As vacinas contra Covid-19 foram desenvolvidas em tempo recorde. Laboratórios em todo o mundo correram para criar imunizantes contra a doença, e os primeiros ficaram prontos em meados de 2020. Nos Estados Unidos, a Pfizer foi a primeira empresa a conseguir autorização para uso da Food and Drug Administration (FDA), espécie de Anvisa norte-americana, e isso se deve principalmente à adoção da tecnologia mRNA, ou RNA mensageiro. À época, a principal promessa dessa tecnologia era sua adaptabilidade.
Se o vírus sofresse mutação para escapar das vacinas disponíveis, os cientistas poderiam trocar um novo pedaço de mRNA para corresponder à nova versão do vírus.
Mas hoje, apesar das ondas de variantes, incluindo Delta, Ômicron e as subvariantes Ômicron BA.4 e BA.5, as vacinas e doses de reforço covid-19 ainda têm como alvo o vírus original que foi identificado no final de 2019.
Por que reforços específicos para variantes não são desenvolvidos com maior rapidez?
“Esta é uma corrida em que estamos continuamente atrasados. Você está trabalhando com um vírus que está mudando rapidamente. Cada uma dessas variantes existe por alguns meses e depois é substituída por uma nova variante”, explica a especialista em doenças infecciosas Archana Chatterjee, reitora da Escola de Medicina de Chicago, em entrevista à revista Wired.
Jacqueline Miller, vice-presidente sênior de doenças infecciosas da Moderna – cuja vacina ainda não está disponível no Brasil, mas também usa tecnologia mRNA -, diz que a empresa reconheceu desde cedo que teria que correr para acompanhar o vírus.
As primeiras variantes de preocupação, Alfa e Beta, foram identificadas no final de 2020, assim que as vacinas estavam sendo lançadas. As vacinas originais resistiram à variante Alfa, mas foram um pouco menos eficazes contra a Beta.”Foi o que nos levou a seguir esse caminho de investigar vacinas variantes”, diz ela.
Quanto tempo leva para produzir vacinas contra variantes?
Miller diz que a Moderna leva cerca de quatro a seis semanas desde o momento de gerar a sequência do genoma de uma nova variante até a produção de doses de vacina suficientes para iniciar os testes em humanos.
Embora o processo de atualização de um reforço de mRNA seja bastante rápido, testá-lo e fabricá-lo em escala leva mais tempo. As vacinas específicas de variantes ainda precisam passar por testes em animais e humanos para garantir que sejam seguras e tenham uma resposta imune esperada.
A FDA disse que os fabricantes de vacinas podem ignorar grandes testes para vacinas contra covid atualizadas e testá-las em grupos menores de voluntários, semelhante ao que é feito para a vacina anual contra a gripe. Em seguida, as empresas precisam estudar o sangue dos voluntários para comparar a resposta imune gerada pelo reforço com a gerada pela vacina original. “Todo o processo do início ao fim leva cerca de seis meses para a Moderna”, diz Miller.
A variante Ômicron permaneceu por mais tempo do que as variantes anteriores, o que deu tanto à Pfizer quanto à Moderna mais tempo para desenvolver reforços contra BA.4 e BA.5, depois de gerar reforços contra a subvariante BA.1 anterior. Em 11 de julho, a Moderna anunciou que sua vacina específica para Ômicron gerou uma “resposta de anticorpos neutralizantes significativamente maior” contra BA.4 e BA.5 do que a vacina atualmente disponível.
A Pfizer e a BioNTech também disseram que suas vacinas de reforço contra Ômicron estimularam uma melhor resposta de anticorpos contra a variante do que a vacina já aprovada da empresa.
Vacina universal
Laboratórios em todo o mundo também estão tentando desenvolver uma vacina universal contra o coronavírus, que protegeria contra praticamente qualquer membro da família dos coronavírus, incluindo novas variantes do SARS-CoV-2 que surgirem.
Maria Elena Bottazzi, reitora associada da Escola Nacional de Medicina Tropical da Universidade Baylor, diz que não basta apenas mudar de um reforço contra a sequência original para um específico da Ômicron. Ela acha que os governos de todo o mundo precisarão apresentar soluções de longo prazo, especialmente porque as pessoas perdem o interesse em obter doses adicionais de reforço.
“O que aprendemos é que, por mais que a tecnologia de mRNA tenha sido muito eficaz e segura, a resposta imunológica não é muito durável”, diz ela. “Não há dúvida de que o mRNA quebrou o paradigma”, diz Bottazzi. ‘Mas não acho que seja a única solução”, afirma.
Além disso, há o desafio de convencer as pessoas a tomar outra dose. “É difícil saber se precisaremos de uma dose de reforço personalizada sempre que uma nova variante surgir”, diz Chatterjee. Pode ser que um reforço contra Ômicron seja suficiente para oferecer proteção contra variantes que surgem em um futuro próximo. Mas além disso, uma grande questão permanece: “Como você se antecipa a esse vírus?”
Fonte: Época Negócios