Farmacêuticas pedem a proibição de alternativas ao Ozempic
Farmácia de manipulação está comercializando medicamento em formato diferente
por Gabriel Noronha em
e atualizado em


Representantes da indústria farmacêutica, capitaneados pelo Sindusfarma, estão reivindicando a suspensão da venda de alternativas ao Ozempic e ao Wegovy nas farmácias de manipulação brasileiras. As informações são da Folha de S. Paulo.
A reclamação contra os medicamentos à base de semaglutida e tirzepatida tem como princípio supostas violações às normas de segurança, patentes e propagandas, detalhadas em uma denúncia enviada pela entidade à Anvisa em maio.
“Os fabricantes dos insumos utilizados nessas cópias alternativas não têm as certificações que a indústria farmacêutica instalada no Brasil precisa ter para poder importar o produto. Eu preciso provar que o meu fornecedor é certificado, mas eles não precisam provar nada”, explica Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma.
Essa concorrência desleal, como classificada pelo executivo, é um indício da incapacidade da Anvisa de fiscalizar a produção e a circulação dos manipulados, na visão do sindicato.
“Eu preciso provar que o meu fornecedor é certificado, mas eles não precisam provar nada”
Nelson Mussolini, presidente do Sindusfarma
Alternativas ao Ozempic são comercializadas em diferentes formatos
Esses fármacos estão disponíveis para compra nos sites de diversas redes de manipulação, em diferentes formatos e concentrações. A maioria está sendo vendida em cápsulas sublinguais, ofertadas em dosagens que vão de 0,5 mg até 14 mg, como disponível no site da Biofarma, por exemplo.
“Constata-se que a compra direta no site da Biofarma e a escolha da miligramagem é opção do comprador e não da prescrição individualizada do médico”, diz um trecho da denúncia.
Inicialmente voltada à personalização e adaptação de tratamentos em caso de necessidade (por fatores como idade, peso, condição de saúde e outras peculiaridades), as farmácias de manipulação tiveram seu foco desviado, de acordo com os representantes do canal farma.
“O Sindusfarma não está se colocando contra as farmácias de manipulação. O que se exige é que tenham as mesmas regras que a indústria farmacêutica precisa seguir”, diz Mussolini.
Corroborando com essa visão, a Interfarma divulgou um estudo que afirma que a quantidade de insumos importados por essas companhias é o suficiente para a fabricação irregular de 4 milhões de unidades da semaglutida e 2 milhões do tirzepatida, ambas com 5 mg. O montante configuraria uma escala de produção industrial, gerenciada por empresas que não detêm as patentes desses fármacos.
“Muitas farmácias de manipulação estão trabalhando com produção em escala e fazendo propagandas totalmente fora dos limites legais”, afirma o Sindusfarma.
Farmácias de manipulação se defendem
Em resposta a reportagem da Folha, a Biofarma diz que não está ciente das denúncias e que tem boas práticas de manipulação. “Produzimos mediante pedido, de forma personalizada. Nunca tivemos nenhum tipo de produto produzido em larga escala, nem capacidade para tal nós temos. Somos uma farmácia pequena”, diz um trecho de seu posicionamento.
A empresa ainda confirma que já trabalhou com a semaglutida, mas afirmou ter retirado o produto de seu catálogo. “Não temos ele [semaglutida] disponível para venda e não pretendemos voltar a comercializá-lo. Inclusive, não existe anúncio dele em nenhuma plataforma da nossa empresa”.
A Formulados Farma, outra empresa citada no texto, diz que suas atividades seguem as normais. “Temos ciência da movimentação de setores da indústria farmacêutica no sentido de restringir a atuação das farmácias de manipulação. No entanto, acreditamos que há espaço para coexistência, desde que todos os segmentos sigam os preceitos legais e éticos”, afirma em nota.