Muita manchete e pouca notícia no varejo farmacêutico?
Há muitos anos observo um comportamento recorrente entre empresários, não apenas no mercado farmacêutico – a tendência de procurar desculpas para não enfrentar o verdadeiro problema. É como se sempre houvesse um novo “vilão” no horizonte, um agente externo que justifica as dificuldades do presente. É o que costumo chamar de “muita manchete e pouca notícia”.
As manchetes estão em todo lugar: “O Mercado Livre vai começar a vender medicamentos”, “Os supermercados vão dominar o setor farmacêutico”, a inteligência artificial vai acabar com os empregos”.
Essas previsões ocupam espaço nas conversas, nas reuniões e, muitas vezes, na cabeça do empresariado, mas raramente se traduzem em ações concretas.
Enquanto isso, o “monstro” de verdade está logo ao lado. É a farmácia vizinha que já vende mais, atende melhor e entende o cliente com um olhar mais estratégico.
O problema é que olhar demais para o futuro pode ser uma forma disfarçada de fugir do presente. Preocupar-se com o que pode acontecer é importante, mas inútil se você ainda não resolveu o que já está acontecendo. Obviamente, é necessário zelar pelo respeito à legislação e à concorrência leal em situações como as que envolvem marketplaces (Mercado Livre) e supermercados. Porém, de nada adianta gastar energia projetando esses temas se a sua loja ainda não mantém processos estruturados, equipe capacitada, gestão de estoque eficiente e presença digital consistente.
Onde estão os verdadeiros vilões do varejo farmacêutico
Em muitos casos, o “monstro” que ameaça o varejo farmacêutico não está na concorrência. Está na falta de execução, no estoque parado, na falta de cuidado com a vitrine, na abordagem desatenta ao cliente e no desinteresse em entender os dados do próprio negócio. Esses são os vilões silenciosos que consomem energia e resultado todos os dias, mas que quase nunca viram manchete.
Outro ponto importante é que o medo das mudanças – como as novas tecnologias ou a entrada de grandes players – muitas vezes serve de muleta para a inércia. É mais fácil culpar o avanço do mercado do que assumir que a própria empresa não evoluiu.
Inovação e competitividade não são opcionais. Quem espera o cenário perfeito para agir, invariavelmente, fica para trás. O varejo farmacêutico é um setor em transformação. As demandas do consumidor mudaram, a jornada de compra é digital, o cliente está mais bem informado e exige conveniência, preço justo e atendimento humano. Tudo isso já é uma realidade e não algo futuro.
Portanto, a pergunta que o empresário deve se fazer não é “o que vai mudar lá na frente?”, mas sim “o que eu posso mudar agora para ser mais relevante?”. O futuro sempre trará novos desafios, mas a diferença entre quem reclama e quem cresce está em onde cada um escolhe colocar sua energia. Enquanto alguns desperdiçam tempo debatendo o que poderia acontecer, outros estão construindo soluções concretas para o que já acontece.
Esses são os que fortalecem suas marcas, desenvolvem suas equipes e consolidam seus negócios. No fim, “muita manchete e pouca notícia” é um alerta. Não se distraia com o barulho.
As verdadeiras mudanças começam com o que é promovido dentro da sua empresa, com disciplina, propósito e consistência. O futuro, seja ele qual for, sempre será mais favorável para quem escolhe agir no presente.
*Edison Tamascia é presidente da Febrafar e da Farmarcas