A falta da dipirona está sendo um problema em muitos hospitais do país. Usado para tirar febre e dor, o medicamento – que é encontrado em farmácias na forma de comprimidos ou em gotas – é amplamente administrado nos hospitais na versão injetável. O Jornal Hoje mostra os motivos da dificuldade de compra e por quê ele é tão importante.
A escassez do medicamento nos hospitais está ligada a uma questão financeira. O Brasil não produz o analgésico, então ele é importado e apenas envasado no país. Por ser um medicamento controlado, tem o preço limitado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – ligado a vários ministérios e Anvisa.
As empresas farmacêuticas dizem que o custo de importação já supera o valor máximo de venda e a conta não fecha. Por isso avaliam parar de comercializar o remédio.
O laboratório Teuto, que detém mais de 50% do comércio de dipirona injetável no Brasil, comunicou em fevereiro que suspendeu a fabricação do medicamento por tempo indeterminado.
‘Fato chega um momento em que essa defasagem de preço tão forte, é, obriga a empresa a tirar o produto do mercado sob pena dela perder a própria essência da empresa que é trazer lucratividade e se manter viva né’, diz Nelson Mussolini, presidente do Sidusfarma.
‘Fato chega um momento em que essa defasagem de preço tão forte, é, obriga a empresa a tirar o produto do mercado sob pena dela perder a própria essência da empresa que é trazer lucratividade e se manter viva né’, diz Nelson Mussolini, presidente do Sidusfarma.
Uma solução seria tentar substituir a dipirona, mas, segundo especialistas, isso não é fácil.
A presidente do departamento de farmácia da Associação de Medicina Intensiva Brasileira diz que outros analgésicos têm mais efeitos colaterais e não são tão comuns aos profissionais da saúde do país.
‘A gente vai ter dificuldade de manejar dor e febre no ambiente hospitalar e isso é risco sim à saúde, podendo levar a casos de convulsão, de eventos adversos relacionados a medicamento, que pode levar inclusive o paciente a precisar de leito de UTI e outros medicamentos, antídotos, outros insumos bem mais caros e inclusive intubação’, explica Erika Michelle do Nascimento Facundes, presidente do departamento de farmácia da AMIB.
‘A gente vai ter dificuldade de manejar dor e febre no ambiente hospitalar e isso é risco sim à saúde, podendo levar a casos de convulsão, de eventos adversos relacionados a medicamento, que pode levar inclusive o paciente a precisar de leito de UTI e outros medicamentos, antídotos, outros insumos bem mais caros e inclusive intubação’, explica Erika Michelle do Nascimento Facundes, presidente do departamento de farmácia da AMIB.
O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde pede que o governo federal garanta o acesso à dipirona injetável para todos os hospitais. Segundo o órgão, 23 conselhos estaduais relataram no final de fevereiro dificuldade de compra de medicamentos injetáveis, dentre eles a dipirona.
O que está por trás da crise de abastecimento da dipirona afeta também o comércio de outros medicamentos. Isso porque o Brasil produz apenas 5% da matéria prima necessária para a indústria farmacêutica. Ou seja, o país é dependente e tem pouco controle sobre os custos dos insumos importados. Dessa forma, aumenta o risco de pagar caro ou sofrer com desabastecimento.
“Teríamos que ter algum tipo de proteção tarifaria através por exemplo de impostos de importação para proteger a indústria da química fina brasileira contra os produtores indianos e chineses particularmente’, diz Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e ex-presidente da Anvisa.
“Teríamos que ter algum tipo de proteção tarifaria através por exemplo de impostos de importação para proteger a indústria da química fina brasileira contra os produtores indianos e chineses particularmente’, diz Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e ex-presidente da Anvisa.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária informou que existe um pedido de reajuste de preço da dipirona e avalia que é urgente discutir o aprimoramento do atual modelo da regulação, buscando promover o equilíbrio entre os lucros e os preços acessíveis para a sociedade.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que o financiamento dos medicamentos que fazem parte da lista chamada “componente básico da assistência farmacêutica” – da qual a dipirona injetável faz parte – é de responsabilidade da União, de estados, municípios e Distrito Federal.
A pasta afirmou que o repasse federal encontra-se regular, cabendo a estados e municípios a aquisição e a distribuição dos medicamentos.
Mesmo assim, de acordo com a nota, em apoio aos gestores locais, o ministério da Saúde estuda, junto à Anvisa e a representantes das indústrias, a melhor estratégia para solucionar o desabastecimento.
Fonte: G1.Globo