IA nas farmácias avança, mas com retorno ainda limitado
Pesquisa global mostra adoção massiva da tecnologia, mas impõe desafio de transformar experimentação em resultado financeiro sustentável
por Leandro Luize em
A inteligência artificial deixou de ser promessa e já faz parte da rotina de praticamente todas as empresas. Segundo relatório da McKinsey & Company, nove em cada dez organizações no mundo utilizam algum tipo de IA, especialmente em marketing, atendimento ao cliente, desenvolvimento de produtos e operações. No varejo farmacêutico, isso se traduz em chatbots, análises de dados de sell-out, automação de campanhas promocionais, previsão de demanda e até apoio à gestão de estoques.
O paradoxo, no entanto, é evidente. Apenas 39% das empresas afirmam ter obtido impacto financeiro positivo direto com essas iniciativa/grifar]. Para gestores de farmácias, o dado acende um alerta importante. O problema não está na tecnologia em si, mas na forma como ela vem sendo incorporada ao negócio.
A armadilha dos projetos isolados
A pesquisa indica que a maioria das empresas ainda opera esse tecnologia de maneira fragmentada, por meio de projetos-piloto ou soluções pontuais, desconectadas dos processos centrais. No ambiente do canal farma, essa situação fica visível quando a IA é usada apenas para responder clientes no WhatsApp, sem integração com estratégia comercial, política de preços ou gestão de categorias.
“O WhatsApp pode ser uma poderosa ferramenta de relacionamento. Serve para tirar dúvidas, enviar campanhas promocionais e manter o consumidor engajado, muitas vezes com mais impacto do que como canal de venda direta”, enfatiza Eduardo Terra, cofundador do Instituto Retail Think Tank.
O resultado é previsível, com ganhos marginais, difíceis de mensurar e insuficientes para justificar novos investimentos. Empresas que tratam a IA como “ferramenta da moda” tendem a se frustrar rapidamente. Já aquelas que redesenham fluxos de trabalho conseguem extrair valor real da tecnologia.
Pessoas no centro, tecnologia como apoio
Outro ponto de destaque do relatório é o alerta contra a automação excessiva. Delegar totalmente tarefas cognitivas a sistemas inteligentes pode comprometer a qualidade das decisões, especialmente em um setor altamente regulado e sensível como o farmacêutico. Precificação, mix de produtos, relacionamento com pacientes e negociação com fornecedores exigem contexto, julgamento e visão estratégica – atributos essencialmente humanos.
As empresas com melhor desempenho financeiro são aquelas que adotam modelos híbridos, nos quais a IA atua como suporte à decisão, não como substituta das pessoas. Isso vale para o uso de algoritmos na previsão de demanda, que precisam ser validados por quem conhece a realidade da loja, ou para análises de dados que orientam campanhas, mas não eliminam o papel do gestor comercial.