Medicamento contaminado mata 96 pessoas na Argentina
Fentanil infectado foi distribuído e utilizado em todo o país
por Gabriel Noronha em
e atualizado em


A Argentina enfrenta uma grande crise sanitária: de acordo com o jornal Buenos Aires Herold, 96 pessoas já faleceram após receberem um medicamento contaminado enquanto eram pacientes em diferentes hospitais do país.
O fármaco em questão é o fentanil, um opioide considerado entre 50 e 100 vezes mais potente do que a morfina, utilizado para aliviar as dores de pacientes internados por condições médicas diversas.
Embora o número oficial de mortes ainda seja 87, uma fonte judicial informou ao jornal argentino que outros nove óbitos em investigação ser incluídos no total.
Dois lotes do medicamento contaminado foram encontrados por agência
A Anmat, agência reguladora de medicamentos da Argentina (equivalente a Anvisa no Brasil), investigou a origem das contaminações e identificou a presença das bactérias Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii em pacientes e ampolas, rastreando a origem até a farmacêutica HLB Pharma e o Laboratório Ramallo.
A agência concluiu que dois lotes produzidos pelas companhias estavam contaminados, constatando ainda que um deles foi “amplamente distribuído”.
Em entrevista, o proprietário da HLB, Ariel García Furfaro, negou relação direta entre o produto e as mortes, afirmou que a empresa retirou o medicamento de circulação e alegou que, se as ampolas estivessem comprometidas, alguém teria “plantado” as bactérias.
Número de infecções é histórico
Estimativas da Anmat avaliam que mais de 300 mil ampolas infectadas foram distribuídas pelo país, enquanto ao menos 45 mil foram aplicadas antes de sua retirada de circulação. “A Argentina nunca viveu um caso tão grave. É inédito”, declarou Adriana Francese, advogada de quatro familiares das vítimas.
Mesmo após a identificação e a retirada dos lotes contaminados, o número de mortes continua crescendo, à medida que os óbitos de pacientes que receberam o fármaco nos últimos meses são investigados.
A mãe de Renato Nicolini, de 18 anos, hospitalizado após um acidente de carro, relatou à agência de notícias argentina EFE que ele começou a melhorar aos poucos e, no terceiro dia, descobriram que ele estava com pneumonia. “Sua febre não pôde ser controlada e, sete dias depois, ele morreu”, acrescenta. Alejandro Ayala, irmão de outra vítima que faleceu aos 32 anos, complementou que o fentanil contaminado causou a morte deles em poucos dias.
Crise ainda não teve repercussões legais
Até o momento em que essa matéria foi escrita a HLB Pharma não havia sido formalmente processada, embora o juiz Kreplak tenha nomeado 24 pessoas ligadas à produção e à comercialização do fármaco como suspeitas. Todas foram proibidas de deixar o país e tiveram seus bens congelados. O governo argentino segue analisando os lotes contaminados para averiguar quais medidas de controle de qualidade foram aplicadas para poder chegar aos responsáveis.