Novo salário mínimo pode gerar ‘efeito cascata’ nas farmácias
Análise da Connect Farma aponta que reajuste impacta diretamente os adicionais de insalubridade e encargos fixos
por César Ferro em
O Ministério do Planejamento e Orçamento confirmou no último dia 10 (quarta-feira) o novo salário mínimo nacional, que será de R$ 1.621 a partir de janeiro de 2026. O valor representa um reajuste de 6,79% sobre o piso atual.
Embora o aumento da massa salarial seja historicamente positivo para o varejo farmacêutico, impulsionando o consumo de itens de perfumaria e de medicamentos isentos de prescrição (MIPs), a Connect Farma alerta que, para o proprietário da farmácia, o impacto na estrutura de custos exige atenção redobrada.
Equilíbrio entre demanda e saúde financeira é desafio
Historicamente, o reajuste do salário mínimo injeta liquidez no mercado consumidor e, por consequência, no varejo farmacêutico. O desafio, segundo a consultoria, é equilibrar esse aquecimento da demanda com a manutenção da saúde financeira das lojas, principalmente as independentes ou associativistas.
Impacto de reajuste do salário mínimo vai além da folha
Para o varejo farmacêutico, o reajuste do salário mínimo não impacta apenas a folha de pagamento. Segundo analistas da Connect Farma, consultoria contábil especializada no varejo farmacêutico, o principal ponto de atenção é o chamado ‘custo invisível’ atrelado aos adicionais específicos do setor.
O impacto mais imediato ocorre no adicional de insalubridade. Farmacêuticos e balconistas que aplicam injetáveis ou realizam testes rápidos recebem, na maior parte dos casos, o adicional calculado sobre o salário mínimo vigente, e não sobre o salário base da categoria.
O empresário que calcula apenas os R$ 103 de aumento nominal por funcionário está subestimando o impacto no seu fluxo de caixa. “Quando o piso sobe, ele puxa automaticamente a base de cálculo de férias, 13º salário, FGTS e, crucialmente, nas farmácias, a insalubridade”, alerta Phailon Moabe Parro, sócio-fundador da consultoria.
Segundo ele, em uma folha com cinco ou dez colaboradores, essa diferença anualizada pode corroer significativamente a margem líquida se não houver contrapartida na precificação.
Eficiência tributária e gestão de mix são caminhos
Como a margem de medicamentos controlados e de referência costuma ser travada por regulação ou pela concorrência agressiva, a solução passa pela eficiência tributária e a gestão de mix. Parro elenca três ações imediatas:
- Revisão do orçamento de RH: Projetar o custo total da folha de 2026 considerando os reflexos nos encargos sociais e provisionamentos, não apenas o salário líquido
- Ajuste de precificação dos não-medicamentos: Revisar o markup de produtos de perfumaria, higiene e beleza (HPC) para compensar o aumento do custo fixo operacional
- Análise do pró-labore: Para sócios que contribuem sobre o teto mínimo, o custo previdenciário também sofrerá reajuste automático
“O aumento é lei e o impacto é matemático. A diferença entre a farmácia que perde rentabilidade e a que cresce será, puramente, a qualidade do planejamento feito agora em dezembro“, finaliza Parro.