Covid: Ministério da Saúde desiste de remédio que governo anunciou como capaz de ‘salvar vidas’

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‘Nitazoxanida não consta nas orientações deste Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19’, informou a pasta. Em outubro, Bolsonaro participou de cerimônia sobre vermífugo.

O Ministério da Saúde decidiu não incorporar a nitazoxanida (vermífugo também conhecido comercialmente como Annita) aos protocolos de tratamento da Covid-19, mesmo depois de o governo ter anunciado que o medicamento poderia “salvar vidas”.

Em resposta a um pedido de informações da Câmara dos Deputados, o ministério informou não ter planos de distribuir o remédio na rede pública.

Em outubro, o governo promoveu uma solenidade do Palácio do Planalto para apresentar o que seriam os resultados de uma pesquisa financiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia sobre tratamento precoce com a nitazoxanida.

A apresentação não trazia números detalhados porque, segundo o governo, ainda aguardava publicação em revistas científicas. O governo investiu R$ 5 milhões na pesquisa.

Durante a cerimônia, com a presença do presidente Jair Bolsonaro e da primeira-dama Michelle, foi exibido um vídeo que mostraria a trajetória dos estudos, mas o gráfico exibido sem dados era idêntico ao disponível no serviço de banco de imagens ShutterStock.

As imagens foram exibidas quando o narrador afirmava que “a missão dada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação foi cumprida” e “o resultado comprovou de forma científica a eficácia do medicamente na carga viral”.

Em discurso, o ministro Marcos Pontes disse que o remédio “reduz o contágio entre as pessoas, diminui a probabilidade de agravamento de sintomas”.

“Temos uma ferramenta que o Ministério da Saúde pode usar para salvar vidas”, afirmou o ministro.

Quanto à inclusão do medicamento em protocolos, Pontes disse na solenidade: “Nós estamos passando o bastão para o Ministério da Saúde, para o general Pazuello [ministro da Saúde] dar continuidade ao trabalho”.

Pedido de informação

Após a divulgação dos resultados, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) encaminhou um pedido de informações ao Ministério da Saúde sobre o tema.

Um dos itens incluía as seguintes perguntas: “Quais os planos do governo para uso do medicamento na rede pública de saúde? Há uma previsão de compra do remédio? Já existe alguma orientação preliminar sobre o uso do remédio?”

A resposta, produzida em dezembro, foi enviada na última sexta-feira (8) para o Congresso.

“A Nitazoxanida não consta nas orientações deste Ministério da Saúde para o tratamento da Covid-19, e também não se encontra incluída na Relação Nacional de Medicamentos – RENAME 2020, de forma que esse medicamento não é adquirido ou financiado com recursos federais do SUS”, diz o ofício enviado pelo Ministério da Saúde.

“Este Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF/SCTIE) e Insumos Estratégicos informa que até o momento, não tem ciência de nenhum processo para aquisição de Nitazoxanida pelo Ministério da Saúde, ou de planos para sua disponibilização na rede pública de saúde”, afirma o texto.

O G1 questionou o Ministério da Ciência e Tecnologia sobre a decisão do Ministério da Saúde e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem. A pasta também não respondeu se foi ouvida pela Saúde sobre o tema.

Um artigo com os dados detalhados da pesquisa foi divulgado alguns dias depois da solenidade no Planalto.

Especialistas analisaram os resultados e concluíram que o medicamento não atende aos objetivos principais do tratamento, como redução do risco de vida ou de situações graves como necessidade de oxigênio e respiradores mecânicos.

Ouvido pelo G1 à época, o infectologista Alberto Chebabo, diretor da Divisão Médica do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não viu motivos para a inclusão do medicamento nos protocolos do ministério.

“Os efeitos apontados no tratamento com nitazoxanida são mínimos. Não justifica uma produção em massa e adoção em tratamentos. Porém, tem atividade antiviral, então pode ser mais estudado”, disse. “A título de comparação, é muito melhor que cloroquina, que é cara e não tem efeito”, comparou.

Fonte: Portal G1.com

 

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