China pode se tornar referência em biotecnologia farmacêutica
Potência asiática está expandindo sua atuação e já superou a União Europeia
por Gabriel Noronha em


Um levantamento da Bloomberg News, com dados da Norstella, revelou que a China caminha a passos largos para se tornar o país de referência em biotecnologia farmacêutica no mundo. Números de 2024 mostram que os asiáticos assumiram a segunda colocação no ranking de medicamentos inovadores pela primeira vez na história.
Os Estados Unidos mantiveram a medalha de ouro quando o assunto é de desenvolvimento de medicamentos, tendo registrado 1.440 fármacos durante o último ano. A prata, no entanto, deixou de pertencer à União Europeia. A vice-liderança ficou com a China, que lançou mais de 1.250 remédios.
Planos beneficiaram biotecnologia farmacêutica chinesa
A mudança é resultado de novas políticas de incentivo ao desenvolvimento do mercado que vem sendo implementadas desde 2015, quando o país passou por uma grande reforma regulatória e, ao mesmo tempo, lançou o plano industrial Made in China 2025, que prioriza investimentos em dez setores estratégicos, incluindo o de biotecnologia.
Ambos os fatores foram essenciais para a criação de um movimento que repatriou cientistas e empreendedores formados no Exterior. Em pouco menos de dez anos o número de estabelecimentos de pesquisa e inovação na China subiu de 160 para 1.250. “Essa escala, em si, é algo que nunca vimos antes. Os medicamentos atendem a doenças carentes de novas opções terapêuticas’, afirma Helen Chen, sócia diretora da consultoria LEK.
Além do volume, a qualidade dos medicamentos desenvolvidos na China também avançou. Agências de controle conhecidas por seus rigorosos processos de verificação, como o FDA e a EMA, vêm acelerando o tempo de registro de fármacos chineses.
O país também está se destacando no segmento de testes clínicos, liderando o ranking de inovações entre 2020 e 2024. “Não seria exagero afirmar que a China poderá ultrapassar os EUA no volume de medicamentos em pipeline”, opina Daniel Chancellor, vice-presidente da Norstella.
Estados Unidos temem avanço e planeja resposta
O crescimento da China nesse mercado é assunto nos EUA, onde parlamentares e empresários temem que o país perca a liderança em um setor estratégico, como já ocorreu em áreas como inteligência artificial e veículos elétricos.
Em uma tentativa de desacelerar seus rivais e se manter na vantagem, os Estados Unidos exigem que dados clínicos obtidos na China sejam validados em pacientes estrangeiros antes de conceder aprovação para uso local, alongando os processos.
Além disso, o governo norte-americano estuda mudanças regulatórias para acelerar seu próprio setor farmacêutico. O secretário de Saúde, Robert F. Kennedy, prometeu “fazer a biotecnologia americana acelerar”.
Em tom mais amistoso, empresas chinesas como a Akeso reforçam que o aumento na concorrência mundial do mercado pode ser vantajoso para toda cadeia. “O que fazemos beneficia pacientes na China, nos EUA e em todo o mundo”, declara Michelle Xia, CEO da biofarmacêutica.