Uma pesquisa publicada nesta terça-feira (24) na revista científica “The Lancet Infectious Diseases”, do grupo “The Lancet”, aponta que um antiviral pode ser promissor em reduzir a duração dos sintomas da varíola dos macacos e o tempo em que pacientes são capazes de infectar outras pessoas.
Segundo os cientistas, do Reino Unido, os sete casos analisados na pesquisa (pessoas infectadas entre 2018 e 2021) foram os primeiros do mundo de transmissão da doença dentro de um hospital e de contágio doméstico fora do continente africano.
Os pesquisadores observaram as respostas dos pacientes a dois antivirais: brincidofovir e tecovirimat: três pacientes receberam o brincidofovir e um, o tecovirimat (veja detalhes em “os casos” mais abaixo nesta reportagem).
O paciente que recebeu o tecovirimat teve uma duração de sintomas menor e expeliu vírus por menos tempo pelo trato respiratório superior (nariz, faringe, laringe e parte superior da traqueia).
Por outro lado, a pesquisa não encontrou benefícios no uso do outro remédio testado, o brincidofovir, para tratar a doença.
Os casos relatados foram os primeiros em que ambos os medicamentos foram usados, de forma “off-label”, para tratar a doença – ou seja, fora da indicação já prevista na bula; ambos foram desenvolvidos para tratar a varíola humana, erradicada em 1980, e já haviam demonstrado alguma eficácia em tratar a varíola dos macacos em animais.
Os casos relatados foram os primeiros em que ambos os medicamentos foram usados, de forma “off-label”, para tratar a doença – ou seja, fora da indicação já prevista na bula; ambos foram desenvolvidos para tratar a varíola humana, erradicada em 1980, e já haviam demonstrado alguma eficácia em tratar a varíola dos macacos em animais.
Mas, por causa da amostra pequena de pacientes, os autores apontaram que mais pesquisas são necessárias para determinar o potencial do tecovirimat como tratamento da varíola dos macacos em humanos.
O medicamento já tem uso autorizado para tratar varíola humana, dos macacos e bovina na União Europeia e para a varíola humana nos Estados Unidos, mas não tem autorização no Reino Unido. No Brasil, não existem medicamentos com indicação para tratamento de varíola, segundo a Anvisa.
Todos os pacientes infectados tiveram casos leves da doença e nenhum teve as complicações mais severas associadas à infecção, como pneumonia ou sepse. Eles se se recuperaram após serem mantidos em isolamento em hospitais britânicos, para evitar que a doença se espalhasse (e não pela gravidade dos quadros).
Dados sobre transmissão
Um ponto apontado pelos pesquisadores sobre a transmissão da varíola dos macacos é que, em surtos anteriores, os pacientes eram considerados contagiosos até que todas as lesões de pele formassem crostas.
Nos 7 casos do estudo, entretanto, “a disseminação viral foi observada por pelo menos três semanas após a infecção”, afirmou Catherine Houlihan, uma das coautoras do artigo.
Mas a cientista, que também integra a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido e a University College London, apontou que os dados sobre a infecciosidade da doença “permanecem limitados” e são uma área” importante para estudos futuros’.
Os casos
Quatro dos casos relatados foram tratados entre 2018 e 2019: três deles importados da África Ocidental e o quarto ocorreu em um profissional de saúde no Reino Unido, que se infectou no hospital.
Os primeiros três pacientes foram tratados com o brincidofovir sete dias após aparecerem as primeiras lesões na pele, mas nenhum benefício foi observado com o tratamento. Também foram observadas alterações nos exames de fígado após o uso do remédio.
Por outro lado, os pesquisadores também apontaram não saber se, caso o remédio tivesse sido dado de outra forma – de forma mais precoce ou em dosagem diferente -, teria funcionado.
Os outros três casos ocorreram em uma família que chegou ao Reino Unido vinda da Nigéria em 2021, país onde a doença é endêmica. Dois dos casos representaram os primeiros de transmissão doméstica da doença fora da África.
O paciente tratado com o tecovirimat teve duração menor dos sintomas, além de ter expelido vírus por menos tempo em comparação aos outros.
‘Os casos relatados em nosso estudo, além dos surtos recentes, destacam a importância de manter uma rede colaborativa de centros de prontidão para gerenciar surtos esporádicos de patógenos de alta consequência, como a varíola dos macacos”, avaliou Nick Price, autor sênior da pesquisa.
‘Os casos relatados em nosso estudo, além dos surtos recentes, destacam a importância de manter uma rede colaborativa de centros de prontidão para gerenciar surtos esporádicos de patógenos de alta consequência, como a varíola dos macacos”, avaliou Nick Price, autor sênior da pesquisa.
Atualmente, mais de 15 países fora da África enfrentam surtos da varíola dos macacos, com mais de 100 casos confirmados. A doença não costuma aparecer fora do continente africano, onde é endêmica em 12 países.
Price apontou, ainda, que os casos de 2018 e 2021 foram “desafiadores” e exigiram uso intensivo de recursos, mesmo em um país de alta renda como o Reino Unido.
“Com as viagens internacionais retornando aos níveis pré-pandemia, autoridades de saúde pública e profissionais de saúde em todo o mundo devem permanecer vigilantes à possibilidade de novos casos de varíola dos macacos’, alertou o pesquisador.
Por outro lado, lembrou o pesquisador High Adler, da Universidade de Liverpool, autor principal da pesquisa, embora o surto atual esteja afetando mais pacientes do que nos surgimentos anteriores da doença fora da África, “historicamente a varíola dos macacos não se transmitiu de forma muito eficiente entre as pessoas e, em geral, o risco para a saúde pública é baixo’.
Sintomas da varíola dos macacos e letalidade
Os sintomas da varíola dos macacos incluem febre, erupção cutânea e gânglios (linfonodos) inchados. Complicações incluem inflamação dos pulmões, cérebro, córnea (com risco à visão) e infecções bacterianas secundárias.
As taxas de mortalidade publicadas variam entre 1% a 10% na Bacia do Congo e menos de 3% na Nigéria. A maioria das mortes pela doença ocorre em crianças e pessoas que vivem com HIV.
Fonte: G1.Globo