China acelera para ser maior polo de inovação em IA
Implementação do ecossistema de inteligência artificial no
país foi tema do primeiro dia do Abrafarma Future Trends
por Ana Claudia Nagao em
e atualizado em


A China está consolidando sua posição como protagonista na corrida global pela supremacia em IA no varejo. Com uma estratégia ambiciosa, investimento maciço e ampla aceitação social da tecnologia, o país vislumbra 2030 como o ano em que se tornará o principal centro de inovação em inteligência artificial.
O plano chinês foi detalhado no primeiro dia do Abrafarma Future Trends, que segue até esta quarta-feira, dia 13, no Distrito Anhembi, na capital paulista. A abertura do congresso atraiu mais de 7 mil dirigentes, empresários, executivos e líderes de opinião.
O consultor e empreendedor de IA, ex-RolandBerger e ex-SimonKucher, Alex Lu, destacou o entusiasmo da população chinesa com o avanço tecnológico. “Constatamos que 83% dos chineses consideram a IA mais benéfica do que prejudicial, índice que contrasta fortemente com os dados de países ocidentais como Canadá (40%) e Estados Unidos (39%)”, afirma.
Caminho estratégico da IA na China: dados, infraestrutura e talentos
A estratégia chinesa para alcançar a liderança global em IA está ancorada por três pilares. Um deles foi a criação da Administração Nacional de Dados. “O órgão é responsável por promover o compartilhamento de informações entre indústrias, unificar padrões e simplificar regulações provenientes de diferentes agências”, explica.
O segundo fundamento do país envolve a infraestrutura, que conta com investimentos robustos. Foram 400 bilhões de yuans (R$ 300 bilhões) até 2025, com previsão de alcançar 1 trilhão de yuans (R$ 750 bi) até 2030. “Com esses recursos, queremos fomentar o desenvolvimento de empresas emergentes, além de sustentar gigantes como Baidu, Alibaba, Tencent e ByteDance, todas atuando de ponta a ponta na cadeia de valor da IA”, ressalta.
Já na frente de talentos, a China lidera em número de publicações científicas relacionadas à inteligência artificial desde 2023. “Esse domínio acadêmico e técnico cria uma reserva estratégica de profissionais qualificados para sustentar o crescimento do setor nos próximos anos”, acrescenta Lu.
Modelos chineses ganham força
Mesmo ainda atrás dos Estados Unidos em número de modelos de linguagem de larga escala (LLMs), com 15 contra 40 dos norte-americanos, os chineses vêm encurtando rapidamente a diferença em desempenho. Segundo Lu, benchmarks como MMLU e HumanEval mostram que a disparidade caiu de dois dígitos em 2023 para um quase empate em 2024.
Empresas como DeepSeek e Agentic AI vêm se destacando com modelos avançados que rivalizam com gigantes como OpenAI, muitas vezes com custos significativamente menores. “A DeepSeek, inclusive, tornou-se referência ao publicar métodos de treinamento voltados para raciocínio lógico, um diferencial em relação aos concorrentes ocidentais”, assegura o consultor.
Inteligência artificial como política de Estado
Mais do que uma revolução tecnológica, a IA é vista na China como um vetor estratégico de política nacional. O objetivo declarado do governo é não apenas aumentar a competitividade interna, mas também desafiar a hegemonia tecnológica dos Estados Unidos.
Aplicações práticas já em operação
A China já colhe frutos dessa estratégia em setores como saúde e varejo farmacêutico. Farmácias chinesas vêm utilizando chatbots de IA para segmentação de clientes, assistentes virtuais para apoiar treinamentos de equipes e robôs de triagem capazes de realizar exames não invasivos em até 90 segundos, oferecendo recomendações personalizadas com base em big data.
Em outra frente, empresas de medicina tradicional chinesa estão adotando LLMs multimodais para aumentar a precisão nas prescrições, otimizando a seleção de ingredientes com base no perfil dos pacientes. Além disso, estão em teste projetos de farmácias 24 horas para venda de medicamentos isentos de prescrição e suplementos, totalmente automatizadas com suporte de IA.
“Com forte apoio governamental, integração entre academia e indústria, e uma população amplamente receptiva, a China acelera para transformar a inteligência artificial em uma força propulsora de sua economia e influência global”, alerta Lu. Se mantiver esse ritmo, 2030 poderá não ser apenas um marco para a inovação chinesa, mas um divisor de águas na geopolítica da tecnologia.



























































