Imunização infantil pode atrasar por falta de vacinas aprovadas


Correspondentes a cerca de um quarto da população brasileira, crianças e adolescentes contam, por ora, com apenas uma vacina contra a Covid-19 aprovada – e, mesmo assim, somente para maiores de 12 anos. Para especialistas em imunização e infectologia, a falta de outros imunizantes pode tornar a cobertura da faixa etária mais lenta. Ao mesmo tempo, eles concordam que mais estudos são necessários antes de liberar vacinas para os menores de idade e que, até lá, é a vacinação dos adultos que vai protegê-los.
Veja também: Pfizer finaliza cronograma de entrega de 17 milhões de doses de vacinas ao Brasil
Na última semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não aprovou o uso da Coronavac para crianças de 3 a 12 anos. Segundo a agência, os dados apresentados pelo Instituto Butantan, que foram colhidos na China, ainda não são o bastante para comprovar a eficácia do imunizante. Por enquanto, apenas a vacina da Pfizer está autorizada para uso em pessoas de 12 a 18 anos, e a Janssen conduz testes no Brasil para solicitar o uso de seu imunizante em menores de idade. Além do Butantan, nenhum outro fabricante, até o momento, solicitou à Anvisa a aplicação de vacinas em menores de 12 anos.
Siga nosso Instagram
Dificuldades. ‘Hoje, as crianças pegam Covid dos pais, e não o contrário. É muito difícil fazer estudo de vacinas contra a Covid-19 em crianças. Com adultos, você vacina uma parte das pessoas com placebo e outra com a vacina e vê a diferença entre casos leves e graves. Mas a infecção é menor em crianças e adolescentes, então, para observar esses efeitos, um grupo muito maior precisaria ser testado’, detalha o pediatra e infectologista Marcelo Otsuka.
Como esse tipo de pesquisa não é viável, o médico explica que os estudos para os mais novos envolvem avaliação dos anticorpos dos vacinados menores de idade. ‘Mas a presença de anticorpos não significa imunidade necessariamente. Com estudos da vida real, como a aplicação da Coronavac em crianças realizada na China, vamos conseguir avaliar melhor a segurança e a eficácia delas’, completa.
Tecnologia da Coronavac é similar à de imunizante da gripe
Novos estudos continuam em desenvolvimento para aprofundar o perfil de segurança dos imunizantes em adolescentes e crianças. O imunologista José Cássio de Moraes, que participou de estratégias de vacinação nacional durante quase cinco décadas, pontua que a tecnologia de desenvolvimento da Coronavac é semelhante à da vacina contra a gripe, já utilizada em crianças a partir dos 6 meses. Ele lembra, porém, que há diferenças.
‘Provavelmente, a Coronavac causaria poucas reações, já que usa vírus inativado. Mas ainda precisamos ver se é efetiva. Na teoria, ela é, mas precisamos de dados. Na epidemia de H1N1, os jovens, e não os idosos, foram o grupo prioritário’, pondera.
Vacinação em adultos é vital para proteger crianças
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, avalia que, no Brasil, a prioridade ainda é acelerar a cobertura vacinal dos adultos – cerca de 25% dos brasileiros completaram o esquema da vacinação até então.
‘Precisamos dobrar o número de vacinados com duas doses com mais de 18 anos. Mesmo com a variante delta, os casos e óbitos de crianças e adolescentes não parecem mais graves. Eles adoecem mais por causa das flexibilizações de atividades e pela baixa cobertura vacinal da população adulta. Protejam seus filhos: tomem vacina’, pontua.
Ao mesmo tempo em que cidades já avançam para a vacinação de menores de 18 anos, o Ministério da Saúde debate a necessidade de uma terceira dose de vacina para idosos. Na perspectiva do imunologista José Cássio de Moraes, a atenção precisa se concentrar nos mais velhos no futuro próximo. ‘Essa discussão precisa ser feita. Deveríamos priorizar os mais expostos, idosos com mais de 80 anos, imunodeprimidos e profissionais de saúde, antes de adolescentes sem comorbidades’, pontua.
O infectologista e pediatra Marcelo Otsuka explica que a vacinação das crianças, quando for possível, será necessária para a proteção dos próprios idosos. ‘Ao longo do tempo, eles têm queda de anticorpos, então podem deixar de ficar imunes tanto pela vacinação quanto pela infecção natural, o que significa que poderão ter infecção grave se o vírus continuar circulando entre as crianças’, diz.
Até a vacinação ser possível para os menores de 12 anos, ele lembra cuidados básicos com o grupo, principalmente na escola: ‘Antes, se a criança estava com o nariz escorrendo, era normal levá-la para a escola, mas isso não deve ser feito mais. Se a família está com Covid-19, a criança não deve ser enviada também, mesmo sem sintomas. As escolas precisam divulgar isso melhor. Hoje, as crianças pegam Covid dos pais’, conclui.
Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) pretende iniciar a vacinação de adolescentes dos 12 aos 17 anos em setembro.
Fonte: O Tempo