Crescimento de farmácias online pode ameaçar lojas físicas
Estudo da Close-Up International aponta avanço acelerado
da digitalização, encabeçado pelo grande varejo
por Márcia Arbache em


A expressiva elevação nas vendas de farmácias online, que quadruplicaram nos últimos cinco anos, segue se consolidando. Consumidores de todas as categorias de produtos vêm aderindo às diversas plataformas de e-commerce, o que ameaça a sobrevivência de pequenos e médios varejistas do setor. Um raio-X dessa tendência foi apresentado por Ivan Engel, diretor de Serviços e Insights ao Varejo e Distribuição da Close-Up Internacional, durante o Abrafarma Future Trends.
Engel mostrou números que confirmam esse cenário. As vendas totais do setor, somando lojas físicas e canais digitais, registraram alta de 10,9% nos últimos 12 meses encerrados em junho de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. Considerando apenas as vendas digitais, o crescimento no mesmo intervalo foi de 35,6%, mais do que o triplo em termos percentuais.
Aplicativos próprios impulsionam crescimento das farmácias online (h2) Entre janeiro e junho de 2025, em relação ao mesmo período do ano anterior, os percentuais de crescimento ficaram em 9,5% (total) e 38% (somente digital). No último trimestre (abril a junho), os índices chegaram a 9,9% e 42,4%, respectivamente, em comparação com o segundo trimestre de 2024.
Crescimento do mercado total x digital
(em bilhões de R$ nos últimos 12 meses até junho)

O executivo destacou uma pesquisa inédita com redes associadas à Abrafarma, que detalha os canais digitais utilizados para compras. Os aplicativos próprios dessas varejistas responderam por R$ 5,8 bilhões, cerca de 60%, dos R$ 9,8 bilhões projetados em vendas digitais para o acumulado do ano. “São eles que alavancam o crescimento em reais da venda digital’’, ressalta Engel.
Conveniência e praticidade atraem consumidores para farmácias online
Segundo ele, o uso de aplicativos proporciona praticidade ao consumidor. Basta baixar o app, cadastrar o cartão de crédito e, em poucos cliques, concluir a compra, com entrega em até uma hora. ‘’É uma eficiência que não existia no país e que amadureceu durante a pandemia’’, pontua, destacando o papel pioneiro da Abrafarma ao incentivar a digitalização após a Missão Técnica ao Vale do Silício, em 2016.

Engel também chama a atenção para o canal de televendas, incluindo o WhatsApp, cujo volume de negócios aumentou 42,2%, saltando de R$ 600 milhões para R$ 800 milhões nos 12 meses até junho de 2025. Ele observa, no entanto, que esse número provavelmente está subestimado, já que nem todas as transações via app são registradas como televendas. “É o canal com maior penetração entre idosos, que apresentam cestas de compras e tíquetes médios mais elevados, com peso significativo no resultado’’, afirma.
Quase empatados aparecem os chamados super apps, como iFood e Rappi, além dos marketplaces, com crescimento de 118%, passando de R$ 500 milhões para R$ 1 bilhão. Apesar do salto, esses canais representam apenas 10% das vendas totais, o mesmo patamar do televendas. “A diferença de escala em relação aos aplicativos próprios ainda é muito grande”, observa.
Migração acelerada para o digital
A análise da série histórica mostra uma curva ascendente nas vendas digitais, tanto no mercado total quanto nas redes da Abrafarma. O maior salto ocorreu entre o segundo trimestre de 2024 e o mesmo período de 2025. No mercado como um todo, as vendas digitais cresceram 42,6%, passando de R$ 5,05 bilhões para R$ 7,2 bilhões. Já nas redes da Abrafarma, o avanço foi de 62%, de R$ 3,17 bilhões para R$ 5,13 bilhões.
Especificamente na Abrafarma, o consultor atribui o crescimento de 20% nas vendas digitais entre o primeiro e o segundo trimestre de 2025, principalmente ao lançamento do Mounjaro, medicamento para diabetes da Eli Lilly. “Assim como o Ozempic e o Wegovy, da Novo Nordisk, há uma estratégia clara para incentivar a venda online desses fármacos, acelerando a migração digital”, explica.
Diante desse cenário, Engel avalia que é plausível que o índice de digitalização nas redes associadas à Abrafarma alcance 40% até 2028. “Se chegar a 30%, já será uma taxa bastante relevante. Vale destacar que esse fenômeno não ocorre em outros países ocidentais”, compara.
Pequeno e médio varejo em desvantagem
A rápida digitalização do setor acende um alerta para pequenos e médios varejistas, que enfrentam dificuldades para acompanhar o ritmo das grandes redes. Com 23 anos de experiência no mercado, Engel lembra que, no passado, farmácias independentes eram referência em entregas rápidas. Hoje, a realidade é outra. “Com um aplicativo à mão e entregas em tempo reduzido, fica difícil competir”, destaca.
Ele observa que há, atualmente, mais farmácias independentes sendo fechadas do que abertas. “Há uma tendência de encolhimento desses pontos de venda. A longo prazo, o número pode se manter estável, mas não há crescimento real acima da inflação”, revela.
Por outro lado, as redes associativistas seguem fortes, com expansão em lojas maduras. “Isso se deve, provavelmente, à evolução na gestão e aos serviços oferecidos pelas federações aos pequenos empreendedores”, conclui o executivo.