Desengajamento nas empresas gera custo de R$ 77 bilhões
Estudo inédito revela queda de motivação, crise
entre as lideranças e impacto na produtividade
por Juliana de Caprio em
e atualizado em
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O desengajamento nas empresas voltou a crescer e o impacto vai muito além da produtividade. Um estudo da Flash, em parceria com a FGV Eaesp, estima que a desmotivação e o baixo envolvimento dos colaboradores já custam R$ 77 bilhões por ano para a economia nacional, o equivalente a 0,66% do PIB. A cifra inclui perdas com turnover, presenteísmo e o custo da substituição de profissionais.
A pesquisa, que ouviu mais de 5 mil trabalhadores em todos os estados brasileiros, revela que apenas 39% dos profissionais se consideram engajados com as companhias onde atuam, o menor patamar desde a primeira edição do levantamento, em 2023. Em um ano, o índice caiu cinco pontos percentuais, revertendo a tendência de recuperação observada em 2024.
“Embora a remuneração ainda pese na equação, o dinheiro não compra comprometimento”, afirma Renato Souza, professor de recursos humanos da FGV Eaesp e coautor do estudo. “O engajamento é fruto de relações de confiança, reconhecimento e oportunidades de crescimento, aspectos que continuam sendo negligenciados por grande parte das corporações”, analisa.
O preço do desengajamento nas empresas
De acordo com o Engaja S/A, 60% dos entrevistados pensaram em pedir demissão ao longo de 2025. Embora o número mostre leve melhora em relação ao ano anterior, o dado revela um mercado em constante ebulição – 64% candidataram-se a novas vagas e 42% participaram de processos seletivos durante o período.
Entre os que permanecem, o cenário também é preocupante. O presenteísmo –quando o colaborador está presente, mas improdutivo –, gera prejuízo estimado de R$ 6,3 bilhões anuais. Metade dos profissionais desengajados admite perder até duas horas de trabalho por dia por falta de motivação. Já o turnover, impulsionado pela instabilidade emocional e pela falta de propósito, representa a maior parcela das perdas – cerca de R$ 71 bilhões por ano.
Lideranças em colapso
A crise de engajamento atinge especialmente os níveis de liderança. O percentual de executivos engajados caiu de 72% para 65% em um ano. Entre gerentes, o índice de 54% recuou para 49%, uma retração inédita. “Os líderes, que deveriam ser o motor da cultura organizacional, estão entre os mais exaustos”, destaca Souza.
Um em cada quatro executivos relata sintomas diários de ansiedade, e um em cada cinco sofre com insônia, índices superiores aos da base operacional. O custo do desengajamento também é mais elevado nesse grupo, sendo equivalente a R$ 72,4 mil por executivo, contra R$ 8,9 mil por gerente e R$ 561 por colaborador. “A pirâmide do engajamento está sendo construída sobre uma base frágil”, resume o pesquisador.
Saúde emocional: o novo vetor da produtividade
Os dados reforçam a conexão entre saúde mental e engajamento. Um em cada cinco trabalhadores relata conviver diariamente com sintomas de ansiedade, insônia ou fadiga, número três vezes maior entre os desengajados.
A situação é mais crítica entre os jovens da geração Z, dos quais 25% relatam ansiedade diária, contra apenas 7% dos baby boomers. O contraste evidencia uma diferença de expectativas. Os mais velhos valorizam estabilidade e pertencimento, enquanto os mais jovens buscam propósito e flexibilidade, frustrando-se com ambientes rígidos e hierarquizados.
Semana de quatro dias melhora o engajamento
Companhias que adotaram semana de quatro dias em caráter experimental registraram 53% de engajamento, 14 pontos acima da média nacional. Já nas escalas 6×1 e 12×36, o indicador despenca para 40% e 36%, acompanhando altos níveis de fadiga e sintomas depressivos.
“Mesmo quando há engajamento, ele vem acompanhado de desgaste. As empresas precisam repensar modelos de trabalho antes que o custo humano se torne insustentável”, alerta Souza.
Propósito e vínculos pessoais ainda fazem diferença
Apesar do cenário desafiador, família e propósito continuam sendo fatores estabilizadores. O engajamento é maior entre casados (44%) e pais e mães (45%), em comparação com solteiros (33%) e pessoas sem filhos (30%).
Para Isadora Gabriel, CHRO da Flash, esses grupos tendem a buscar estabilidade e apoio organizacional, reforçando o vínculo com o trabalho. “Profissionais com responsabilidades familiares costumam enxergar o emprego como uma âncora emocional e financeira”, explica.
Gestão de pessoas em xeque
Em 2025, as boas práticas de gestão ultrapassaram confiança na liderança como principal fator de motivação. Processos previsíveis, comunicação clara e políticas coerentes de reconhecimento passaram a ser mais valorizados do que a figura do gestor carismático.
No entanto, a distância entre o que os trabalhadores valorizam e o que as empresas oferecem ainda é grande. Práticas eficazes, como modelos híbridos de trabalho, day off de aniversário e benefícios flexíveis, ainda são minoria. Já as reuniões de resultado, avaliações de desempenho e treinamentos padronizados continuam sendo comuns, mas causam baixo impacto emocional sobre as equipes.