Ao defender ivermectina, Bolsonaro omite que artigo recomenda mais estudos


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) citou de forma imprecisa, em sua live de hoje (8), um estudo que atestaria o papel da ivermectina na redução da mortalidade de pacientes com covid-19, dando a entender que a pesquisa seria conclusiva. Os próprios pesquisadores deixam clara a necessidade de mais investigações para validar os possíveis efeitos do medicamento – o que Bolsonaro não mencionou na transmissão.
O estudo citado pelo presidente é uma revisão de 24 outras pesquisas sobre ivermectina, sendo que várias delas não foram revistas por pares. O dado sobre a redução de mortes refere-se a 11 destas 24 pesquisas, e o estudo não deixa claro se elas foram revisadas. Veja abaixo o que o UOL Confere já checou:
Não está confirmado que ivermectina reduz mortes
Ivermectina reduz mortes por covid em 56%, mostra estudo da universidade de Oxford. Mais cedo ou mais tarde, vai ser comprovado cientificamente o uso da ivermectina”
Presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal
Bolsonaro faz referência a um artigo que não foi produzido pela Universidade de Oxford, mas sim por dez pesquisadores de diferentes universidades no Reino Unido. A pesquisa – esta sim, divulgada em uma publicação da Universidade de Oxford – avalia 24 estudos sobre o uso da ivermectina divulgadas em bases de dados públicas.
O texto citado pelo presidente informa que teve como base oito pesquisas revisadas, nove não revisadas, seis que sequer foram publicadas e uma divulgação independente. Justamente por ainda não terem passado pelo crivo dos pares, estudos não revisados não são conclusivos e não costumam ser usados para embasar políticas públicas.
O dado de que o uso de ivermectina pode reduzir as mortes por covid-19 em 56% envolve 11 dos 24 estudos, e a pesquisa não esclarece se os artigos que serviram de referência para este percentual foram ou não revisados.
Os pesquisadores do artigo citado por Bolsonaro deixam claro que ainda é necessário realizar mais pesquisas, com uma amostragem maior de voluntários, para validar os possíveis benefícios da ivermectina contra o coronavírus. Eles também dizem que avaliaram um “espectro grande de doses” do medicamento.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirma, em nota publicada em julho e atualizada em abril, que não há estudos conclusivos que comprovem o uso da ivermectina contra o coronavírus.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o uso da medicação apenas em ensaios clínicos, já que é inconclusiva a ação da droga em casos de covid. A European Medicines Agency (EMA), agência reguladora da União Europeia, também desaconselha o seu uso fora de ensaios clínicos.
Já a Food and Drug Administration (FDA), agência de regulação dos Estados Unidos, desaprova o uso da substância para tratar ou prevenir a covid-19 e alerta que doses excessivas do medicamento podem causar danos.
Fonte: BOL