de covid-19, a venda desses remédios tende a aumentar. Até porque pessoas como Ramon Andrade, 39, que tem nos polivitamínicos uma de suas maiores esperanças para evitar a covid-19. “Se fortalece a imunidade, logo vai me servir pra ficar longe do vírus e poder trabalhar em paz, sem chance de pegar o vírus. Como é que ele fortalece a imunidade, mas não é bom contra o vírus?”, afirmou o cidadão após ser questionado pela reportagem do CORREIO sobre o fato das vitaminas não terem eficácia comprovada pela ciência para evitar a contaminação pelo vírus.
Outra cliente, que não quis se identificar, também vai pelo mesmo caminho de Ramon. Ela, que estava comprando Ivermectina, acredita que, se o remédio é um vermífugo, ele pode ser importante também para barrar a entrada do vírus em seu organismo. “Por que não pode ser eficiente? A Ivermectina é boa para matar verme no organismo da gente e pode sim ser um tratamento pra covid-19 não pegar a gente. Tem até médico que receita ela”, disse a cliente, que discorda dos posicionamentos de autoridades em saúde que já reafirmaram a inutilidade da Ivermectina no combate ao vírus.
Um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins Especiais e Congêneres (Abiad) apontou que 48% dos consumidores de suplementos aumentaram o uso durante a pandemia. Chefe de nutrologia do Instituto Dante Pazzaneseo, Daniel Magnoni afirma que a demanda de vitaminas cresceu bastante em seu consultório.
‘As pesquisas mostram que a pandemia impulsionou a busca por suplementos, não só visando à imunidade, mas também à prevenção de doenças e dores crônicas, mobilidade e falta de disposição. É importante separar o que realmente tem comprovação científica das fake news’, afirma Dr. Magnoni.
O uso das vitaminas e similares também é acompanhado de tentativas mais naturais. A dona de casa Renildes Fernandes testou positivo para o coronavírus em outubro de 2020 – pouco tempo depois de fazer uma bateria de exames que apontaram um grande déficit vitamínico em seu corpo. Ela passou todo o período da doença isolada em casa.
Durante esse período, tomou vitamina C e D, além dos mais diversos sucos: de abacaxi com hortelã, ou uma vitamina batendo couve, laranja, limão, maçã, cenoura e um pedacinho de gengibre. Seu filho, Igor, também é obrigado a tomar.
“Eu sou diabética e hipertensa. Tinha uma alimentação daquele jeitinho brasileiro que não liga pra nada. Depois da pancada, eu vim acordar e perceber que precisava viver mais um pouco. Então a gente vai se cuidando como pode”, disse Dinha.
É possível encontrar pessoas que aliam remédios sem receitas às fórmulas naturais em todo canto da cidade. Dona Dinha mora no Engenho Velho da Federação. Em Brotas, a corretora Suzana Soares, 63, também faz os seus chás, toma vitamina C e convida, delicadamente, que as duas filhas façam o mesmo. Já no bairro de São Marcos, a massoterapeuta Nadjane Santana segue pelo mesmo caminho, e tem a companhia do maridão.
É sempre bom reforçar que nenhuma dessas medidas, naturais ou não, possuem eficácia comprovada contra o coronavírus. A médica nutróloga Mariana Sampaio afirma, no entanto, que um estilo de vida saudável, uma boa alimentação e uso de substâncias indicadas por um profissionail de saúde para melhorar a imunidade são bem-vindos. Desta maneira, os anticorpos da pessoa ficam mais preparados para combater todo tipo de infecção e pode diminuir eventuais debilidades que o vírus deixa no organismo.
Para o infectologista Matheus Todt, a compra desses medicamentos pode, inclusive, desviar o foco do que é mais importante. “Não existe medicamento que trate ou previna a covid-19, não há eficácia comprovada que justifique o uso em nenhuma substância farmacológica para o vírus. Além disso, têm efeitos colaterais e podem terminar iludindo as pessoas, que começam a achar que não pegam a doença e passam a ter mais displicência nos cuidados básicos como o uso de máscara e distanciamento que são as maneiras eficientes de se proteger contra a covid-19”, afirma.
Risco à saúde
A automedicação pode causar sérios problemas de saúde, como o noticiado pelo CORREIO, dos casos de hepatite causados por Ivermectina que assustam hepatologistas em Salvador. Houve caso de profissionais que em mais de três décadas de trabalho como hepatologista, havia atendido dois pacientes com lesões no fígado provocadas por Ivermectina e nos últimos cinco meses receberam quase dez pessoas. Todas ingeriram doses excessivas do remédio – cinco delas com prescrição médica.
É justamente esse uso excessivo dos medicamentos que preocupa os farmacêuticos. Magno Teixeira, presidente do Sindicato dos Farmacêuticos da Bahia (Sindifarma), acredita que quem toma muitas doses dessas substâncias em um curto espaço de tempo, o que não é recomendado, principalmente, no caso da Ivermectina, pode sofrer com efeitos colaterais. “As pessoas usam o polivitamínico com a ideia de fortalecer o sistema imunológico, mas a questão é que esse fortalecimento não é rápido. Isso vem com o tempo, aos poucos, junto com atividades físicas e alimentação saudável regular. No caso, a Ivermectina, além de não ter efeito, pode causar efeitos colaterais porque, ao invés de usar uma vez a cada 15 dias, as pessoas usam diariamente, o que pode causar um efeito colateral significativo”, afirma.
Procurado pela reportagem do CORREIO, o Conselho Regional de Farmácia (CRF), endossou a não existência de substâncias farmacológicas que sejam eficazes contra a covid-19. “Até o momento, não há nenhum tipo de medicamento que previna a infecção causada pelo novo coronavírus, com exceção da vacinação. Medidas individuais não farmacológicas são muito importantes para prevenir a covid-19, como o uso de máscara, distanciamento social e boa higiene das mãos”, escreve.
A Precisa Medicamentos, representante da Bharat Biotech no país, apresentou documentação à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o pedido de uso emergencial da vacina Covaxin, contra COvid-19 no Brasil.
Segundo comunicado da companhia, estudos de Fase 3 mostram que a vacina é 81% eficaz, e os anticorpos induzidos pela aplicação podem neutralizar cepas variantes.
Em fevereiro, o Ministério da Saúde anunciou a assinatura de contrato com a Precisa Medicamentos para a entrega de 20 milhões de doses da vacina contra Covid-19 entre março e maio. A concretização do uso do imunizante do país só poderá ocorrer, no entanto, a partir da autorização da Anvisa.
Fonte: Redação Panorama Farmacêutico
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O Brasil tem três supercomputadores entre os 500 mais potentes do mundo. Dois são da Petrobras – Atlas e Fênix. O terceiro, o Santos Dumont, localizado no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis (RJ), desde o ano passado tem sido usado nos esforços para combater a pandemia de covid-19 no Brasil.
Foi com a ajuda dele que a equipe coordenada pela bióloga Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, responsável pelo Laboratório de Bioinformática do LNCC, identificou em dezembro uma variante nova do coronavírus no Rio de Janeiro, posteriormente batizada de P.2.
A cientista trabalha no laboratório há quase 40 anos. Ela é uma das pioneiras no país da bioinformática – ciência que usa computação, matemática e estatística para processar e interpretar dados da biologia e responder questões em aberto na Ciência.
Essa é uma área muito recente do conhecimento, ampliada exponencialmente nas últimas décadas graças ao avanço da tecnologia.
Isso porque, quando se fala em genética – um dos campos que têm se beneficiado da bioinformática e a especialidade de Ana Tereza -, existe a necessidade de processamento de um oceano de dados. O DNA, apesar de microscópico, guarda um volume imenso de informação.
No caso do genoma humano, o “receituário” de todas as nossas características físicas está descrito em três bilhões de pares de bases nitrogenadas, estas representadas por quatro letras – C (citosina), G (guanina), A (adenina) e T (timina), os blocos que compõem a fita do DNA.
Entender o genoma e a função dos genes (uma sequência específica do DNA que contém a informação para fabricação de uma proteína ou uma molécula de RNA – o que os biólogos chamam de “produto funcional específico”) pode auxiliar na prevenção de doenças, no desenvolvimento de medicamentos e terapias.
Também tem uma larga aplicação na agricultura e pecuária, no melhoramento genético de plantas e animais, e tem se mostrado um ingrediente fundamental no combate à pandemia. O “retrato” do vírus obtido pelo sequenciamento genético permite entender como ele funciona e como se propaga – informações fundamentais para subsidiarem a tomada de decisão das autoridades de saúde.
‘Ciência do século 21’
Ana Tereza começou a trabalhar no LNCC em 1984, um ano depois de se formar em Ciências Biológicas, para atuar com modelagem matemática. Nessa época, o laboratório ainda estava na cidade do Rio – desde 1998 ele funciona em Petrópolis (RJ).
O trabalho naquela época era completamente diferente, já que a Ciência nem havia codificado o primeiro genoma completo ainda, apenas fragmentos sequenciais de DNA.
O primeiro genoma completo viria em1995, o da bactéria Haemophilus influenzae, sequenciado nos Estados Unidos. Relativamente pequeno, tinha pouco mais de 5% do tamanho do genoma humano, que seria decodificado cinco anos mais tarde, no ano 2000, pelo geneticista americano Craig Venter.
A bióloga entrou nesse mundo pouco depois de ingressar no LNCC, quando seu caminho se cruzou com o do cientista Darcy Fontoura de Almeida, precursor na área de genética no país e àquela altura um nome conhecido na comunidade científica brasileira.
Formado em Medicina, ele fora orientado por Carlos Chagas Filho, fundador do Instituto de Biofísica da UFRJ (à época, Universidade do Brasil) e um dos que contribuíram para institucionalizar a pesquisa científica no país.
Em uma entrevista em 2009 à revista Ciência Hoje, Almeida, falecido em 2014, explica como foi parar no LNCC:
“Por volta de 1989, concluí que a análise de DNA ia evoluir e explodir. Era lógico, óbvio. No IB [Instituto de Biofísica] não poderíamos fazer isso, pois precisaríamos de uma computação poderosa. Lembrei-me então do LNCC e fui falar com o Antônio Olinto, que à época era o diretor. Expliquei o que estava acontecendo na biologia e disse que achava um absurdo não haver ali uma única linha de pesquisa em biologia, ‘a ciência do século 21’. Ele quis saber então o que poderia ser feito. Disse que queria conversar com o pessoal jovem do LNCC.”
O “pessoal jovem” era Ana Tereza. Ela e Darcy passaram então a trabalhar juntos. O cientista foi seu orientador no mestrado em biofísica e no doutorado em genética.
Naquela época, a internet não havia chegado ainda ao Brasil. O computador que a dupla usava era um mainframe, uma máquina de grande porte, e as informações eram compartilhadas entre os cientistas por meio de disquetes.
“O professor Darcy tinha assinatura do GenBank [banco de dados público de sequências criado em 1982 nos EUA] e, como não tinha internet, a gente recebia tudo pelo correio, naqueles disquetes grandes. E o arquivo não vinha em texto, tinha que programar pra extrair as informações.”
Por volta de 1998, ela conta, começaram a chegar ao país sequenciadores genéticos mais potentes, capazes de sequenciar fragmentos maiores de genoma.
Foi aí que teve início o primeiro projeto nacional de sequenciamento de genoma de um organismo, em que Ana Tereza organizou a formação de uma “rede do genoma nacional”, com a capacitação de 25 laboratórios em 15 Estados.
O primeiro organismo sequenciado foi a Chromobacterium violaceum, bactéria encontrada em regiões tropicais e subtropicais e que vive nas águas ácidas do rio Negro, no Amazonas. Ela é até hoje estudada no Brasil e lá fora por seu potencial biotecnológico, com possíveis aplicações em medicamentos e cosméticos.
O projeto genoma nacional ajudou a capacitar grupos em diferentes regiões do país e a formar recursos humanos que contribuiriam para descentralizar a pesquisa em bioinformática no país.
A primeira pós-graduação na área foi criada pela Capes em 2003. Hoje há cursos em instituições como Fiocruz, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, mais recentemente, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Força-tarefa contra o Sars-CoV-2
Desde então, os cientistas trabalham em rede e compartilham informações entre si, o que tem ajudado na atual crise sanitária. Um estudo publicado em setembro do ano passado na revista Science analisando a evolução da pandemia de covid-19 no Brasil é assinado por pesquisadores das mais diversas instituições, inclusive do LNCC.
A bioinformática e a genética têm tido papel importante nos esforços contra o novo coronavírus.
Graças aos avanços nessas áreas, cientistas de todo o mundo já compartilharam mais de 700 mil genomas do Sars-Cov-2, disponíveis na plataforma pública Gisaid.
Essa escala sem precedentes tem permitido ao planeta entender a disseminação do vírus e acompanhar as mutações que ele tem acumulado à medida que se espalha pelo globo. É quase como assistir à evolução em tempo real.
Algumas dessas variantes, como a encontrada em janeiro em Manaus e batizada de P.1, preocupam porque podem estar ligadas a um aumento da transmissibilidade do vírus. A cepa identificada no Amazonas tem duas mutações – a N501Y e E484K – localizadas em genes que codificam a espícula, a proteína responsável por interagir com a célula do hospedeiro, e que, na prática, facilita a entrada do coronavírus nas células humanas.
A P.2, encontrada no Rio de Janeiro pela equipe coordenada por Ana Tereza, que conta com cerca de 25 pessoas, também apresenta a mutação E484K – estudos têm apontado que ela pode driblar a ação de anticorpos.
Antes de ser aplicado nos esforços contra a covid-19, o supercomputador Santos Dumont já foi usado para estudar os vírus que causam a dengue e a zika. Ele é utilizado não apenas pelo laboratório de bioinformática, mas também por outras especialidades – e está aberto a toda a comunidade científica brasileira.
Ana Tereza diz que seu laboratório tem hoje entre 15 e 20 projetos simultâneos em andamento. Um deles, mais recente, visa entender porque algumas pessoas têm manifestações mais graves da covid-19. Para isso, a equipe vai começar a sequenciar DNA de pacientes, e não apenas o material genético do vírus.
“Precisamos entender a resposta imune do hospedeiro, a carga genética do paciente.”
“A gente vê casos em que um casal vive junto, mas apenas um desenvolve a doença”, exemplifica.
Fazer Ciência no Brasil
Ana Tereza participou da criação e foi a primeira presidente da Associação Brasileira de Bioinformática e Biologia Computacional (AB3C) e foi membro do conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência entre 2015 e 2019.
Para ela, um dos aspectos mais difíceis de ser pesquisador no Brasil são os repentinos e frequentes cortes no financiamento da Ciência no país.
“É um horror a gente não ter continuidade de trabalho, não saber se no próximo ano vai ter o mesmo edital para pedir financiamento para a pesquisa. As coisas são muito instáveis”, afirma.
“Tem picos em que há investimentos em laboratório, mas depois não tem material de consumo, de bancada. Ou não tem aluno porque as bolsas estão cortadas. Quem sobrevive na pesquisa no Brasil são heróis, estão ali por uma causa em que acreditam.”
Desde 2016, segundo ela, a área de genômica vem sofrendo sucessivas restrições de recursos. E os cortes recentes no orçamento da Ciência e Tecnologia só agravaram o problema.
Como o Brasil não produz os insumos usados na pesquisa (os reagentes usados no sequenciamento genético, por exemplo, são todos importados), fica refém das flutuações cambiais – em um momento como o atual, em que o dólar custa cerca de R$ 5,60, fazer ciência custa ainda mais caro.
O quadro é agravado pela redução de bolsas de pesquisa, de mestrado e doutorado, de concursos para novos professores, o que tem cada vez mais estimulado cientistas brasileiros a buscarem melhores condições de trabalho em outros países, a famosa “fuga de cérebros”.
“O Brasil investe muito na formação, tem uma formação de recursos humanos muito boa, e depois não cria condições propícias para que os alunos fiquem aqui.”