ES tem 24 mil pílulas de cloroquina estocadas e pregão para comprar mais 547 mil

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Apesar de não ter comprovação científica que ateste sua eficácia contra a Covid-19, 233 mil comprimidos de cloroquina foram enviados pelo governo federal ao Espírito Santo para tratar da doença. O maior lote foi destinado para o governo do Estado, para a Secretaria de Saúde (Sesa), que recebeu 122 mil pílulas. Deste total, 24.240 comprimidos estão estocados, já que 97.760 foram solicitados pelos municípios. Em 2021, até o momento, apenas 3.050 doses solicitadas pelas prefeituras, o que não significa que também não estejam nas prateleiras das farmácias municipais.

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Além do Estado, outras duas cidades pediram, diretamente ao Ministério da Saúde, para receber cloroquina desde o início da pandemia. Vitória recebeu 54 mil comprimidos e Aracruz pediu uma remessa de 1.500 comprimidos. Todas as solicitações, tanto do Estado quanto dos municípios, foram feitas em 2020. Os dados constam no portal de distribuição de medicamentos do Ministério da Saúde.

No Estado, as remessas foram feitas entre 28 de março de 2020 e 10 de setembro de 2020. De acordo com a Sesa, os comprimidos foram distribuídos para 36 cidades, em um total de 94.710 pílulas repassadas.

Em 2020, solicitaram o medicamento, as cidades de Afonso Cláudio; Alto Rio Novo; Aracruz; Atílio Vivácqua; Cachoeiro de Itapemirim; Castelo; Colatina; Conceição da Barra; Dores do Rio Preto; Guarapari; Ibatiba; Ibiraçu; Itarana; Jaguaré; João Neiva; Laranja da Terra; Marataízes; Marilândia; Montanha; Muniz Freire; Nova Venécia; Pancas; Pedro Canário; Pinheiros; Presidente Kennedy; Rio Novo do Sul; Santa Leopoldina; Santa Maria de Jetibá; Santa Teresa; São Domingos do Norte; São Gabriel da Palha; São Mateus; São Roque do Canaã; Sooretama; Venda Nova do Imigrante e Vila Pavão.

Já em 2021, apenas duas cidades pediram para reforçar o estoque. Jaguaré fez um pedido por 50 comprimidos, como mostrou reportagem de A Gazeta. Outra cidade, não revelada pela Sesa até o fechamento desta matéria, também solicitou o medicamento. Não foi informada a quantidade requerida. De acordo com a secretaria, no total, os dois municípios pediram 3.050 comprimidos.

Os comprimidos distribuídos pelo governo federal são, em parte, produzidos pelo Laboratório do Exército. Não há um dado sobre o custo para a fabricação do medicamento. No entanto, reportagem da CNN mostrou que o governo federal pagou quase o triplo pelos insumos para a produção do remédio. O Tribunal de Contas da União (TCU), inclusive, investiga a compra, por suspeita de superfaturamento.

ESTADO ABRIU LICITAÇÃO PARA COMPRAR MAIS 547 MIL COMPRIMIDOS

Em 21 de outubro de 2020, o governo do Estado abriu licitação pelo pregão eletrônico, modalidade em que o comprador não é obrigado a comprar a remessa inteira do lote, para a compra de 547.700 comprimidos de hidroxicloroquina de 400 mg. Uma empresa de Vitória é a responsável por fornecer o medicamento. O valor da licitação é de R$ 626.185,41. Cada comprimido custa R$ 1,14.

Pelos dados públicos, não é possível saber o quanto desses mais de meio milhão de comprimidos foram de fato comprados. Questionada, a Secretaria de Saúde disse que a compra de hidroxicloroquina atende apenas a pacientes com artrite, esta, sim, uma doença cuja eficácia do medicamento é comprovada. No entanto, a pasta não informa a quantidade adquirida via pregão.

Um detalhe é que a reserva feita pelo Estado em 2020 é bem maior do que a feita em outros anos. Em uma pesquisa pelo sistema de pregões do governo estadual, a última compra de hidroxicloroquina realizada pelo Estado foi em 2017, quando foram reservados apenas 780 comprimidos, ou seja, uma quantia 702 vezes menor do que a solicitada no ano passado.

A TRAJETÓRIA DO DISCURSO DA CLOROQUINA NO GOVERNO FEDERAL

A cloroquina, utilizada para o tratamento da malária, começou a ganhar adeptos no combate ao coronavírus quando o médico francês Didier Rauolt escreveu um artigo que apontava indícios de que o medicamento poderia ser eficaz contra a Covid-19. Em janeiro de 2021, o pesquisador admitiu que houve erros na pesquisa e que suas impressões estavam equivocadas.

Ainda em março de 2020, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que à época tratava a pandemia como uma “gripezinha”, incentivou o uso do medicamento para aqueles que fossem diagnosticados com a doença. O Exército Brasileiro passou a produzir a cloroquina em massa e o governo federal chegou a importar lotes do remédio de outros países. O remédio virou bandeira no governo Bolsonaro em contrapartida a outras medidas, como uso de máscaras, distanciamento social e até a vacina.

A insistência do presidente com a cloroquina foi um dos fatores que contribuíram para que o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) fosse demitido do cargo. O tema também contribuiu para a saída de Nelson Teich, que assumiu a pasta por um curto período após a saída de Mandetta – ficou menos de um mês na função. O general Eduardo Pazuello – que comandou o ministério nos últimos 10 meses até a chegada do novo ministro, Marcelo Queiroga – estava sintonizado com o discurso do presidente, em apoio ao remédio no combate à Covid-19.

Foi Pazuello que mudou o protocolo do Ministério da Saúde para permitir a prescrição da cloroquina em pacientes com sintomas leves de Covid-19. Até bebês podiam receber a indicação para o uso do medicamento em aplicativo do órgão. Assim como Bolsonaro, o então ministro chegou a afirmar que a explosão de casos no Amazonas, em janeiro de 2021, era uma das consequências pela não adoção do medicamento como tratamento precoce na região. Ele é investigado porque teria sido omisso ao indicar a cloroquina em vez de se ater ao problema da falta de oxigênio naquele Estado.

Dias depois, começou uma mudança de posição no governo, quando Pazuello, em entrevista a jornalistas, disse que “nunca receitou ou colocou para as pessoas tomar este ou aquele remédio”, ao ser questionado sobre a ineficácia da cloroquina, no combate ao coronavírus. Em fevereiro, Bolsonaro admitiu que a cloroquina poderia ser um placebo.

Marcelo Queiroga, em entrevista à CNN na segunda-feira (15), após ser confirmado como novo ministro da Saúde, disse que médicos têm autonomia para prescrever tratamentos, mesmo sem eficácia comprovada. Um dia antes, em entrevista à Folha de São Paulo, ele havia criticado o uso da cloroquina. A entidade que Queiroga preside, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, não recomenda o uso do remédio para pacientes de Covid-19.

Desde maio do ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) interrompeu os testes com a cloroquina no combate ao coronavírus, após o medicamento não resultar em nenhuma redução na mortalidade de pacientes internados. Especialistas em infectologia e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também se posicionaram ao afirmar que não há tratamento precoce contra a Covid-19.

Além de não ter eficácia, medicamento tem efeitos colaterais como tontura, alterações gastrointestinais e aumento da pressão arterial. Para o infectologista Lauro Ferreira Pinto, um dos principais fatores de risco no uso da cloroquina é o de que muitos pacientes, ao tomarem o medicamento como tratamento precoce, deixam de tomar outros cuidados mais efetivos no combate ao vírus, como o uso de máscaras e o distanciamento social.

‘Não é só a Anvisa, todas as agências regulatórias do mundo já refutaram esse medicamento há muito tempo’, afirmou o médico, em entrevista à A Gazeta.

Fonte: A Gazeta Online ES

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/03/16/farmacias-sao-joao-alcancam-a-marca-de-800-lojas/

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