Dez farmacêuticas dominam as vendas de MIPs
Inovação e comunicação serão decisivas em disputa acirrada
por Márcia Arbache em
De acordo com o estudo Mercado Farmacêutico Brasil 2025, da Close-Up International, nos últimos 12 meses encerrados em agosto, as dez principais fabricantes de MIPs respondem por 62% do mercado em valor, o que corresponde a R$ 21,3 bilhões, e 66% em volume de vendas (1,1 bilhão de unidades).
Do ranking, oito farmacêuticas são nacionais, que contabilizaram R$ 17,8 bilhões em vendas (933,3 milhões de unidades). As multinacionais Sanofi e Reckitt Benckiser completam a lista, com R$ 3,9 bilhões e 158,6 milhões de unidades comercializadas.
- Hypera
- NC Farma
- Sanofi
- Grupo Cimed
- União Farma
- Eurofarma
- Aché
- Natulab
- Reckitt Benckiser
- Geolab
Fonte: Close-Up Internatoional
Filipe Campos, gerente de Marketing Insights da Close-Up International, cita os principais fatores que explicam a concentração. O primeiro é a amplitude de portfólio. “Para conseguir ter alto volume de vendas e relevância em um segmento tão importante do canal, como é o caso dos MIPs, é fundamental diversificar em categorias e moléculas distintas, trazendo maior força de negociação com o varejo’’, frisa o executivo.
Nível sofisticado de gestão é diferencial na venda de MIPs
Segundo Campos, esse aspecto se conecta diretamente ao segundo grande pilar: a força da marca. Todas as indústrias presentes no ranking possuem ao menos uma marca de alcance nacional, amplamente reconhecida pelo consumidor, capaz de atuar tanto de forma focada em uma única categoria quanto de maneira transversal, em diferentes segmentos, o chamado cross.
O terceiro pilar é o de investimento no ponto de venda. A disputa por espaço em gôndola e cadastro de produtos exige grandes volumes de ações de visibilidade, equipes de merchandising e monitoramento constante da adesão à estratégia de preços e posicionamento. “São três requisitos fundamentais que requerem um nível sofisticado de gestão, caixa e foco, características que poucas indústrias conseguem reunir”, pontua.
Medicamentos para tosse e bronquite têm melhor performance entre MIPs
Entre as categorias de MIPs, o destaque, com a melhor performance no varejo em vendas, foi a de respiratórios, crescendo 11,2%, em 2025, acima da média dos MIPs (8,2%), e mantendo a primeira posição como maior subcategoria com mais de um quarto do mercado (27,4%). “Apesar de um ano mais quente em relação ao ano anterior, temos uma alta puxada principalmente por produtos para bronquite, tosse e dor de garganta”, analisa o executivo.


O crescimento desse quinteto supera a média dos MIPs, respectivamente 12,4% e 8,2%. “No lado de gripe/alergia, a prevalência é de indústrias nacionais como Expect (Legrand Pharma) e Cimegripe (Cimed), que apresentam crescimento combinado de 8,7% em linha com o total de MIPs (8,2%)’’, destaca.
Apesar do bom desempenho, a participação dos MIPs vem caindo nos últimos anos. Embora ainda não exista um consenso em torno do motivo desse crescimento abaixo da média do mercado, uma das hipóteses é a mudança do hábito da população principalmente nas gerações mais novas, que passam a buscar hábitos mais saudáveis e foco maior em prevenção. “Notamos isso, por exemplo, com o forte crescimento de categorias como vitaminas e proteção solar”, avalia Campos.
Condições para entrada de novo player no segmento de MIPs
A consultora Sandra Asturi, do grupo SC, e especialista do Panorama Farmacêutico, ratifica a concentração como verdade absoluta, reiterando que a força das grandes é o principal motivo. “São empresas que têm portfólios importantes em todas as categorias de MIPs, presença gigantesca e muito investimento em comunicação’’, reforça.
O caso de Dorflex ilustra esse poder. Segundo a especialista, o produto tem taxa de penetração de 99% no Brasil. Campanhas massivas, aparição constante em TV e ações voltadas a públicos específicos reforçam essa permanência. “Empresas que não investem, especialmente em mídias digitais, acabam ficando para trás. Vimos o movimento recente da Neosaldina com a Geração Z”, exemplifica. “O consumidor entra na farmácia e se perde em meio a tantos rótulos. Se ele não sabe que você existe, não tem como escolher”, diz.
Apesar da concentração, Sandra acredita que há espaço para novos entrantes. Contudo, a porta é estreita. Ela enumera o que é preciso para um novo player disputar com as líderes:
- Inovação real, seja na molécula, seja na forma farmacêutica. “Foi o que aconteceu quando surgiram as cápsulas gelatinosas de ibuprofeno, que entregavam alívio rápido e eram mais fáceis de engolir”, lembra.
- Atributos claros e diferenciados, capazes de justificar a troca diante de marcas já consolidadas.
- Comunicação 360 graus, especialmente digital. “É preciso falar com o público certo e com muita frequência. Quem não investe em presença digital praticamente não existe para o shopper’’, sentencia Sandra.
- Ativação eficiente no ponto de venda, com materiais que destaquem benefícios, ofertas de experimentação, packs especiais ou brindes que reforcem o uso (como lenços com antigripais ou copinhos com analgésicos).
- Visibilidade nas gôndolas, área em que as grandes dominam com negociações robustas.
O desafio do “mar de embalagens” nas farmácias
Para Sandra, um dos pontos mais críticos do varejo farmacêutico é justamente a confusão doconsumidor diante de tantas opções. Por isso, marcas novas precisam de estratégias muito claras de diferenciação e destaque. “A indústria lança algo inovador, mas se não tiver comunicação e visibilidade, o cliente simplesmente não encontra. O ponto de venda é determinante para gerar experimentação e, depois, recorrência’’, finaliza a executiva.