O que aprendi na China e o que o Brasil pode (e precisa) aplicar no varejo farmacêutico
Na mais recente edição da VTI, Febrafar conheceu o mercado chinês


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No mês de maio de 2025, a Febrafar realizou mais uma edição da sua Visita Técnica Internacional (VTI). Desta vez, o destino foi a China — local onde já estive recentemente – mesmo assim posso afirmar que essa é uma experiência realmente impactante para todos que se propõe a conhecer esse mercado. A China é mais que uma potência econômica: é uma civilização de milhares de anos, que combina com rara competência tradição milenar, disciplina coletiva e uma ambição tecnológica de tirar o fôlego.
Estivemos em três grandes centros — Shanghai, Shenzhen e Pequim — e visitamos empresas como JD Health, Alibaba Health, WuXi Biologics, Taimi Robotic Technology, entre outras. Mas mais do que conhecer soluções inovadoras, vivemos uma imersão cultural profunda que nos obriga a refletir sobre o nosso próprio modelo de negócio e até sobre a forma como pensamos o papel do varejo farmacêutico no Brasil.
Lição 1: Disciplina e planejamento de longo prazo
A primeira diferença gritante é cultural. Os chineses pensam em séculos, não em mandatos. É uma mentalidade moldada por um senso de continuidade, hierarquia e propósito coletivo. Isso se reflete em tudo: na organização das cidades, na educação, na tecnologia e, claro, no comportamento de consumo.
Enquanto no Brasil ainda discutimos a importância de integrar sistemas ou de acelerar a digitalização, lá isso já é parte natural do ecossistema. A inteligência artificial, por exemplo, não é uma promessa futura — ela já está presente em toda a jornada do consumidor, da triagem clínica à recomendação personalizada de produtos.
Lição 2: O digital como estrutura, não como ferramenta
A integração entre o físico e o digital impressiona. As farmácias chinesas que visitamos funcionam como minicentros de saúde: conectadas a plataformas de dados, com teleatendimento, logística autônoma e automação robótica no ponto de venda. Um simples pedido de medicamento pode acionar uma consulta virtual, uma recomendação preventiva ou até um agendamento de check-up.
No Brasil, ainda vemos o digital como uma ferramenta de marketing ou um “plus” para o consumidor. Na China, ele é a infraestrutura central do varejo.
Lição 3: O coletivo vale mais do que o individual
Ficou ainda mais evidente para mim como o associativismo que defendemos na Febrafar caminha em sintonia com o que o mundo mais avançado já pratica: colaboração, escala, tecnologia compartilhada e inteligência coletiva. A China investe pesadamente nas suas empresas porque sabe que o desenvolvimento do país passa pelo fortalecimento dos seus ecossistemas produtivos. Não há espaço para o improviso ou o individualismo extremo.
Lição 4: Inteligência Artificial já é realidade
A inteligência artificial que vimos por lá está integrada a toda a cadeia de saúde: da triagem em hospitais periféricos até a entrega do medicamento em casa. A IA ajuda a otimizar o atendimento humano, não a substituí-lo. Em vez de debater se ela “vai tirar empregos”, o foco está em como torná-la um suporte estratégico para médicos, farmacêuticos e pacientes. O Brasil precisa sair da inércia e começar a aplicar IA em soluções práticas, inclusive no varejo de saúde.
Lição 5: Aprendizado e humildade
É impossível andar pela China e não se impressionar com a limpeza das ruas, a segurança pública, a disciplina social e a organização urbana. Mais que um país rico, a China é um país que investe no seu povo, nas suas empresas e em infraestrutura de longo prazo. É um lugar onde o governo atua como agente viabilizador do crescimento e onde as empresas crescem porque têm clareza de propósito.
Apesar das diferenças políticas e culturais, há muito o que aprender — com humildade, mas também com orgulho do que já estamos construindo aqui. O interesse das empresas chinesas pelo nosso modelo associativista mostra que temos valor e que há espaço para colaboração global.
Assinamos um acordo de cooperação histórica
Em Pequim, tivemos a honra de sermos recebidos oficialmente pelo governo chinês e de assinar um acordo de colaboração com empresas locais. Isso marca uma nova etapa para o varejo farmacêutico brasileiro: uma etapa de intercâmbio de tecnologias, conhecimento e estratégias de inovação.
O que trouxemos na bagagem não são apenas fotos e cartões de visita. Trouxemos uma visão de futuro. A China não é só um modelo tecnológico — é um espelho que revela onde podemos chegar, se tivermos a coragem de mudar o modelo mental, investir em estrutura e confiar no poder do coletivo.
A Febrafar segue comprometida em construir essas pontes. Porque o futuro do varejo farmacêutico não será apenas digital ou automatizado — será colaborativo, preditivo, integrado e, sobretudo, humano.