Congresso de Cannabis mobiliza mais de 5 mil participantes
Mercado movimentou R$ 850 milhões no Brasil em 2024
por Ana Claudia Nagao em
e atualizado em


A 4ª edição da Medical Cannabis Fair e do Congresso Brasileiro da Cannabis Medicinal mobilizou mais de 5 mil visitantes e 1 mil congressistas no fim de maio na capital paulista. Organizado pela plataforma Sechat, o evento debateu os avanços científicos, regulatórios e econômicos do segmento no Brasil.
O primeiro dia contou com o módulo Business, voltado a investidores, empreendedores e profissionais que querem entender, ou se aprofundar, no universo da cannabis como nova economia. A mesa de abertura reuniu nomes de peso no segmento, como Maria Eugênia Riscala, cofundadora e diretora da Kaya Mind; a consultora em inovação Juliana Tranjan; Filipe Campos, líder da Unidade de Negócios CHC da Close-Up International; e o advogado Erik Torquato; com moderação de Bruno Pegoraro, presidente do Instituto Ficus.
Os palestrantes apresentaram perspectivas complementares e provocativas sobre o cenário brasileiro. Torquato destacou como a judicialização do cultivo caseiro de cannabis revela o atraso científico e regulatório do país. Ele ressaltou a atuação de famílias, médicos e advogados que, por meio de habeas corpus preventivos, garantem o direito ao tratamento mesmo em oposição a normas do CFM e da Anvisa. “O cultivo é um direito ancestral e uma resposta legítima à hipocrisia legal que nega alternativas de saúde aos pacientes”, criticou.
Juliana apontou o imenso potencial do cânhamo industrial no Brasil, reforçando a capacidade do país em liderar o setor por meio da ciência, da inovação e de uma política agrícola sustentável.
Já Maria Eugênia alertou para um dado importantes. Em 2024, o mercado da cannabis medicinal movimentou R$ 850 milhões no Brasil, atendendo cerca de 672 mil pacientes. “É uma evidência clara de que o setor não só cresce, como também se tornou uma realidade econômica e social concreta”, ressalta.
Congresso de Cannabis acompanha o crescimento do mercado
Em entrevista ao Panorama Farmacêutico, o neurocirurgião e diretor científico da Sechat, Pedro Pierro, foi enfático ao afirmar que o Congresso de Cannabis acompanhou a evolução do mercado. “Da primeira edição em que dentistas e veterinários não podiam prescrever, percorremos um longo processo e, hoje, já temos salas exclusivamente dedicadas a esses profissionais”, comemora o especialista.

Além de médicos e odontólogos, Pierro também chamou a atenção para grande quantidade de farmacêuticos inscritos do congresso. “Todo o staff que ajudou na orientação dos participantes foi formado por estudantes de farmácia. E isso é um caminho natural, uma vez que esse profissional é quase sempre o primeiro canal de contato com a população”, afirma.
Ele, inclusive, ressalta para a obrigatoriedade de ter um profissional de farmácia nos comitês dos seis módulos: Business, Vet, Agro Tech, Odonto, MedCcan Especialidades e MedCan Sistema Endocanabinoide. A farmacêutica Margarete Akemi Kishi é a representante do comitê de saúde humana.
Necessidade de regulamentação única
Entre os temas discutidos no Congresso de Cannabis, imperou a necessidade de uma regulamentação única, que contemple os produtos comercializados em farmácia e os importados. “Na resolução que permite a venda em farmácias, há uma limitação muito grande de canabinoides e veículos de administração. E ainda temos uma lacuna relacionada ao receituário, pois profissionais que prestam somente atendimento domiciliar não conseguem ter acesso ao talonário especial”, alerta.
Já a importação via RDC 660 não contempla uma regra que garanta a segurança do produto. “Embora as empresas procuram ter uma certificação do portfólio com selo de qualidade, isso não é uma obrigatoriedade”, acrescenta.


