Custo de medicamentos acende alerta sobre desabastecimento
Associação que integra distribuidoras especializadas analisa pressão sobre as margens e descompasso financeiro


Os crescentes custos de medicamentos voltados ao mercado institucional, que agrega hospitais, clínicas e instituições ambulatoriais, vêm ampliando a pressão sobre as distribuidoras especializadas nessa categoria. Esse setor, responsável por 75% do volume de transações do gênero, vem convivendo com pressão sobre as margens de lucro e um descompasso financeiro envolvendo negociações junto à indústria e a inadimplência no canal hospitalar. O cenário amplia os riscos de desabastecimento.
O alerta é da Associação Brasileira de Distribuidores de Medicamentos Especializados Excepcionais e Hospitalares (ABRADIMEX), com base em um estudo exclusivo encomendado à Deloitte. Nos últimos três anos, a entidade assistiu a uma expressiva alta do volume de dívidas a receber, o que tem impactado os resultados da margem líquida. “Esse último indicador despencou 48% no período. Nos últimos dois anos, o débito dos compradores junto aos fornecedores teve alta de 25% e 15%, respectivamente”, comenta Paulo Maia, presidente executivo da entidade.
Custo de medicamentos recai sobre as distribuidoras
Com o fluxo de caixa sob crescente pressão, as distribuidoras enfrentam problemas com o descasamento entre os prazos de recebimento e pagamento. Segundo a associação, os laboratórios estipulam, em média, 42 dias para a quitação da fatura. Já os hospitais costumam liberar o pagamento após 75 dias, com a possibilidade de extensão do período conforme a duração do estoque.
Essa diferença acaba caindo no colo das distribuidoras, que financiam a operação com caixa próprio durante 100 dias, em média. “A diferença vem sendo custeada pelo nosso setor justamente para não privar os pacientes de medicação. Temos buscado entendimentos com a indústria farmacêutica para a concessão de prazos mais longos de pagamento, mas estamos diante de uma bomba-relógio”, acredita Maia.
O setor de distribuição apresenta EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) médio abaixo das farmacêuticas e de hospitais e clínicas, com taxas de crescimento de, respectivamente, 5,5%, 23,1% e 11,8% nos últimos três anos.
A reforma tributária exigirá adequações para as quais o setor tem voltado sua atenção. “Temos que realizar um profundo estudo de viabilidade de atuação por região, projetando os impactos da redução de incentivos fiscais para o setor e a rentabilidade com as possíveis novas alíquotas”, explica.
As distribuidoras avaliam que as políticas a serem adotadas por cada estado têm potencial direto na redução das margens líquidas do setor. “Isso pode incentivar, mas também desestimular a operação em estados e regiões de atuação estratégica para a sociedade. O risco de desabastecimento pode ser tornar iminente”, finaliza.