BNDES injeta quase R$ 300 milhões na indústria farmacêutica
Montante corresponde apenas aos valores contratados entre julho e agosto
por César Ferro em


O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) segue empenhado em fortalecer a indústria farmacêutica nacional. Somente nos meses de julho e agosto deste ano, foram liberados R$ 298,8 milhões em financiamentos, de acordo com dados disponíveis no portal da instituição financeira.
Três farmacêuticas foram beneficiadas nesse período:
- Blanver: R$ 220 milhões
- Myralis: R$ 20 milhões
- Libbs: R$ 58,8 milhões
O número de laboratórios que teve direito a crédito já é igual ao de todo o primeiro semestre deste ano, período em que o banco aprovou financiamento de R$ 840 milhões.
Como os recursos do BNDES serão aplicados?
Blanver investirá em novos medicamentos e IFAs
A Blanver recebeu aprovação para um financiamento de R$ 220 milhões, destinado a seu plano de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Os recursos permitirão à companhia desenvolver 19 novos medicamentos voltados à saúde humana, entre fármacos de inovação radical, incremental e genéricos. Em 15 desses projetos, está incluído também o desenvolvimento dos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) necessários à produção.
Myralis e Libbs vão modernizar suas operações
Já os recursos contratados pela Myralis e pela Libbs serão usados na modernização de suas estruturas produtivas. As operações preveem a aquisição de máquinas, equipamentos, sistemas, componentes, bens de informática e automação, além de serviços e produtos industrializados nacionais. Equipamentos importados também poderão ser adquiridos, desde que não haja similares produzidos no país.
Montante liberado é o segundo maior do ano
O valor liberado no bimestre julho-agosto é o segundo maior do ano até agora. O único período a superar essa cifra foi janeiro e fevereiro, quando mais de R$ 789,9 milhões foram contratados. Grande parte desse montante – R$ 650 milhões – teve como destino a Bionovis.
Crédito para farmacêuticas em 2025 por bimestre
(em milhões de R$)

Governo busca reduzir dependência internacional
Durante participação no 4º Fórum Saúde, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, destacou os objetivos do governo em relação à indústria farmacêutica.
“Nossa meta com a Nova Indústria Brasil (NIB) é elevar a produção de insumos e tecnologias em saúde a 50% até o fim de 2026 e a 70% até 2033”, afirmou. “Ou seja, vamos melhorar a resolutividade do setor e produzir mais no país, para importarmos só 30%”, ressalta.
Por meio da NIB, o governo prevê disponibilizar até 2026 um total de R$ 516 bilhões em financiamentos para a indústria nacional, sendo R$ 300 bilhões provenientes do BNDES.
Segundo Carla Reis, chefe do departamento do Complexo Industrial e de Serviços de Saúde do banco, o objetivo é ambicioso. “Esse apoio visa ao desenvolvimento de mais de 590 medicamentos e vacinas”, projeta.
Até junho deste ano, os investimentos já aprovados no setor de saúde por meio da NIB somavam R$ 23,3 bilhões, distribuídos em 2.737 projetos no âmbito do Plano Mais Produção, de acordo com dados do MDIC.
Política de Estado incentiva a indústria
“A agilidade e precisão com que o banco tem analisado as propostas das nossas associadas asseguram a previsibilidade necessária para que a indústria farmacêutica brasileira continue crescendo de forma sólida”, destaca Reginaldo Arcuri, presidente executivo do Grupo FarmaBrasil.
Especialistas do setor atribuem esse contexto especialmente a dois governos. A gestão de Fernando Henrique Cardoso plantou o terreno para o crescimento do setor farmacêutico nacional, com medidas como a Lei da Propriedade Industrial, a criação da Anvisa e a implementação dos genéricos.
Essas decisões exigiram das farmacêuticas brasileiras uma completa revitalização dos seus parques industriais. Esse era um caminho obrigatório para adaptar a produção aos padrões de bioequivalência e bioimpedância requeridos pelos genéricos, além de enfrentar a concorrência das multinacionais – que detinham 60% do mercado até o início dos anos 2000.
Com as bases formadas no governo anterior, Lula colocou em prática uma política de Estado que tinha como meta formar empresas supernacionais. Elas deveriam ser capazes de competir globalmente com apoio dos recursos do BNDES, por meio de programas de incentivo como o Profarma (Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Farmacêutica), instituído em 2004. A Farmácia Popular, que nasceu em 2004, também foi usada para fomentar a produção de medicamentos. O enredo do terceiro mandato é o mesmo.
“E o SUS pode ser uma alavanca extremamente importante para o incentivo do complexo industrial da saúde. O poder de compra do setor público pode ser usado para incentivar a indústria localizada no país ou atrair fabricantes para o Brasil, independentemente da origem do capital”, reforça Nelson Mussolini, presidente executivo do Sindusfarma.