Farmacêuticas de médio porte puxam mercado de cannabis
Com estratégias distintas, fabricantes observam altas de
três dígitos nas vendas e estimulam ecossistema de negócios
por Ana Claudia Nagao em


O mercado de cannabis medicinal ganha um impulso adicional com o apoio de médias empresas farmacêuticas. Com estratégias distintas, essas fabricantes vêm acelerando o aumento do volume de negócios nesse segmento, que hoje está na casa de R$ 852,6 milhões, de acordo com a consultoria Kaya Mind.
Em um período de quatro anos, a Endogen teve uma evolução de 600% na receita. Fundada em 2020, a fabricante aposta no desenvolvimento de produtos inovadores com insumo farmacêutico ativo (IFA) importado da Colômbia, que contém alta concentração de canabinoides.
Na expectativa da modernização regulatória por meio da revisão da RDC 327, a empresa espera, ainda para este semestre, a aprovação de dois extratos de cannabis pela Anvisa, nas versões de 10 ml e 30 ml. Outros quatro novos produtos estão em análise na agência.
A fila para autorizações sanitárias conta, atualmente, com 28 solicitações, sendo que as duas primeiras posições são nossas. Ainda temos um produto em 10º lugar e outro próximo do 20º”, destaca o CEO Lukas Fischer. Com o objetivo de viabilizar a produção em larga escala no Brasil, a Endogen uniu-se à Cellera Farma para o desenvolvimento de produtos com padrão farmacêutico.
Já a Ease Labs, que iniciou operações em Belo Horizonte (MG) há cinco anos, investe em parcerias produtivas com grandes laboratórios, como o Aché e o Teuto. “Desde o início da comercialização dos nossos produtos em farmácias, em 2023, experimentamos um crescimento acelerado e sustentado. Houve um aumento superior a 300% na demanda no varejo”, revela o co-CEO Gustavo Palhares.
A farmacêutica acompanha todas as etapas da produção do canabidiol, desde o cultivo das sementes na Colômbia, passando pelo processo industrial em Minas Gerais, até a distribuição no varejo.
Outra empresa de porte médio em destaque é a Health Meds, criada em 2020. A companhia fabrica seus produtos nos Estados Unidos, mas a importação é feita pelo próprio paciente, com autorização da Anvisa, enquanto a empresa auxilia nos trâmites e entrega o medicamento diretamente na residência do cliente. “De 2021 a 2024, tivemos um crescimento acumulado (CAGR) de 92%”, enfatiza Leandro Neto, sócio-fundador e diretor de relações internacionais.
Mercado de cannabis e farmacêuticas médias estimulam ecossistema
Além dos números de faturamento, o mercado de cannabis medicinal vem gerando um ecossistema cada vez mais amplo. Thiago Cardoso, chefe de Inteligência e cofundador da consultoria Kaya Mind, destaca que o valor de mercado contabilizado não inclui o faturamento de empresas de serviços auxiliares, como escritórios de advocacia, marketing e logística, que também crescem na esteira do setor. “É um ecossistema que movimenta empregos e mobiliza diferentes segmentos da economia”, observa.
Para 2025, a Kaya Mind projeta nova alta, estimando que o setor movimente cerca de R$ 1 bilhão. Esse cenário reflete não apenas a expansão da oferta e da demanda por medicamentos à base de cannabis, mas também a maturação do mercado brasileiro, que caminha para se consolidar como referência na América Latina.