A atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora n º1) e a implementação da Lei da Saúde Mental 14.831/24 exigirá que as empresas promovam um ambiente de trabalho psicologicamente harmonioso. Até o fim de maio, será necessário que as companhias estipulem regras claras sobre o tema e façam com que problemas dessa natureza entrem para a lista de riscos ocupacionais.
Em 2024, foram registradas 472.328 licenças médicas devido a questões de ordem psicológica, um aumento de 68% em relação a 2014, segundo o Ministério da Previdência Social. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) reforça que o labor pode ser um fator positivo para a saúde mental, ao proporcionar estrutura, propósito e interação social. No entanto, também se torna prejudicial em ambientes com pressão excessiva, metas irrealistas ou jornadas exaustivas, o que impõe especial atenção dos gestores de farmácias.
A psicóloga Rosemary Andriani destaca que a promoção da saúde mental deve ser um processo contínuo e adaptado às particularidades de cada organização. Ela enfatiza que o ponto de partida é a liderança, que deve incentivar práticas de autocuidado e bem-estar. “A mudança deve considerar os aspectos físicos, emocionais e psicológicos dos colaboradores para alcançar resultados efetivos”, ressalta.
Entre as medidas mínimas recomendadas, destacam-se:
- Treinamento e conscientização:capacitação em temas como estresse, ansiedade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e Burnout
- Política de saúde mental:estabelecimento de ações preventivas, de detecção e tratamento de problemas psicológicos
- Acesso a serviços especializados:benefícios ou parcerias que disponibilizem psicoterapia, psiquiatria e outros recursos
- Ambiente físico saudável:condições adequadas, como boa iluminação, ventilação e espaços para descanso
- Gestão do estresse:medidas como horários flexíveis, pausas regulares e estratégias de redução de esgotamento
- Suporte aos colaboradores:apoio emocional e assistência aos que enfrentam dificuldades psicológicas
- Monitoramento contínuo:avaliação constante da eficácia das iniciativas e da saúde mental geral dos trabalhadores
Para empresas que desejam ir além, a especialista sugere programas de bem-estar que contemplem meditação, ginástica laboral, suporte para dependentes, treinamento de gestores sobre saúde mental e parcerias com profissionais da área.
Do ponto de vista corporativo, os empregadores podem se beneficiar com maior produtividade, redução de absenteísmo e turnover, além da melhora da reputação e do clima organizacional. Para os colaboradores, os ganhos incluem autoestima, desenvolvimento profissional e relações interpessoais mais saudáveis. Rosemary também enfatiza a importância de os trabalhadores assumirem um papel ativo em sua saúde mental, investindo em autoconhecimento, autocuidado e buscando apoio quando necessário.
Em relação aos resultados, a psicóloga destaca que já no curto prazo (de 3 a 6 meses), ações informativas e pontuais podem reduzir o estresse e melhorar o clima organizacional. “Em médio e longo prazo, os efeitos incluem maior engajamento, produtividade, eficiência e a consolidação de uma cultura organizacional mais respeitosa”, acredita.
De acordo com Marlene Capel, diretora da B2P, consultoria especializada no acompanhamento e gestão de funcionários afastados por razões médicas, cumprir a determinação da NR-1 não é atender somente à exigência legal, já que a prática gera benefícios diretos aos resultados das empresas.
“Promover um ambiente mentalmente saudável é garantir uma estratégia gerencial inteligente, colaborando com a redução dos afastamentos e de gastos com o Fator Acidentário de Prevenção (FAP) . Organizações que investem na prevenção de riscos psicossociais tendem a atrair, engajar e reter melhor os talentos, sendo diferenciais competitivos no mercado de trabalho”, afirma.