Impulsionado pelo aumento da preocupação com os cuidados pessoais a partir do isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, o volume de produtos como analgésicos e vitaminas na cesta dos medicamentos isentos de prescrição, pelos brasileiros, chegou a 70%, segundo estudo da consultoria Kantar. Nesse contexto, a divisão consumer health (cuidados pessoais) da farmacêutica alemã Bayer no Brasil soube aproveitar esse momento e viu suas principais linhas crescerem durante a pandemia, com alta de 18% no faturamento em 2020. Soma-se a isso a percepção, logo no início do isolamento social, de que aumentar a imunidade com vitaminas diminuiria as chances de contaminação. A classe médica mostrou que não era bem assim, embora seja recomendável garantir uma melhor condição de saúde. “Com Covid ou sem, é sempre interessante manter os cuidados. O vírus só jogou mais luz na importância da imunidade”, disse Sydney Rebello, presidente da divisão da Bayer no Brasil.
Veja também: União Química anuncia início de produção da Sputnik V
Os números do terceiro trimestre de 2020 mostram esse bom desempenho da operação local. A Bayer América Latina cresceu cerca de 18% – mesmo percentual da unidade brasileira -, número três vezes superior ao resultado global da companhia. Como o bloco registrou, entre julho e setembro, receita de 148 milhões de euros, isso significa que o Brasil faturou, no período, perto de 15 milhões de euros, já que o País responde hoje por 10% da receita desse segmento no continente. Ainda assim, pouco perto do que a divisão de consumer health, globalmente, faturou no trimestre, na ordem de 1,2 bilhão de euros.
Siga nosso Instagram
Em 2019, os países latinos faturaram 700 milhões de euros, o que mostra que a unidade brasileira registrou receita próximo a 70 milhões de euros. A Bayer não revela oficialmente os resultados por país, a não ser o percentual. O foco da unidade brasileira é assumir a segunda posição do bloco, ocupada pela Argentina, com 13% da fatia. “Do ponto de vista e inovação e crescimento orgânico, vamos mudar de patamar. Mas também depende do cenário argentino”, afirmou Rebello.
No topo do ranking está o México, com 33% das vendas no bloco continental. Ainda que na terceira posição em vendas, o Brasil é considerado pelo Bayer o maior mercado de consumer health na América Latina, três vezes maior que o mercado mexicano. A perspectiva desse cenário também está ancorada na previsão de crescimento de 25% na receita da divisão consumer health da Bayer no Brasil neste ano, pela manutenção nas vendas e por dois lançamentos projetados para 2021. Um deles, do segmento de derma, será em abril, e o outro, da família de multivitamínicos, está marcado para o começo do segundo semestre.
A farmacêutica não diz os números, mas garante que os investimentos neste ano devam crescer 30% em relação a 2020. “Uma parte é para suportar o lançamento dos produtos e outra para suportar nossa ambição de crescimento, que não é pequena”, afirmou o executivo da farmacêutica.
PROCURA DISPARA
Produção da linha Redoxon, na fábrica da Bayer na Argentina, que distribui para a América Latina, só não cresceu mais por falta de insumos durante o auge da pandemia. (Crédito:Divulgação)
E é justamente no segmento de vitaminas que está uma das maiores altas entre os produtos que não precisam de receita médica. Segundo a consultoria Iqvia, o crescimento nas vendas de vitamina C alcançou 66% entre janeiro e setembro, e os multivitamínicos, 64%. Principal produto da divisão consumer da Bayer no Brasil e líder do mercado, com share de 20,7%, o Redoxon registrou alta de 45% no período. E só não cresceu mais por falta de insumos no momento mais crítico da pandemia, com dificuldades até de logística para envio de materiais à fábrica da companhia na Argentina, que produz a linha Redoxon e distribui para os países da América Latina. “A gente fez todo o esforço para garantir a cadeia de abastecimento, principalmente porque o consumo explodiu”, disse Rebello.
Até novembro, a empresa vendeu cerca de 10 milhões de unidades da vitamina, o que corresponde a pouco mais de um terço das 28,1 milhões de unidades comercializadas de todo o portfólio da divisão no Brasil. Outras linhas também cresceram em vendas em 2020, caso do analgésico Flanax, com alta de 32,7% no ano, e Bepantol Derma, que subiu 14,8%. Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto, a tendência é crescimento no consumo de produtos que podem ser comprados sem necessidade de receita. “Acredito que essa procura permaneça neste ano. A pandemia despertou o desejo nas pessoas em se cuidar mais.”
DESINVESTIMENTO
Levantamento da Abrafarma mostra que a receita dos MIPs (medicamentos isentos de prescrição) cresceu 16,7% entre janeiro e novembro, o dobro do crescimento registrado pelo setor de medicamentos, de forma geral. A realidade de crescimento em 2020 da Bayer Brasil é bem diferente do que a divisão viveu nos últimos dois anos, quando encolheu cerca de 30% com a venda da unidade de dermatologia, e mais três produtos, incluindo o protetor solar Coppertone. “Eram marcas que tinham ativação por visitas de representantes a dermatologistas e esse modelo não é o core da companhia”, disse o presidente da empresa no Brasil. “No caso do Coopertone, a massa crítica não era lucrativa.”
O resultado de todo esse desinvestimento global é que a empresa no Brasil terminou 2019 com queda de 12% na receita, o que valoriza ainda mais o crescimento de 18% alcançado em 2020 e, principalmente, a previsão de alta de 25% para o fim deste ano. Para Rebello, a necessidade do isolamento tem contribuindo para mudança cultural de investimento maior na qualidade de vida. “A pandemia trouxe maior atenção ao autocuidado. É cada vez mais importante ter olhar sério para a saúde.” Com mais cuidados, mais imunidade. E mais resultados para as vitaminas da Bayer.
Fonte: IstoÉ Dinheiro