Brasil pode ter receita de R$ 5,7 bi com plantio de cânhamo
Em 2030, 2,1 milhões de pacientes deverão
estar em tratamento com canabidiol no país
por Ana Claudia Nagao em


Daqui a cinco anos, mais de 2,1 milhões de brasileiros deverão estar em tratamento com canabidiol, o que exigirá 20 toneladas do composto químico extraído do cânhamo.O aumento da demanda será de 494% em relação a 2023, quando 430 mil pacientes utilizaram 4,05 toneladas da substância.
Além da indústria farmacêutica, outros segmentos ligados ao cânhamo terão crescimento intenso nos próximos anos. As fabricantes de sementes da planta, usadas pelas processadoras de alimentos, preveem avanço de 264% no volume de negócios até 2030. Já o mercado de fibras, usadas na fabricação de papéis, tecidos e biocompostos, aposta em uma expansão de 26% no mesmo período.
Os dados são fruto de um estudo recém-lançado pelo Instituto Escolhas. O levantamento estimou não apenas o crescimento da economia do cânhamo mundo afora nos próximos anos, mas também os benefícios que o Brasil pode obter com esse cultivo.
“Atualmente, somos importadores em um mercado em franco crescimento. Mas com terras abundantes e clima propício, podemos nos tornar um produtor de referência, capaz de atender à demanda doméstica e também internacional”, acredita Rafael Giovanelli, gerente de pesquisa do instituto.
De acordo com a pesquisa, para atender ao que está projetado para 2030, o Brasil precisa plantar cânhamo em 64,1 mil hectares e investir R$ 1,23 bilhão – um esforço e investimento que irão gerar resultados em curto prazo. Até 2030, as receitas líquidas obtidas atingirão R$ 5,76 bilhões. Segundo o estudo, serão gerados 14.485 empregos.
Vantagens do plantio de cânhamo
O plantio do cânhamo apresenta algumas vantagens em relação a culturas tradicionais, incluindo um retorno sobre o investimento superior a 100% e a dispensa do uso de agrotóxicos. No caso do algodão – usado na indústria têxtil, a exemplo do cânhamo –, o ROI é de apenas 49% e são necessários 28 litros de agrotóxicos por hectare.
O Brasil, inclusive, possui uma vasta oferta de terras degradadas que poderiam ser recuperadas para esse plantio. De acordo com a Embrapa, 28 milhões de hectares de pastagens apresentam potencial para a implantação de culturas agrícolas. A área sugerida pelo estudo do Instituto Escolhas ocuparia apenas 0,23% desse total.
Exploração do cânhamo medicinal
Ainda há barreiras legais para a exploração do cânhamo medicinal, mas elas estão sendo derrubadas pela Justiça. A importação e a comercialização de derivados já são permitidas desde 2015. Em novembro de 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que a Anvisa e a União regulamentem o cultivo em até seis meses.
O governo federal, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), protocolou um plano de regulamentação de acesso à cannabis medicinal. A proposta foi elaborada em cumprimento à decisão do STJ, com o objetivo de normatizar desde a produção até a adesão dos pacientes aos tratamentos. A regulamentação deverá ser finalizada e publicada até setembro deste ano.