Fórum debate avanços dos biossimilares no Brasil
por Ana Claudia Nagao em
Nesta quinta-feira, dia 4, o Senado Federal recebe o Fórum Biossimilares no Brasil – Avanços Regulatórios e Sustentabilidade no Acesso. Organizado pelo Instituto Brasileiro de Ação Responsável, o evento conta com patrocínio da Organon, Fresenius Kabi e Sandoz, além de apoio da PróGenéricos e da Alanac.
O encontro busca contribuir para a formulação de políticas públicas mais robustas e incentivar o uso estratégico desses medicamentos, ampliando o acesso da população a terapias biológicas antes restritas a um número limitado de pacientes.
Para Clementina Moreira Alves, presidente do Instituto Brasileiro de Ação Responsável, o Fórum representa a consolidação de um debate essencial para o país. “O evento reafirma o compromisso do Instituto em promover discussões qualificadas que impulsionem a saúde pública, a inovação e a sustentabilidade. É um espaço de troca e construção de soluções que impactam diretamente a vida da população”, afirma.
Segundo o diretor executivo da Organon Brasil, Marcel Zetun, o custo dos medicamentos biológicos ampliou a pressão sobre o SUS e os planos de saúde, sobretudo em áreas como oncologia, reumatologia e doenças raras. “A adoção de biossimilares é uma oportunidade para ampliar o acesso a tratamentos complexos, com preços, em média, 30% menores e maior sustentabilidade para o sistema público e suplementar”, explica.
Para o presidente-executivo da PróGenéricos, Tiago de Moraes Vicente, o fortalecimento da discussão é crucial. “Falar sobre biossimilares é fundamental para que a população conheça alternativas seguras, eficazes e acessíveis. O fórum permitirá debater o papel estratégico do setor produtivo e trocar experiências com especialistas que têm impulsionado a evolução desse mercado”, destaca.
“Ver essa pauta ganhar espaço entre parlamentares, Anvisa e Ministério da Saúde reforça o avanço do país rumo a mais inovação, conhecimento e acesso”, completa.
Programação do Fórum Biossimilares no Brasil
O evento reunirá especialistas para analisar desafios, marcos regulatórios e perspectivas de incorporação dos biossimilares ao sistema de saúde. A mediação será feita por Mirna Poliana Furtado de Oliveira, doutora e mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB), farmacêutica da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e assistente parlamentar do Senado Federal.
Entre os palestrantes está Diego Botelho Gaino, especialista em Regulação e Vigilância Sanitária da Anvisa e atualmente na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Ele abordará modelos de precificação de medicamentos biossimilares no Brasil, analisando desafios regulatórios, critérios técnicos e impactos na sustentabilidade do sistema.
Rosane Cuber Guimarães, retora de Qualidade de Bio-Manguinhos/Fiocruz, também integra o painel. Ela traçará um balanço da produção pública e do avanço da autonomia tecnológica nacional.
Primeiro biossimilar brasileiro completa dez anos
Em 2015, o Brasil registrou seu primeiro biossimilar totalmente produzido no país, aprovado pela Anvisa para tratar um quadro hematológico associado à baixa de glóbulos brancos. O marco abriu caminho para ampliar o acesso a terapias de alta complexidade.
Hoje, esses medicamentos – que podem gerar economia superior a 70% – foram reconhecidos como estratégicos pelo governo com a criação do Dia Nacional do Medicamento Biossimilar, em 16 de dezembro.
Os biossimilares são versões de medicamentos biológicos desenvolvidos após o fim da patente do produto original. Com menor custo e a mesma eficácia e segurança, têm potencial para reduzir despesas do SUS e dos planos de saúde, além de ampliar a oferta de tratamentos avançados.
Economia pode chegar a 71% na saúde suplementar
No SUS, uma parceria para desenvolvimento do biossimilar rituximabe aumentou em 47% o número de doses distribuídas e reduziu em 20% os custos ao governo. Na saúde suplementar, a adoção desses medicamentos passou de 39% para 86% em dois anos.Estudo liderado pelo palestrante Valderílio Azevedo, realizado com 63 pacientes atendidos pela Unimed Maringá entre setembro e dezembro de 2023, apontou redução de custos de 55,9% nos 44 casos em que houve substituição do medicamento de referência. Entre os 19 pacientes que já iniciaram tratamento com biossimilares, a economia chegou a 71,1%.
“Há evidências claras de que a substituição por biossimilares gera economias superiores a 50%, como no caso do infliximabe, utilizado no tratamento da Doença de Crohn, que afeta entre 6 e 8 milhões de pessoas no mundo”,[/grifar] afirma Zetun.
Brasil é quarto em ranking mundial
Para Zetun, o país pode avançar mais rapidamente com processos regulatórios mais ágeis. “Com políticas adequadas e união entre governo, setor privado e profissionais de saúde, o Brasil pode aproveitar plenamente os benefícios desses medicamentos. A adoção de biossimilares não é apenas uma questão econômica, mas de equidade e justiça social”, afirma.
O palestrante Rafael Gama destaca que a precificação ainda é um desafio. “Hoje operamos com uma lógica de preço referencial que muitas vezes mantém valores elevados na entrada. Há casos em que o biossimilar chega ao mercado com preço muito próximo ao do originador, o que limita a competição e reduz o impacto esperado em termos de economia”, explica.