ABRADIMEX alerta sobre riscos de medicamentos sem procedência
Entidade promove campanha junto a hospitais e clínicas de todo o Brasil
por Ana Claudia Nagao em
e atualizado em


Com base em pesquisa inédita sobre o roubo de cargas de medicamentos, desde o primeiro semestre a ABRADIMEX vem alertando sobre perdas financeiras decorrentes desses casos. Agora, a entidade destaca os riscos à saúde que os remédios sem procedência podem causar a pacientes em tratamento de doenças complexas, a exemplo do câncer.
“Estamos falando de produtos termolábeis, que necessitam ser mantidos tanto no transporte quanto no armazenamento a temperaturas entre 2ºC e 8ºC. Sabemos que isso não acontece quando os medicamentos são roubados”, alerta Paulo Maia, presidente da ABRADIMEX.
Vídeo da ABRADIMEX busca alertar o mercado
Por meio de um vídeo de 15 segundos, a entidade vem procurando orientar as distribuidoras associadas. A ideia é ressaltar a importância de desconfiar da origem de medicamentos oferecidos a preços muito abaixo da média do mercado e, sobretudo, menores do que o valor praticado pela própria indústria junto aos canais de distribuição.
“Enquanto sociedade, sabemos que todo crime organizado só resiste se houver a ponta da receptação. É assim com os celulares, por exemplo, e não seria diferente com os medicamentos de alto custo. Por isso, assumimos esse compromisso de impactar clientes e demais operadores da saúde pública sobre os riscos que medicamentos de origem duvidosa podem causar aos pacientes, muitos deles em situação de vulnerabilidade nas clínicas e hospitais”, explica.
No ano passado, 15 distribuidoras associadas responderam pelo atendimento a 270 indústrias do setor farmacêutico e entregaram mais de 11 mil produtos de alto custo a 16 mil instituições de saúde. Deste total, mais de 70% destinam-se a clínicas e hospitais, 10,2% a operadoras de saúde, 11,4% a instituições públicas e de saúde; e 7,1%, a farmácias de especialidades.
Eficácia comprometida
O secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC) e oncologista clínico, Hézio Jadir, é enfático em afirmar que, medicamentos termolábeis, quando fora das condições indicadas pela indústria para o armazenamento e transporte, perdem a eficácia no tratamento do câncer.
“Ao expor medicamentos injetáveis como os monoclonais e os imunoterápicos, temos a desnaturação das proteínas a partir da quebra consecutiva de moléculas. E tanto os fármacos injetáveis como os orais podem provocar também efeitos colaterais importantes no paciente, entre os quais alergia, danos renais, no fígado, no coração e até choque anafilático.
Indústria se movimenta
A indústria farmacêutica também está de olho na escalada do mercado paralelo de medicamentos. No fim de maio, a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), com apoio do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP), lançou cartilha direcionada aos consumidores com alerta sobre os riscos da falsificação de medicamentos.
De acordo com o documento, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que um em cada dez medicamentos comercializados em países de baixa e média renda é falsificado ou de baixa qualidade. A situação se agrava com a proliferação de vendas em canais digitais não autorizados, como redes sociais e sites sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), prática proibida pela RDC nº 44/2009.
Perdas financeiras
Levantamento feito pela consultoria Deloitte apontou perdas por roubo de medicamentos de alto custo na ordem de R$ 283 milhões apenas em 2024. Porém, de acordo com Maia, mais do que as perdas financeiras, é preciso a indústria entender para onde são destinados os produtos desses roubos. As empresas associadas à ABRADIMEX são homologadas pela indústria farmacêutica a partir de rígidos critérios, que incluem condições comprovadas para o transporte em condições seguras para o uso nos pacientes de clínicas e hospitais.
No entanto, Maia adverte que o livre comércio desses medicamentos pelos marketplaces desperta preocupação quanto ao controle da origem. “É possível encontrarmos produtos sendo comercializados abaixo do preço de custo pago pelos distribuidores à indústria, enquanto nosso setor trabalha com margens estreitas. Portanto, há algo a ser observado nesse comércio em favor e segurança da saúde pública”, reforça.
Para o dirigente, o caminho seria indicar a regulamentação da venda de medicamentos no ambiente virtual e a maior fiscalização por parte da própria indústria. “Não é razoável assistirmos o livre comércio de medicamentos de alto custo a preços fora da média de mercado, sem que haja garantias de segurança da origem. Também é preciso assegurar que os compradores adotem práticas rígidas de controle com seus fornecedores”, observa Maia.
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