Marcas investem em produtos ‘anti-covid’ para combater a pandemia

A pandemia mostrou que a inovação será cada dia mais decisiva para seu negócio. Encurte caminhos, e vá direto ao ponto com o curso Inovação na Prática

Veja também: O desmonte da ciência e da tecnologia. Orçamento desaba 61,5% desde 2016

Ainda em fase de testes está uma tecnologia que pretende filtrar o sangue de pessoas contaminadas para, dessa maneira, tirar de lá o Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19. Quem está por trás da iniciativa é o Defense Advanced Research Projects Agency (Darpa), como é chamada a divisão de pesquisas do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com autorização das agências regulatórias para o uso emergencial em hospitais militares para tratar cerca de 300 pacientes.

Siga nosso Instagram

Chamado de Seraph 100 Microbind, e desenvolvido em parceria com a empresa americana ExThera Medical, o filtro segue a lógica de uma máquina de hemodiálise, responsável por retirar toxinas como a creatinina e a ureia em pacientes com insuficiência renal.

A tecnologia deve seguir em estudos clínicos até outubro deste ano. Os resultados, até agora, têm sido promissores. Segundo o programa 60 Minutes, da emissora CBS, o experimento foi capaz de acabar com a infecção do vírus após um a quatro dias de uso.

Pela tecnologia, o sangue do paciente passa por um dispositivo externo, onde é filtrado, e depois retorna ao corpo. De acordo com a companhia, é possível que o filtro também seja eficaz contra outras patologias, o que pode colaborar com o tratamento de novas doenças no futuro enquanto não houver vacinas e evitar o surgimento de outras pandemias.

Diferentemente dos equipamentos de hemoperfusão – utilizados para ‘limpar o sangue’ – atuais, que removem apenas as moléculas , a novidade promete reduzir a concentração de bactérias , vírus e fungos porque tem minúsculos grânulos que imitam pontos de ligação com os quais os patógenos causadores se ligariam normalmente – células sanguíneas e proteínas ficam intactas.

‘Em doenças respiratórias causadas por vírus, o início da viremia (presença vírus na corrente sanguínea) geralmente anuncia uma doença grave. Portando, a redução dos níveis virais de Covid-19 pode permitir que o sistema imunológico do próprio corpo combata o patógeno mortal’, afirma Lakhmir S. Chawla, médico nefrologista presidente do Conselho Consultivo Científico da ExThera.

Em paralelo aos estudos de tecnologias para retirar o vírus do sangue, startups e empresas tradicionais investem em produtos para eliminar a presença do Sars-CoV-2 do ar ao noso redor.

Um dessas tecnologias é uma espécie de luminária anti-covid que usa luz ultravioleta do tipo C, uma versão filtrada da luz ultravioleta convencional vinda de raios solares que aparentemente não causa danos à pele mesmo com horas de exposição e, de quebra, ainda é capaz de eliminar fungos, bactérias e também vírus em um ambiente.

Chamado de UOVO, o aparelho com design inspirado no formato de um ovo, foi criado pela startup curitibana UOVO Labs, uma spin-off da Quantum Eletrônica, empresa fundada há 45 anos para inovações em sistemas de energia.

A luz ultravioleta destrói a camada protetora e material genético de agentes causadores de doenças, inativando a ação do microrganismo, garantem os fundadores da startup, os empreendedores Marcio Pacheco, Felipe Guerra e Rafael Soares.

Objetos expostos à luz ultravioleta têm 99,99% dos vírus, bactérias, fungos, ácaros e germes de forma geral a que foram expostos inativados. ‘O UOVO é um facilitador da rotina de higiene. Em apenas dois minutos itens como carteiras, brinquedos, óculos, produtos que acabaram de chegar do mercado, entre outros, são descontaminados, garantindo a segurança da família e a redução da contaminação microorganismos no lar, com um eletroportátil de fácil manuseio e que ocupa pouco espaço em casa’, diz Guerra.

UOVO em ação: a venda do eletrodoméstico começou em abril, numa loja virtual da empresa, que espera comercializar 10 mil unidades e faturar 10 milhões de reais em 2021

UOVO em ação: a venda do eletrodoméstico começou em abril, numa loja virtual da empresa, que espera comercializar 10 mil unidades e faturar 10 milhões de reais em 2021 (Divulgação/Divulgação)

A venda do eletrodoméstico começou em abril, num site da própria UOVO. Este ano, a previsão inicial é comercializar 10 mil unidades e em um mercado com pelo menos 10 milhões de residências com potencial para adquirir o produto, esperam os empreendedores.

‘O UOVO tem um potencial enorme e o objetivo é torná-lo um produto que é parte da casa, como qualquer outro eletrodoméstico, que entrega qualidade de vida para as pessoas’ diz Soares. ‘Pretendemos faturar 10 milhões de reais com o produto este ano’, diz Soares.

A corrida por produtos para eliminar o vírus atraiu empresas de outros setores – e em alguns casos as inovações já trouxeram resultados bem palpáveis no faturamento desses negócios. É o caso da Anjo , uma fabricante de tintas fundada em Criciúma, no sul de Santa Catarina, há 35 anos.

Em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina , a Anjo lançou recentemente um verniz chamado Nanoblock que usa nanotecnologia para eliminar bactérias e vírus, incluindo o novo coronavírus. A promessa do produto é de ser eficiente numa porção de superfícies – seja em paredes de imóveis ou em sacolas de supermercado.

‘Hoje as pessoas falam de se proteger, usar máscara, passar álcool em gel, manter distância e não tocar umas nas outras’, diz Filipe Colombo, presidente da Anjo Tintas. ‘Nosso foco aqui é criar produtos capazes de reforçar essa proteção.’

A função das partículas inseridas nesse verniz anticovid é impedir que vírus e bactérias fixem sobre a superfício – e se multipliquem por lá. É uma maneira de impedir a chamada contaminação cruzada, que ocorre quando uma pessoa infectada espalha o vírus ao tocar em embalagens também manuseadas por pessoas sadias na sequência. ‘Não importa quantas pessoas tocaram no produto, pois ele permanecerá protegido de inúmeros riscos à saúde que são invisíveis aos olhos’, diz Colombo.

O lançamento é uma evolução de outros produtos da empresa contra a presença de microorganismos. Em 2013, a Anjo Tintas lançou a tinta Protect Pack, desenvolvida com a promessa de proteger embalagens de qualquer tipo de bactéria, evitando que micróbios e germes entrem em contato com os produtos dentro da embalagem e com os consumidores. Agora, com a Nanoblock, a empresa foi atrás de certificações internacionais para mostrar a eficácia do produto. ‘Há 99,99% de redução de partículas virais na superfície aplicada’, diz Colombo.

O produto deve colaborar com um bom momento da Anjo. Neste ano, a fabricante de tintas espera faturar 700 milhões de reais – 16% acima do resultado de 2020. A tecnologia do Nanoblock deve colaborar com 2% das vendas, diz Colombo. É um resultado nada mau para um lançamento, considerando o portfólio vasto da empresa – são mais de 2.000 itens.

Linha Dux Defender: promessa de ação tripla com eliminação vírus, hidratação da pele e mais segurança em relação ao uso de álcool gel

Linha Dux Defender: promessa de ação tripla com eliminação vírus, hidratação da pele e mais segurança em relação ao uso de álcool gel (Divulgação/Divulgação)

Na fabricante de cosméticos Dux Grupo, de Itupeva, no interior paulista, o lançamento de produtos anti-covid em dezembro de 2020 permitiu quase dobrar o faturamento e a aumentar o quadro de funcionários em 50%.

A empresa investiu numa linha de cremes e sprays chamada Dux Defender. A promessa é de uma função tripla: hidratação da pele, proteção contra vírus (incluindo a Covid-19 e H1N1, causador da gripe), bactérias e germes, além de ser mais seguro que um álcool gel tradicional por não ser inflamável.

Os cremes e sprays agem na pele por até quatro horas, garante Marcelo Spaziani, presidente e um dos fundadores da Dux Grupo, em 2010.

‘A expectativa da empresa é de vender 100.000 unidades de produtos da linha Dux Defender nos canais digitais, no seu próprio e-commerce e nos marketplaces’, diz Spaziani. Aqui e ali a indústria vem se mexendo no combate à pandemia em várias frentes. A torcida é para quem os esforços tragam resultados rápidos.

Fonte: Mundo e Negócio

Justiça Federal proíbe Governo Bolsonaro de promover ‘kit covid’

0

Juíza determina que Governo Bolsonaro pare de veicular qualquer campanha para promover remédios sem eficácia. Decisão também prevê que influenciadores digitais contratados para propagandear “tratamento precoce” se retratem. Extremista defendeu por diversas vezes a hidroxicloroquina, mesmo medicamento não tendo eficácia comprovada contra a covid-19.

Veja também: Na OMS, Queiroga faz apelo por liberação de vacinas contra covid-19

A Justiça Federal em São Paulo proibiu nesta quinta-feira (29/04/2021) que o governo de Jair Bolsonaro faça campanhas, em qualquer meio de comunicação, para promover o chamado ‘tratamento precoce’ contra a covid-19, com medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.

Siga nosso Instagram

Na decisão em primeira instância divulgada nesta sexta-feira, a juíza Ana Lúcia Petri Betto, da 6ª Vara Cível Federal de São Paulo, ordenou que a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) se abstenha de patrocinar propaganda que ‘contenha referências’ a fármacos de eficácia duvidosa no combate ao novo coronavírus, como a cloroquina, defendida publicamente por Bolsonaro inúmeras vezes.

Na decisão, da qual cabe recurso, a juíza também exigiu que os influenciadores digitais contratados pelo governo Bolsonaro para promover o tratamento precoce se retratem nas suas redes sociais. A magistrada atendeu a um pedido, via Ação Civil Pública.

A juíza também impediu que o executivo utilize em suas peças publicitárias expressões como ‘tratamento precoce’ e ‘kit covid’, que abrange uma série de medicamentos anunciados pelo executivo federal como uma espécie de cura para a doença.

Além da cloroquina, também figura nessa lista de medicamentos promovidos pelo governo o vermífugo ivermectina, cuja venda disparou durante a pandemia.

Medicamentos ineficazes contra a covid-19

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomendou que a ivermectina e a hidroxicloroquina não sejam utilizados no tratamento de pacientes com covid-19. Além disso, a própria empresa que desenvolveu a ivermectina nos anos 1980 afirmou que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a covid-19.

Uma metanálise assinada por quase 100 cientistas e publicada na revista Nature concluiu que a hidroxicloroquina está associada a uma maior mortalidade de pacientes com covid-19, e que a cloroquina não apresentou nenhum benefício contra a doença causada pelo coronavírus.

Mesmo assim, o governo brasileiro continua a promover esses medicamentos.

O incentivo de Bolsonaro e do Ministério da Saúde levou a uma explosão no Brasil do consumo de ivermectina e outros medicamentos sem eficácia contra covid-19. Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) mostrou em janeiro que as vendas de hidroxicloroquina duplicaram de 963.596 unidades em 2019 para 2,02 milhões em 2020. Já as vendas da ivermectina cresceram 557%. Segundo levantamento da BBC Brasil. o governo já gastou quase R$ 90 milhões para adquirir carregamentos de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, entre outros medicamentos sem efeito comprovado contra covid-19.

A bula da hidroxicloroquina lista uma série de possíveis efeitos colaterais, como diarreia, náusea, dor abdominal, falta de apetite, constipação, vertigem, tremor, febre, coceira, lesões de pele, entre outros. A fabricante do medicamento adverte, ainda, que a droga deve ser usada com cautela em pacientes com doenças hepáticas ou renais e com problemas cardíacos. Além disso, ele é contraindicado para crianças com menos de seis anos. Mesmo assim, o Ministério da Saúde promoveu seu uso até mesmo em bebês por meio de um aplicativo.

Associação Médica Brasileira é contra ‘kit covid’

O jornal O Estado de S.Paulo compilou no mês passado cinco casos de pacientes que terão de fazer transplante de fígado e pelo menos três mortes por hepatites causadas, aparentemente, pelo uso sem necessidade desses fármacos.

Recentemente, Associação Médica Brasileira (AMB) pediu que seja banida a utilização de ivermectina e outros fármacos sem eficácia comprovada contra a covid-19, num posicionamento contrário ao defendido por Bolsonaro.

‘Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida’, defendeu a AMB em comunicado.

O Tribunal de Contas da União já pediu explicações ao Governo sobre sua decisão de investir em cloroquina e distribuí-la em massa entre os estados do país.

Essa e outras questões, como o atraso na compra das vacinas, serão alguns dos pontos a serem analisados na CPI da pandemia, instaurada essa semana no Senado para investigar ‘omissões’ do Governo de Bolsonaro na gestão da pandemia.

Fonte: Jornal Grande Bahia

Na OMS, Queiroga faz apelo por liberação de vacinas contra covid-19

0

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez um apelo internacional nesta sexta-feira (30) para que governos que tenham doses extras de vacinas, que liberem os imunizantes para acelerar a campanha de vacinação no Brasil.

Veja também: Sem conseguir a compra direta de vacinas, municípios seguem reféns

A manifestação foi feita durante conferência de imprensa com a participação da cúpula da Organização Mundial da Saúde (OMS). Durante o evento, também foi feito um balanço da crise sanitária global.

Siga nosso Instagram

‘Reiteramos nosso apelo àqueles que possuem doses extras de vacinas para que possam compartilhá-las com o Brasil o quanto antes possível, de modo a nos permitir lograr avanços em nossa ampla campanha de vacinação, para conter a fase crítica da pandemia e evitar a proliferação de novas linhagens e variantes do vírus’, disse o ministro.

Sobre a inclusão da vacina russa, Sputnik V, na campanha de imunização do país, Queiroga disse que isso depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), agência reconhecida internacionalmente. Nesta semana, a agência negou a importação da vacina russa. ‘O Brasil tem um marco regulatório estabelecido. A Anvisa tem autonomia e os diretores são técnicos e têm capacidade de resistir às pressões políticos, que são normais’, avaliou.

O ministro lembrou que o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com o colega russo Vladimir Putin para falar sobre o imunizante. ‘Assim que Anvisa aprovar, vai ser incluído’ [no programa nacional de imunizações], afirmou.

Ao fazer um balanço das ações do governo brasileiro durante a pandemia, Queiroga lembrou que há pouco mais de um mês, ao assumir o Ministério da Saúde, se comprometeu em acelerar a vacinação contra o novo coronavírus. Ele ressaltou ainda que o Brasil tem capacidade para vacinar 2,4 milhões de pessoas por dia, mas que a ampliação da vacinação tem esbarrado na falta de vacinas, ainda que a pasta tenha recebido mais imunizantes, com a chegada hoje do primeiro lote da vacina Pfizer ao país.

O ministro da Saúde disse ainda que desde que assumiu a gestão da saúde no país buscou orientar a população brasileira ‘de forma clara’ sobre medidas farmacológicas cientificamente comprovadas, como uso de máscara, lavagem de mãos e distanciamento social.

Sobre a vacinação da população indígena no país, o ministro ressaltou que, considerando a vulnerabilidade desses povos a doenças respiratórias, eles foram priorizados no programa de imunização. ‘Já foram distribuídas doses suficientes para todos os indígenas com mais de 18 anos em territórios indígenas’, disse.

Aos jornalistas e à cúpula da OMS, Queiroga destacou que o Ministério da Saúde está ‘na iminência’ de assinar um contrato com a Pfizer para aquisição de mais 100 milhões de doses de vacina. ‘Temos doses suficientes para o segundo semestre, e é possível garantir que, até o fim de 2021, tenhamos a nossa população inteiramente vacinada.’

Durante o evento, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que a atenção do mundo todo está voltada para a escalada da covid-19 na Índia, mas que outros países estão vivendo transmissão intensa, como o Brasil, um dos mais afetados pela pandemia.

Nesse sentido, Adhanom citou que o Brasil atingiu a marca de 400 mil mortos e destacou que, desde novembro, o país tem crise aguda, incluindo casos, hospitalizações e morte entre jovens. ‘Os casos agora diminuíram por quatro semanas seguidas, entre hospitalizações e mortes. São boas notícias, esperamos que continuem. Mas a pandemia nos ensinou que nenhum país pode baixar a guarda’, afirmou.

Para o diretor da OMS, o Brasil foi bem nas áreas da detecção precoce da doença, telemonitoramento de casos e distribuição de vacinas, com priorização de profissionais da saúde, indígenas e idosos.

Fonte: Jornal do oeste

Sem conseguir a compra direta de vacinas, municípios seguem reféns

0

Vacinas – Quase um quarto dos municípios brasileiros teve de interromper a vacinação contra a covid-19 na últimna semana de abril por falta de imunizantes para a primeira dose. O dado é de um levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que não divulgou o nome das cidades que enfrentam problemas com a falta de doses.

As sete cidades do Aglomerado Urbano de Jundiaí (AUJ) já demonstraram interesse na compra direta de vacinas com os fabricantes, mas esbarram na falta de doses e continuam dependendo da distribuição dos governos estadual e federal. Em sessão extraordinária realizada de maneira on-line no dia 16 de março, a Câmara de Jundiaí aprovou o projeto de lei do prefeito Luiz Fernando Machado (PSDB) que ratificou a entrada do município na Frente Nacional de Prefeitos (FNP) para constituição do Consórcio Nacional de Vacinas das Cidades Brasileiras (CONECTAR).

A aprovação do texto oficializou a adesão de Jundiaí ao Consórcio, que tem como finalidade contribuir para agilizar a imunização da população contra a covid-19 e atender eventuais demandas por medicamentos, equipamentos e insumos necessários. Quase dois meses depois, porém, a compra direta ainda não foi viabilizada.

De acordo com o prefeito Luiz Fernando Machado (PSDB), por parte do município, foram consultados fabricantes de vacinas que já formalizaram acordos com o Ministério da Saúde, com o intuito de agilizar a vacinação em Jundiaí. Outra medida tomada pelo governo municipal foi a adesão ao Consórcio de Municípios do Brasil, para formalizar acordos para compra de vacinas contra covid-19.

“O que as circunstâncias têm mostrado é que efetivar a negociação com laboratórios que produzem alguma vacina apenas através de prefeituras tem sido difícil. Adquirir imunizantes é interesse mundial neste momento”, afirma.

“Temos acompanhado todas as ações relacionadas à vacinação no nosso país, desde o dia 7 de janeiro, quando o governo federal assinou o primeiro contrato com o Butantan. É evidente a necessidade de deixar posições ideológicas e partidárias para unir forças, União, estados e municípios, com um único objetivo de vacinar em massa para restabelecer a normalidade”, avalia o prefeito.

A Prefeitura de Jundiaí conta com R$ 1 milhão indicado em fundo de contingência do município para o uso, em caso de efetivação de compra de vacinas a partir das iniciativas desencadeadas, sejam elas individualizadas ou por meio do consórcio da Frente Nacional dos Prefeitos. Periodicamente é encaminhada cotação do mercado externo em relação à compra, com a variação de preços entre U$ 2 a U$ 44 por dose.

Jundiaí tem toda a infraestrutura necessária para a ampla aplicação de vacinas contra a covid-19, contando com capacidade de armazenagem para mais de 140 mil doses de imunizantes, Plano Municipal de Imunização, com definição de mais de 20 pontos que podem ser usados para a aplicação, além de servidores com expertise em aplicação em massa de vacinas.

Campo Limpo Paulista também faz parte do consórcio regional e deixou a reserva de R$ 1 milhão para a compra das vacinas. Esse valor está separado e não é possível especificar a quantidade a ser comprada antes da definição do laboratório que será feita a compra.

Na opinião do prefeito Luiz Antonio Braz (PSDB), a lentidão no processo das vacinas foi causado pelo governo federal, principalmente por questões políticas, atrasando hoje a imunização da população e dando margem ao surgimento de novas cepas.

“Quanto ao recurso destinado para a compra das vacinas a medida é necessária e deve ser vista como um investimento em saúde, evitando danos maiores. Mas esse valor não precisará ser usado, pois temos a Coronavac e a futura Butanvac [ainda não aprovada pela Anvisa]. Dr. Luiz diz acreditar que o governador paulista João Dória (PSDB) será capaz de manter a vacinação, mesmo com a lentidão registrada na Região.

A Prefeitura de Itupeva diz estar trabalhando em várias frentes para adquirir as vacinas. “Até o momento, vacinamos 10,12% da população com a primeira dose e 5% com a segunda. Sabemos de todos os entraves que envolve a aquisição da vacina e esperamos que o governo federal, através do Ministério da Saúde, encontre rapidamente uma alternativa. De qualquer forma,, asseguramos que, se surgir a possibilidade de compra pelo município, trataremos como prioridade dentro do nosso orçamento”, afirma o Executivo.

Fonte: Jornal de Jundiaí

Leia também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/04/26/fast-track-da-anvisa-acelera-registro-de-medicamentos-de-especialidades/

Impactos da Lei de Proteção de Dados já podem ser notados em farmácias

Farmácias – Aprovada em 2018 e com vigência desde agosto do ano passado, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é colocada em prática a passos lentos no País, segundo especialistas, mas alguns impactos trazidos por ela já podem ser notados dentro de farmácias em Bauru, por exemplo. Isso porque uma lei estadual (n.º17.301), considerada um complemento da norma federal, proibiu as drogarias de exigirem que o cliente forneça o CPF no ato da compra, normalmente solicitado em caso de promoções, sem informá-lo de forma clara sobre a abertura de cadastro ou registro de dados pessoais e de consumo. Para permitir o acesso aos seus dados, consumidores já têm até assinado termos de consentimento em drogarias da cidade.

“A indústria farmacêutica era um dos grandes setores que utilizavam dados de consumo de clientes para a tomada de decisões estratégicas de produção. Agora, esse compartilhamento não pode mais, a não ser que haja um consentimento específico e categórico”, explica Maurício Augusto de Souza Ruiz, advogado presidente da Comissão de Direito Digital da OAB Bauru e vice-presidente do Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia e Inovação.

Segundo ele, o descumprimento da regra estadual pode acarretar em multas que variam de R$ 5 mil a 11 mil às farmácias. “Se você vincula seus dados ao consumo de farmácia, a indústria saberá o que compra e quando compra. Para que haja consentimento, o consumidor precisa saber com quem a farmácia irá compartilha e o motivo”, acrescenta Ruiz.

REFERÊNCIA

A LGPD é considerada um marco por instituir informações pessoais como integrantes do direito de personalidade do individuo. “Os dados passaram a ser vistos como um direito fundamental do ser humano, tal como a imagem e a honra”, acrescenta.

Ela estabelece regras na coleta, tratamento, armazenamento e exclusão de informações como o nome, data de nascimento, nacionalidade, sexo e orientação sexual, dados médicos e bancários. Hoje, quase todos os sites também já têm o aceite obrigatório de cookies de rastreamento. E o perfil da pessoa só é traçado se ela permitir e concordar com a política de processamento de dados.

“O preenchimento de um cadastro é considerado um tratamento de dados. Quando você navega pela Internet, o histórico da navegação também é dado sobre você. Ao clicar três vezes na propaganda de um determinado produto, uma análise mercadológica apontará seu interesse naquele produto e as empresas passarão a oferecer aquele produto mais massificamente”, comenta o advogado e especialista, observando que a lei vale tanto para meios online, como para os offline.

VAZAMENTO

A LGPD visa impedir, por exemplo, o comércio que existia por trás do compartilhamento dessas informações por empresas. “Antes, você fazia um cadastro para ganhar a assinatura de algo e, dia depois, recebia uma ligação de pessoa vendendo um loteamento, por exemplo. A gente não sabia como as empresas armazenariam e para onde iriam os dados”, completa Ruiz.

Em órgãos públicos ou não, os cadastros devem conter cláusulas de armazenamento de dados.

“Todo e qualquer incidente de vazamento de dados, deve ser comunicado obrigatoriamente à Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Caso contrário, o órgão ou empresa estará sujeito à multa de até R$ 50 milhões ou equivalente a 2% do faturamento anual”, comenta. A não comunicação enseja ainda interdição do tratamento de dados pelo estabelecimento, que não poderá mais cadastrar seus clientes.

Embora a lei exista e esteja em vigor, o advogado aponta, contudo, que a fiscalização ainda não ocorre de forma efetiva. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados foi nomeada há cerca de um mês e seria resultado de indicação política.

Fonte: Jornal da Cidade de Bauru Online

Leia também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/04/26/fast-track-da-anvisa-acelera-registro-de-medicamentos-de-especialidades/

‘CPI não vai dar em pizza. Não dá para dar em pizza mais de 400 mil mortes’, diz Omar Aziz

0

O presidente da CPI da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), rebateu hoje as falas de parlamentares governistas de que a comissão “não vai dar em nada”. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) usou a expressão nesta semana em conversa com empresários. Já o presidente Jair Bolsonaro tem dito a apoiadores que não está preocupado com a investigação. “A CPI não vai dar em pizza. Não dá para dar em pizza mais de 400 mil mortes”, enfatizou Aziz.

Para o presidente da CPI, a tentativa do governo de barrar os trabalhos da investigação é um erro estratégico. “Quanto mais rápido a gente apurar, mais rápido essa pauta sai da televisão e dos jornais. Essa CPI está na nossa casa. Todo mundo perdeu alguém na pandemia, não é algo abstrato. A covid não vai acabar com a CPI, o vírus vai continuar contaminando”, avaliou, em entrevista à CNN Brasil.

O senador reforçou que o colegiado tem como principal foco apurar a demora do governo na aquisição de vacinas contra o novo coronavírus. Segundo ele, os ex-ministros da Saúde no governo de Jair Bolsonaro asseguraram que haveria vacinas em quantidade e no momento certo, o que não ocorreu.

“O objeto principal da CPI é a falta da vacina, por que não entramos nos consórcios, por que a gente não assinou com a Pfizer no tempo certo. Nós teríamos hoje uma quantidade muito grande de vacinas. O Brasil tem capacidade de vacinar até 3 milhões de pessoas por dia e aqui em Manaus a vacinação parou por falta de vacina”, afirmou, na entrevista à CNN Brasil. “Pelo andar da carruagem, vamos passar 2021 sem conseguirmos vacinar toda a população acima de 12 anos para termos uma imunização completa”, acrescentou.

Na última quinta-feira (29), em mais uma derrota para o governo, a CPI aprovou a convocação de ex-ministros da Saúde do governo Bolsonaro, entre eles o general Eduardo Pazuello, e do atual chefe da pasta, Marcelo Queiroga, que devem ser ouvidos na semana que vem. Os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, além do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, também foram convocados.

“Com as convocações, teremos muitas respostas para as coisas que a população quer saber. Queremos fazer justiça, e não prejulgamento de ninguém”, reiterou Aziz. “O presidente da Anvisa explicou o motivo de não aprovar a Sputnik somente após a convocação pela CPI”, completou.

Para o senador, um dos motivos para a falta de vacinas foi a falha na interlocução do Ministério das Relações Exteriores com países amigos. “A China é o parceiro comercial que está fornecendo o IFA para produzirmos a Coronavac. E aí vemos atitudes contra o país que está nos fornecendo a vida, porque a vacina é vida. A CPI vai apurar isso”, acrescentou, em referência a ataques de ministros do governo brasileiro ao regime chinês. “Tem muita gente que se diz de direita, mas nem sabe o que é isso”, alfinetou.

Aziz mais uma vez criticou o estímulo ao uso da cloroquina – sem comprovação científica – no tratamento da doença. O senador disse ainda que a CPI também deverá abordar as sequelas deixadas pela covid-19 nos pacientes que já se recuperaram do vírus. “Temos hoje mais 2 milhões de sequelados, que o sistema de saúde não tem condições de atender. São problemas de rins, coronários e cerebrais. Também vamos tratar disso”, concluiu.

Fonte: Folha Vitória

Leia também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/04/26/fast-track-da-anvisa-acelera-registro-de-medicamentos-de-especialidades/

Após veto de Bolsonaro, vacinas brasileiras contra Covid-19 não têm verbas federais para testes

0

Vacinas  – A ButanVac, candidata a vacina contra a Covid-19 pesquisada pelo Instituto Butantan e um consórcio internacional, é uma exceção na trajetória dos estudos brasileiros de imunizantes para conter a pandemia. Enquanto ela aguarda o aval da Anvisa para começar os testes em humanos e, a princípio, não enfrenta dificuldade de financiamento (os valores não são revelados pelo Butantan, ligado ao governo de São Paulo), outros projetos do país dependem de recursos federais que nem sequer sabem se existirão.

O caso mais emblemático é o da Versamune, pesquisada pela USP de Ribeirão Preto e a startup Farmacore, com recursos privados e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Seu pedido para estudos clínicos junto à Anvisa foi protocolado em 25 de março, horas antes do da ButanVac, no dia 26. A candidata acabou ganhando uma coletiva de imprensa feita às pressas pelo ministro Marcos Pontes após o evento do Butantan com o governo de São Paulo.

Desde o final de março, no entanto, os recursos para os estudos em humanos minguaram para a Versamune. Uma emenda no Orçamento que garantiria R$ 200 milhões para isso foi vetada por Bolsonaro na última semana, um dia após o presidente receber Pontes e propagandear o projeto do imunizante em sua live semanal. A Farmacore não comenta o veto nem explica como o projeto seguirá diante desse corte. Em nota, a empresa afirma que continua se preparando para as fases 1 e 2 dos testes em voluntários, que aguardam aprovação da Anvisa para início. Procurado, o ministério não respondeu como manterá o financiamento.

Os R$ 200 milhões são uma espécie de ‘número mágico’ também para dois outros projetos promissores de vacina no país: o da UFMG com a Fiocruz Minas, liderado pelo imunologista Ricardo Gazzinelli, e o da USP em parceria com Unicamp e Unifesp, sob o comando do imunologista Jorge Kalil. Ambos encontraram resultados animadores até agora nos testes com animais e calcularam que precisariam desse valor do governo federal para avançar para os estudos com humanos nos próximos meses. A relação de parceria entre a gestão de Marcos Pontes e esses pesquisadores se dá por meio da Rede Vírus, uma linha de apoio a ideias para combater a pandemia, criada em 2020 pela pasta.

Governo deveria atuar’

O corte nos recursos da Versamune deixou pesquisadores de vacinas contra a Covid-19 no país em alerta. Preocupados com o investimento federal incerto, eles recorrem a outras fontes de financiamento. Na quinta, o projeto da UFMG com a Fiocruz Minas recebeu R$ 30 milhões da Prefeitura de Belo Horizonte para realizar os primeiros testes em humanos. Em nota, a instituição registrou alívio pelo suporte municipal e afirmou que, sem ele, a pesquisa poderia ser paralisada.

– O setor privado é cauteloso com riscos. No mundo todo estes estudos contaram com investimentos do governo. Aqui, o governo deveria atuar mais nessa questão – diz Gazzinelli.

Kalil, que espera começar os estudos em humanos no segundo semestre, diz já ter conversado até com o próprio presidente sobre a importância dos recursos.

– É uma preocupação. Eu cheguei a falar com o presidente Bolsonaro a respeito. Quem me financiou o tempo todo foi a Rede Vírus, e o Ministério da Ciência e Tecnologia está fazendo um esforço grande para conseguir esse dinheiro. Ele tinha conseguido R$ 200 milhões para Ribeirão Preto, e o presidente chegou e vetou. Isso não é um bom sinal, mas a gente está sempre lutando – diz Kalil, que com equipes das três universidades paulistas projeta uma vacina em formato de spray nasal.

17 projetos, pouco recurso

Segundo o Ministério da Saúde, o país tem hoje ao menos 17 vacinas contra a Covid-19 em estudo. O GLOBO procurou todos os grupos responsáveis. ButanVac e Versamune são as únicas que já solicitaram à Anvisa autorização para testes em humanos. A maioria dos projetos, portanto, está na fase de estudos em animais. Se bem-sucedidas, as propostas poderão chegar à fase em humanos nos próximos meses. Todos manifestam preocupação com a falta de recursos para dar esse passo, o mais caro e longo, uma vez que deve envolver milhares de voluntários.

Apesar de vacinas como a CoronaVac, a da Astrazeneca e, mais recentemente, a da Pfizer já estarem disponíveis no Brasil, os cientistas ressaltam a importância da produção nacional. Uma vacina brasileira representa menos custos de importação e compra, além de maior adaptabilidade a variantes locais e disponibilidade de doses, o que pode ser estratégico caso a proteção contra a Covid, assim como a contra a gripe, tenha que acontecer anualmente.

– Precisamos ter o conhecimento para sair do laboratório e chegar na fase clínica. Depois temos o obstáculo de chegar na produção. E vamos precisar de apoio do setor privado para criar indústrias, pois só Butantan e Biomanguinhos não vão dar conta – conclui Emanuel Maltempi, professor de bioquímica que coordena pesquisa de uma nova candidata contra a Covid na UFPR.

O projeto recebeu na última semana um aporte de R$ 700 mil do governo do Paraná mas, para as fases com humanos, necessitará de no mínimo R$ 30 milhões, ainda sem previsão. (O Globo)

Fonte: Folha de Dourados

Leia também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/04/26/fast-track-da-anvisa-acelera-registro-de-medicamentos-de-especialidades/

O embate entre Anvisa e Rússia em torno da vacina Sputnik V

0

Agência brasileira vetou a importação da vacina russa contra a covid-19 apontando, entre outros fatores, a presença de adenovírus replicante. Instituto russo nega, e governadores tentam garantir a compra do imunizante.O desespero de parte da classe política brasileira com o avanço do coronavírus no país, enquanto a campanha de imunização patina pela falta de vacinas, leva representantes de governos estaduais e prefeituras a tentar reverter o veto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) à importação emergencial da Sputnik V, imunizante desenvolvido pelo governo russo.

O Consórcio Nordeste, que reúne nove estados brasileiros e 57 milhões de habitantes, viu frustrada a expectativa de importação emergencial de 37 milhões de doses da vacina russa, mas solicitou uma revisão da decisão técnica da agência com base em novas documentações enviadas pelo Ministério da Saúde da Rússia, na última quinta-feira (29/04). Em conjunto com a demanda dos estados nordestinos, outros cinco estados e grupos de prefeituras também esperam adquirir a Sputnik V, com expectativa de entrada total de 66 milhões de doses no Brasil.

Siga nosso Instagram: https://www.instagram.com/panoramafarmaceutico/

A decisão da Anvisa, tomada por unanimidade pela diretoria da agência no dia 26 de abril, apontou uma série de pontos técnicos não informados e respondidos pelo Instituto Gamaleya, o desenvolvedor da vacina russa. Pelo menos duas constatações da Anvisa causaram apreensão na comunidade científica sobre a segurança da vacina: a presença de impurezas e, mais grave, de adenovírus replicante.

De acordo com a Anvisa, o pedido de importação analisado e rejeitado foi feito por dez estados e envolvia a compra de 29,6 milhões de doses. O Brasil vacinou, até o final de abril, menos de 15% da população com a primeira dose. A desarticulação do governo federal e os constantes atrasos de calendário do Plano Nacional de Imunização (PNI) têm provocado a corrida de gestores públicos do país em busca de alternativas e de ajuda internacional por novas vacinas.

A despeito de a comunidade científica brasileira elogiar os apontamentos feitos pela Anvisa e seu caráter técnico, a decisão intrigou os governadores do Nordeste, que ancoravam-se no fato de a Sputnik V já estar sendo aplicada em 62 países, incluindo México e Argentina.

Três dias após a decisão da Anvisa, o Comitê Científico do Consórcio Nordeste convidou o médico virologista Amilcar Tanuri, titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para uma avaliação independente do caso. Membro da Academia Brasileira de Ciências, biofísico, geneticista e especialista em genética molecular na Universidade de Sussex, Inglaterra, Tanuri tem pesquisas reconhecidas internacionalmente sobre o vírus zika e o HIV.

“Falta de comunicação adequada”

Logo após a negativa da Anvisa, o Instituto Gamaleya, ligado ao Ministério da Saúde russo, enviou um documento de 55 páginas, em inglês, aos técnicos da agência regulatória brasileira. Esse relatório, que rebate ponto a ponto da decisão da Anvisa, contém também resultados de testes clínicos feitos em janeiro deste ano e que, portanto, já poderiam ter sido enviados à agência brasileira.

De acordo com o cientista Amilcar Tanuri, os novos documentos enviados pelo governo russo à Anvisa, na última semana, revelam que os testes clínicos não detectaram nenhum vírus replicante na vacina. Na opinião do professor da UFRJ, o caso parece ser “uma sucessão de enganos por falta de comunicação adequada”. “A Anvisa não conseguiu os dados necessários do Gamaleya. Para uma agência regulatória, vale o que está escrito nos testes”, afirmou à DW Brasil.

Segundo o virologista, parece que parte da confusão reside no fato de que há diferentes padrões utilizados pela agência regulatória dos Estados Unidos, a FDA, que inspira a atuação da Anvisa, e pela agência regulatória russa. A agência russa, explica Tanuri, permite em testes o uso de vírus replicante por dose de vacinas até 30 vezes superior ao limite estabelecido pela FDA. Mas isso é um limite aceitável estabelecido, não significando que os testes da Sputnik V tenham sido feitos com vírus replicantes e tampouco com esse volume máximo autorizado.

Com base nos novos documentos disponibilizados na semana passada, Tanuri fez uma revisão do método de purificação utilizado pela Sputnik V. “Usam a célula correta, que evita o vírus replicante.”

O adenovírus é um carregador que leva o material genético do vírus (no caso o coronavírus) à célula. O adenovírus replicante consegue reter de volta o material genético do vírus e se multiplicar na célula em que está sendo inoculado, o que pode gerar consequências imprevisíveis. Por isso o apontamento da Anvisa foi visto com espanto. “Quando eles analisam lote a lote da produção da vacina, deu zero partículas por teste. Não acharam adenovírus replicante. Mas a Anvisa não tinha essa informação”, conclui Tanuri.

“A nova documentação que os russos mandaram mostra que a vacina fica retida no músculo [em que é injetada], o que diminui o risco sistêmico e é mais uma salvaguarda. Acho que agora os documentos são os necessários para garantir a importação emergencial”, explica Tanuri. Ele ressalta que a Sputnik V fez testes clínicos com 22 mil pessoas, e isso não é um número desprezível.

O professor reconhece que as análises para uso emergencial de uma vacina são muito menos rigorosas do que a rotina normal de avaliação de uma agência regulatória, mas ressalta que não estamos vivendo um momento de normalidade e que “a situação no Brasil é terrível”. Ele observa que, em casos de liberação emergencial, a Anvisa é obrigada a exigir do laboratório um programa de fármaco-vigilância. “Se alguma coisa der errado, suspende-se imediatamente a vacinação. O pior é quando entregam a licença emergencial e depois não verificam mais nada.”

Para aumentar a segurança e resolver o imbróglio, Tanuri sugere que o Consórcio Nordeste se comprometa com a Anvisa e o Supremo Tribunal Federal, por exemplo, a apresentar uma “análise de vírus replicante, microbiologia e contaminantes” de todos os lotes que chegarem ao Brasil. “E aí acabou a história. A Rússia manda, junto com a remessa de doses, essa análise.”

O lado da Anvisa

“As conclusões da Anvisa para o pedido de importação foram tomadas a partir das informações encaminhadas pelo próprio Gamaleya e também confirmadas em reunião com a Anvisa. A Anvisa também se utilizou de informações buscadas junto a outros países e bases científicas”, esclareceu a agência em resposta a questionamentos da DW Brasil.

O laboratório União Química, que fabrica a Sputnik V, fez, no dia 26 de março, segundo a agência, novo pedido de uso emergencial da vacina no Brasil. “Trata-se de um novo pedido, ou seja, um novo processo sem dependência do processo anterior. O pedido de uso emergencial da União Química é independente e separado do pedido de importação feito por alguns estados brasileiros.”

Estados veem componente político

Ex-ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil e coordenador científico do Consórcio Nordeste, Sergio Rezende afirma que os governadores vão insistir na importação emergencial. “O Brasil precisa de muitas vacinas. Recebemos com surpresa a negativa da Anvisa.”

Ele ressaltou que dias após a decisão o Instituto Gamaleya divulgou uma nota explicando os quatro estágios de purificação da vacina, descartando a existência de impurezas no imunizante. Outro documento relevante é a nota técnica de 55 páginas e diversos outros esclarecimentos e testes. “Para o Gamaleya, os argumentos da Anvisa para não autorizar a importação não são justificáveis.”

Veja também: https://panoramafarmaceutico.com.br/2021/05/03/suplementos-alimentares-tem-vendas-30-maiores-no-varejo-farmaceutico/

O ex-ministro reconheceu que a “Anvisa tem um corpo técnico de primeira qualidade”, mas ele pessoalmente considera haver um componente político, de diretores indicados pelo atual governo brasileiro para a agência, para negar a importação.

“Agora a Anvisa está de posse de informação técnica entregue oficialmente pelo Instituto Gamaleya. Espero que corrijam a decisão. Se necessário, podem pedir que façam novos testes. A polarização política não interessa a ninguém. Queremos vacinas. E que a ciência prevaleça.”

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

Fonte: Terra

Mercado de cannabis aquece e já cria disputas no Brasil, escrevem Leticia Provedel e Sinara Travisani

Discussões sobre cannabis medicinal nunca estiveram tão em voga nas esferas públicas e privada da sociedade brasileira. As primeiras medidas regulatórias foram tomadas pela Anvisa com a recente liberação da importação do canabidiol (CBD) para o Brasil.

Veja também: Quebra de patente não traz mais vacina e afasta empresas do exterior, dizem farmacêuticas e juristas

A liberação do comércio e importação de produtos abriu uma porta relevante no âmbito das patentes, onde empresas já se mobilizam para desenvolver tecnologia e patenteá-la para sair à frente no comércio de produtos derivados da cannabis.

Siga nosso Instagram

Desde então, o mercado segue aquecendo -já são quase 100 pedidos de patente no Brasil relacionados à cannabis e/ou fitocanabinoides, sendo 5% deles enviados para o aval da Anvisa.

A resolução da Anvisa, RDC 327, que permitiu o comércio e importação de produtos derivados de cannabis entrou em vigor em março do ano passado e trouxe regras rígidas para o comércio de cannabis, proibindo a distribuição de amostras gratuitas, qualquer tipo de publicidade e uso de marcas em produtos, também limitando a quantidade de THC (tetrahidrocanabidiol), componente responsável pelos efeitos psicoativos e neurotóxicos da maconha, a 0,2% do CDB total do composto.

O curto histórico do comércio de cannabis no Brasil tem capítulos interessantes e já se pode delinear quem serão seus players. Em 2018, a Anvisa concedeu o registro do medicamento Mevatyl, que contém canabinoides em solução oral (spray) e é indicado para o tratamento sintomático da espasticidade moderada a grave relacionada à esclerose múltipla. Foi o primeiro medicamento registrado no país à base de cannabis sativa. O medicamento é fabricado por GW Pharma Limited (Reino Unido), enquanto a detentora do seu registro no Brasil é a empresa Beaufour Ipsen Farmacêutica Ltda., localizada em São Paulo.

O primeiro extrato de canabidiol desenvolvido no Brasil foi aprovado pela Anvisa em 2020 e chegou ao mercado brasileiro no mesmo ano. Diferentemente do medicamento Mevatyl, o produto brasileiro foi registrado como um fitofármaco (fármaco de origem vegetal), sem indicação clínica pré-definida, ou seja, podendo ser receitado para qualquer condição em que o canabidiol seja considerado potencialmente benéfico para o paciente.

No mês passado, surgiu mais um episódio importante no setor de cannabis: o Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) emitiu parecer sugerindo a anulação da patente BR 11 2018 005423 2, de titularidade da Prati, Donaduzzi e da Universidade de São Paulo.

Trata-se de uma composição oral líquida contendo canabidiol (CBD), óleo de milho e excipientes (em especial o antioxidante BHA), cuja patente sofreu 3 pedidos de nulidade administrativa por terceiros. O Inpi analisou os argumentos dos pedidos de nulidade para concluir que a patente foi concedida de forma equivocada, pois o composto ali descrito, a princípio, não trazia atividade inventiva se comparado a uma composição oral líquida similar anterior, também dissolvida em óleo de milho, que já constava de um estudo publicado no Journal of Psychopharmacology sobre os efeitos do canabidiol sobre a ansiedade humana em 1993. O Inpi concluiu, com base nesse documento, que a patente desenvolvida pela Pratti em parceria com a USP não cumpriu com os requisitos de patenteabilidade.

Essas disputas são relevantes de modo a evitar que o mecanismo de patentes preste a monopólios indevidos que possam prejudicar os pacientes que há tempos anseiam tratamento com medicamentos à base de cannabis, mas estão longe do fim. Após decisão final do Inpi sobre a nulidade, o caso ainda será passível de discussão em âmbito judicial.

O próximo e muito esperado capítulo do jogo é a regulamentação do cultivo, que deve ocorrer em breve e sem grandes percalços, pois já está autorizada pela da lei 11.343 de 2006 (íntegra – 780 KB), art. 2º, parágrafo único, e não encontra veto pela Convenção de Viena sobre Substâncias Psicotrópicas da ONU, de 1971, que autorizou o cultivo da cannabis para ‘usos tradicionais’ que tenham evidência histórica, sem referência específica que proíba o cultivo para o uso medicinal, mediante o qual o mercado brasileiro abrirá largo espaço para a produção dessa ‘nova’ commodity.

Fonte: Poder 360

Dia das Mães pode gerar pico de covid em junho ou julho, diz epidemiologista

0

O epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo afirma que caso aconteçam aglomerações no Dia das Mães de 2021, como no Natal de 2020, poderá haver um novo pico da pandemia em junho e julho, no Brasil. A data será comemorada em 9 de maio.

Veja também: Lote de 220 mil doses da vacina do Covax Facility chega ao Brasil

‘O lema é: cumprimente sua mãe à distância em 2021, para ter uma boa festa e um almoço em 2022’, afirma o médico. ‘Se for o repeteco do que aconteceu no Natal, nós vamos ter um pico por volta de junho e julho’, diz.

Siga nosso Instagram

Como o Poder360 já mostrou, o número de casos dispara depois de feriados. Houve alta de 10% dos casos depois de 14 dias do Natal. No Ano Novo o aumento foi ainda maior. Duas semanas depois da virada, os diagnósticos cresceram 51%.

Lotufo explica que é difícil prever como a pandemia se desenvolverá. Diz que, em 2020, parte da comunidade médica esperava que depois de outubro os contágios fossem cair. ‘Mas não é o que está acontecendo’, afirma. Depois de novembro, a covid-19 voltou a se intensificar no país. Em abril de 2021 teve seu mês mais letal.

Abril foi o 1º mês a registrar uma média móvel de mortes acima de 3.000. O mês terminou com a média móvel abaixo de 2.500. ‘Nós estamos ficando felizes que caiu de 3.00 para 2.400. Mas o ano passado quando passou de 1.000 a gente ficou absurdamente revoltado. Hoje, a gente já tá considerando 2.000, 2.400 uma vitória’, diz Lotufo.

Leia a entrevista completa:

Chegamos a 400 mil mortos. Quando a pandemia estará controlada no país?

Olha, é cada vez mais difícil a gente comentar sobre isso, porque nós tínhamos, há um ano [em 2020], uma perspectiva que estaríamos tendo um aumento até por volta de outubro, agosto, depois uma redução e teríamos finalizado tudo. Mas não é o que está acontecendo.

Nós estamos aprendendo que determinante maior, é, realmente, o contágio, que é a transmissão.

Nós conseguimos segurar em alguns momentos a transmissão, como fizemos agora aqui em São Paulo por três semanas, mas nós corremos o risco de ter um novo de ressurgimento, porque o número de pessoas ainda com possibilidade de ficar doente é muito grande, é praticamente três quartos da população. Eu gostaria de saber o que vai acontecer no dia das mães, se for o repeteco do que aconteceu pro Natal, nós vamos ter um pico por volta de junho e julho.

A média móvel de mortes parece estar desacelerando nos últimos dias. Em 12 de abril estava acima de 3 mil e agora, no dia 27 de abril, ficou em 2.400. O senhor avalia que o média vai continuar caindo em maio?

Olha, há uma tendência, as mortes são as últimas que aparecem e as últimas que desaparecem. Então nós vamos ter que analisar a questão tanto do contágio quanto dos casos. É realmente uma tendência dela cair agora. Mas nós precisamos ter uma garantia de que nós vamos ter uma redução do número de casos e contágios.

Agora, olha só, nós estamos ficando felizes que caiu de 3.00 para 2.400. Mas o ano passado quando passou de 1.000 a gente ficou absurdamente revoltados. Hoje, a gente já tá considerando 2.000, 2.400 uma vitória.

A queda de mortes que a gente tem visto nos últimos dias a gente pode atribuí-la à vacinação? Quais são os outros fatores?

A vacinação ainda é muito cedo, hoje saiu uma notícia que já mostra uma redução, mas não é isso que está acontecendo porque nós temos um atraso de notificação.

Agora, todos os países, está sendo mostrado que o componente do distanciamento social joga muito mais a favor da redução. E quando não existe, a favor do aumento. A vacina ela entra depois. O ideal é quem nem o Reino Unido e Israel fizeram, é que você faça um lockdown e, ao mesmo tempo, uma vacinação em massa. E com isso você consegue um resultado muito positivo. Vai reduzindo o número de caso pelo contágio e depois praticamente você já tem uma parcela considerável imunizada.

Esse cenário de vacinação em massa ainda parece um pouco distante no brasil, então o que o senhor espera para os próximos meses?

Essa é a grande preocupação, porque nós perdemos o bonde. Ano passado, as primeiras vacinas (Pfizer, Moderna, Johnson, CoronaVac e AstraZeneca) estavam em uma fase em que elas precisavam vender. O Brasil é um mercado muito importante. Somos 220 milhões. Nós teríamos que ter uma vacinação para ao menos 2/3 . Então, os laboratórios estavam interessados e a um preço bom.

E foi aí que o Ministério da Saúde cometeu o pior erro de todos -não só o Ministério da Saúde, está claríssimo que foi da Presidência da República. Porque nós recusamos 70 milhões de doses da Pfizer, outras que estavam sendo acertadas com a Johnson. O Instituto Butantan poderia ter iniciado a produção da CoronaVac. E quando nós começamos a querer entrar no mercado, o mercado já está repleto de compradores.

Agora, com o ressurgimento da pandemia na Índia está piorando por 2 lados. A Índia que é uma produtora [de vacinas] está reduzindo as exportações de lá, e, por outro lado, está competindo com os outros produtos do mercado mundial.

No cenário brasileiro, o que isso significa?

Significa momento muito sombrio. Nós estamos em um momento muito complexo, porque nós temos um limite de vacinas. Hoje nós temos 80% vindo da CoronaVac. O Butantan tem uma capacidade de produção que não chegou no máximo ainda, mas é determinado pela vinda de insumos. E temos os outros 20% que tão sendo feitos pela AstraZeneca via importação ou pela produção em Manguinhos. E muito pouca coisa virá de outras fontes.

Neste cenário, com a vacinação caminhando neste ritmo, pode haver um repique de casos e mortes no inverno?

Uma das coisas que ficou claro é que o coronavírus não tem a predileção do vírus da influenza sazonal. Tanto que nós tivemos um pico em fevereiro. Agora, a preocupação nossa é a coincidência com os picos aí da influência. O ano passado, nós ficamos livres da influência. Nós já estamos na campanha de vacinação, espero que ela seja muito ampla, e que também as medidas de distanciamento social, impeçam que a influenza tenha um impacto. Essa é uma das esperanças que nós temos.

O que pode ser feito hoje para minimizar os efeitos da pandemia?

Olha, eu, eu, é um marco na tecla que nós temos que tomar todas as medidas do distanciamento social possíveis. Utilizando como marcadores por cidades e Estados não a ocupação de leis de UTI. Esse é um critério administrativo, não é critério epidemiológico. Nós temos que nos basear muito no número de casos e também no número de óbitos.

E aí as medidas de distanciamento são necessárias. Eu acho que a experiência de Araraquara precisa ser bem melhor descrita, porque eles conseguiram, primeiro, numa parte radical de lockdown reduzir bastante e agora eles estão fazendo o processo de busca de casos e rastreamento de contactantes que parece ser bastante efetivo.

A marca de 400 mil mortes foi atingida depois de 14 meses de pandemia. O senhor avalia que isso está dentro das projeções?

Quando foi feito o 1º cálculo houve muita discussão sobre o famoso um milhão de mortes. Se nada fosse feito, seria isso mesmo. Mas a questão é que a sociedade trabalhou. Vários Estados trabalharam muito bem. Outros nada bem. Mas, com isso, nós conseguimos conter esse aumento.

Eu acho que nada é inevitável. Nós podemos, sim, controlar, se houver uma disposição política férrea para que isso aconteça. E nós sabemos que isso não irá acontecer.

Como funcionam essas projeções? Como elas são calculadas? E por que algumas parecem funcionar enquanto outras erram bastante?

A gente parte de alguns dados que seriam aqueles de como seria a contaminação e fazemos uma ideia de quanto que nós vamos ter de casos a partir disso e depois, pelo número de mortes, uma letalidade estimada.

Se vocês olharem hoje na Índia, você tem uma [projeção] da Universidade do Washington, a [projeção] do Imperial College e a real que está acontecendo. Você vê que as previsões estão um pouco distantes daquilo que está realmente acontecendo.

Agora tem um outro fator importante que isso é difícil de explicar, mas é o que acontece. No momento que você faz uma previsão, eu chego e falo assim ‘olha, vai ter um milhão de casos’, aquilo leva a um apavoramento ou uma conscientização que as pessoas passam a tomar o devido cuidado e, com isso, a projeção não vai se concretizar.

O Imperial College de Londres projetou que se houver distanciamento social, o Brasil terá 627 mil mortes até o fim da pandemia. O senhor avalia que estamos caminhando nessa direção?

Sem dúvida, estamos chegando muito próximo a isso. Se nós não conseguirmos ter as medidas de distanciamento como necessárias e elas não vão acontecer pela questão política que nós estamos vivenciando. A entrada da vacina vai demorar muito. Nós vamos caminhar pra isso.

O senhor acha que vamos superar esse número?

Eu não sei, mas nós temos uma grande probabilidade de chegar a um número muito próximo a isso, infelizmente.

Quando o senhor avalia que será possível deixar de fazer medidas restritivas, as pessoas deixarem de usar máscara?

Para mim está ficando claro o papel da liderança. Quando existe a liderança que dá o exemplo, que mostra o que tem que ser feito, que mostra sacrifício, que não cria problemas, que não seria o caos, as pessoas tendem a respeitar.

Normalmente, oque você tem: lideranças fazendo ações totalmente contrárias a isso, de uma forma explicita, você gera na população uma sensação de dubiedade, muito grande. É difícil para a população assumir uma ação quando não existe o exemplo das lideranças.

Qual a tendência geral do Brasil? As coisas melhorarem? As coisas piorarem?

Olha, nós estamos agora vivenciando a Comissão Parlamentar de Inquérito da covid. Ela já está tendo um impacto grande. Já está tendo alguns resultados antes mesmo de ser instalada, mas eu acredito que nós vamos ter uma modificação radical em termos do posicionamento por parte do governo federal, do governo do Estado, para que sejam feitas medidas radicais de distanciamento e que a gente consiga ter mais vacinas. Então, meu prognóstico é relativamente sombrio.

E olha que eu tinha uma expectativa que nós íamos conseguir fechar outubro [2020], novembro [2020], praticamente zerando os casos. Quando chegasse por volta de fevereiro [2021] nós íamos ter um contingente muito grande na população já vacinada, Mas nada disso aconteceu.

Como as variantes podem afetar a vacinação e o cenário da pandemia?

As variantes têm uma influência menor. Quem determina tudo é a política geral do país, O que se passou com a Índia nessas últimas semanas, é basicamente o que passo pelo Brasil. Um governo negacionista, eleições em grandes Estados, festas religiosas abertas, sem nenhum tipo de controle, e uma disputa política entre o primeiro-ministro da Índia e o governador da principal província.

Isso daí é o que leva a ter todos os picos epidêmicos. As variantes fazem parte do roteiro, podendo ter uma participação maior ou menor. Mas, se você tiver um controle do contágio muito bom, primeiro as variantes não vão aparecer e se forem importadas elas não vão conseguir se disseminar.

Como o senhor avalia a resistência da Anvisa em liberar as vacinas Sputnik V e Covaxin?

Quando nós estávamos com a vacina da AstraZeneca e da CoronaVac para ser aprovada existia todo um comentário forte de que Anvisa estaria fazendo o jogo do governo federal para não aprovar a CoronaVac.

Eu tive uma surpresa que quando vieram os resultados, o próprio pessoal do Butantã foi fazer uma coletiva, fez um PowerPoint que foi péssimo. Porque ele não pegou a informação devida. E deu a interpretação de que a vacina não teria atingido a eficácia necessária.

Mas o interessante foi que quando a Anvisa pegou o relatório inteiro, leu, olhou, fez a apresentação, ela mostra que sim, aue a análise estatística que foi feita mostrava a eficácia.

Isso me deu uma confiança muito grande neles. Até o próprio Butantan não conseguia ter interpretado positivamente o resultado. E na apresentação da Anvisa ficava muito claro isso daí.

Em relação a essas duas vacinas [Sputnik V e Covaxin], eu acho que o aconteceu que foi pressão política muito grande pela aprovação delas. Existe um lobby muito grande no Congresso para aprovação delas. Principalmente da Covaxin, porque tem o interesse de ser vendido para as clínicas privadas. E isso sempre foi estranho, porque na Índia mesmo o pessoal duvidava dela, porque não tinha a fase três, ainda.

Eu sempre defendi muito a Sputnik, gostei muito da proposta dela, mas aí ela tentou fazer uma produção no Paraná, não conseguiu. Foi fazer uma associação com uma indústria brasileira que não tem tradição na área de biotecnologia. Achei estranho isso daí. Mas daí, virou uma questão muito forte, vários governadores fazendo contratos

Mas o que eu vi, 1º, a visita que eles fizeram pra Índia para a Covaxin, e depois agora para a Sputnik, é que existe um hiato muito grande entre aquilo que você produz experimentalmente, que vai ser aquele produto que você vai usar no ensaio clínico que vai ser aprovado, e aquilo que se torna industrial.

Então, eles mostraram que você tem um recipiente de 5 litros para fazer todas as vacinas para os ensaios clínicos. Mas o recipiente para o industrial começa com mil litros. Com isso, a qualidade se altera e você tem que ter critérios para garantir que elas sejam a mesma coisa. E isso não foi demonstrado na Covaxin.

E na questão da Sputnik é uma coisa mais complicada, porque uma parte do adenovírus não foi devidamente desativado, segundo eles apresentam. E o que nós estamos vendo é pesquisadores de outros países estão concordando com o parecer da Anvisa.

Eu sinto muito, eu gostaria que tivesse uma quantidade imensa de vacinas, que a gente vacinasse o maior número possível de pessoas, mas esse é o fato mesmo que está relatado lá.

A CoronaVac e a vacina da AstraZeneca tem eficácias mais baixas do que a da Pfizer e da Moderna. Isso pode fazer com que a pandemia no Brasil demore mais para desacelerar do que em outros países como o Estados Unidos?

Não necessariamente, porque a eficácia é um dado individual. O que nós temos que pensar é na efetividade, que é o dado coletivo.

A questão não é a vacina, a questão é a campanha de vacinação. Se você tiver uma vacina com uma boa eficácia individual, mas você não consegue fazer uma grande cobertura, o impacto vai ser menor do que numa vacina com menor eficácia que você consiga ter uma boa cobertura. Isso implica em ter uma velocidade muito grande de aplicação.

Fonte: